Israel e o grupo terrorista palestino Hamas deram início ao cumprimento do acordo e suspenderam os combates na Faixa de Gaza às 7h desta sexta-feira (2h no horário de Brasília).
O cessar-fogo é uma das disposições do primeiro grande pacto firmado entre os dois desde que passaram a se enfrentar, cerca de um mês e meio atrás.
A cláusula que motivou as negociações, a libertação de reféns pelo Hamas, está prevista para as 10h (16h em Brasília), no entanto —é nesse horário que deve ocorrer a saída do primeiro grupo de indivíduos sequestrados de Gaza em direção ao Egito, por meio da passagem de Rafah.
Nos três dias seguintes —período em que a trégua segue em vigor— mais três grupos formados por de 12 a 13 mulheres e menores de 19 anos devem fazer o mesmo percurso, cada um em um dia diferente.
O plano é que eles sejam primeiro entregues pelos terroristas ao Crescente Vermelho, versão para o mundo islâmico da Cruz Vermelha, e então encaminhados para as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) para que sejam devolvidos às suas famílias.
Assim, espera-se que, ao fim do cessar-fogo de quatro dias, tenham sido libertadas ao menos 50 do total de 240 pessoas sequestradas pelo Hamas em sua incursão brutal ao território israelense de 7 de outubro, que deixou 1.200 mortos e serviu de estopim para o atual conflito.
O número de libertados pode ser ainda maior, uma vez que Tel Aviv estabeleceu que estenderia a trégua por mais 24 horas a cada novo grupo de dez reféns soltos pelos terroristas.
A contrapartida para a libertação dos reféns é a soltura de 150 mulheres e menores de 18 anos palestinos atualmente detidos em presídios israelenses. Muitos deles foram presos sem julgamento prévio, e por crimes menos graves, como arremessar pedras contra soldados israelenses, fabricar explosivos, causar danos a propriedades e manter contatos com organizações hostis. Além disso, nenhum deles é acusado de homicídio.
Esses não são os únicos termos do acordo. Outro deles, anunciado pelo Hamas, é a suspensão do tráfego aéreo israelense sobre o norte de Gaza das 10h às 16h no horário local (5h às 11h em Brasília), e a interrupção total de voos sobre o sul no período.
Moradores de cidades da região se dizem aliviados com a perspectiva de não conviver com bombardeios frequentes, mesmo que por alguns dias. Desde que o Exército israelense iniciou sua ofensiva na faixa, no próprio 7 de outubro, mais de 14,8 mil palestinos morreram de acordo com os cálculos do Ministério de Saúde de Gaza, a maioria deles civis.
Nos termos do acordos, o Hamas afirmou que vai permitir novamente a circulação de pessoas pela rua Salah Al-Din, principal caminho usado pelos palestinos para ir para o sul de Gaza desde que Israel estabelecer um ultimato para o esvaziamento da porção norte da faixa.
Outras cláusulas incluem a permissão para passagem de 200 caminhões de ajuda humanitária e 4 de combustível por dia para Gaza, em uma tentativa de aliviar a crise vivida pela população local, que está quase sem comida e carece de atendimento médico. E a permissão para que a Cruz Vermelha verifique a situação dos reféns que seguem detidos em Gaza sob o Hamas.
Toda a operação será monitorada de Doha, capital do Qatar. O país foi o principal articulador do acordo, que contou ainda com as participações dos Estados Unidos e do Egito, e mantém linhas diretas de comunicação com Israel, lideranças políticas do Hamas e a Cruz Vermelha.
Antes do acordo, apenas outras quatro pessoas tinham sido libertadas pelo Hamas, também após mediação qatari. Em 20 de outubro, duas mulheres americanas foram soltas. Depois, no dia 23, foi a vez de mais duas mulheres, ambas israelenses idosas.
As negociações pela libertação de reféns têm sido foco de tensão para o governo de Binyamin Netanyahu desde o início do conflito. Manifestantes pressionam o premiê em atos quase diários que exigem mais esforços pela soltura das vítimas, acusando-o de deixar o tema em segundo plano.