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Análise: Israel ganha tempo com trégua, mas pressão segue – 21/11/2023 – Mundo

Na segunda-feira retrasada (13), o chanceler israelense, Eli Cohen, havia estimado um prazo de duas a três semanas para que a pressão internacional para que Tel Aviv suspendesse suas operações militares na Faixa de Gaza se tornasse notável.

Se não jogava para a plateia, Cohen errou ao menos por uma semana. No 46º dia da guerra em retaliação pelo brutal ataque do Hamas de 7 de outubro, Israel e o grupo terrorista palestino cederam e chegaram a um acordo para uma trégua de quatro dias.

No pacote aprovado por Tel Aviv na madrugada do 47º dia, foi acertada a libertação de 50 dos 236 reféns registrados por Israel. Para cada solto, segundo informações iniciais, três prisioneiros palestinos deixarão cadeias de Israel —o número foi de 1 israelense para 1.027 árabes quando o soldado Gilat Shalit foi solto pelo Hamas em 2011, após cinco anos de cativeiro.

Há muita coisa que pode dar errado, por óbvio, não menos a instável segurança na fronteira norte —aliado do Hamas, o Hezbollah libanês não é partícipe ativo do acordo, mas também não está buscando uma guerra aberta contra Israel.

Ambos os lados cederam por motivos diferentes. O Hamas está sendo obliterado. Mas precisa respirar para poder sobreviver politicamente, até porque o mediador Qatar protege sua liderança, que tem passe livre em locais como a Turquia, que é um membro da aliança militar liderada pelos Estados Unidos, para complicar tudo.

Em solo, contudo, a destruição da infraestrutura do grupo é enorme, ainda que ele mantenha capacidade de lançar foguetes de forma limitada e possa liderar uma campanha terrorista a partir da Cisjordânia, onde tem células ora sob ataque do governo de Binyamin Netanyahu.

Até por sua posição de força, contudo, é Israel quem cede mais. O faz porque a pressão internacional foi subestimada por Cohen em público. Se o rompimento de laços com a África do Sul nesta terça não é uma crise para Tel Aviv, a fala do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Jack Kirby, insinua problemas.

Ele afirmou nesta terça que os EUA só apoiarão a operação terrestre que Israel planeja para a metade sul de Gaza “se houver um plano articulado e claro sobre o que eles irão fazer para proteger as centenas de milhares de pessoas que foram adicionados àquela população, porque elas foram pedidas para deixar [suas casas] por Israel”.

Tel Aviv havia dado um ultimato em 13 de outubro para que os moradores do norte de Gaza, capital homônima inclusa, fossem para o sul. Não parou de bombardear a área, tanto que o Hamas contou dez mortos em Khan Yunis nesta terça, mas sua ação terrestre ocorreu só ao norte.

Na semana passada, o Exército de Israel indicou estar pronto para ir ao sul. A fala de Kirby é um alerta, mas não significa retirada do apoio resoluto que Joe Biden está dando a Israel por motivos maiores, de posicionamento geopolítico.

As ações contra hospitais, que Tel Aviv mostrou com imagens que acobertavam estruturas do Hamas mas agravaram a crise humanitária, apenas pioraram o cerco sobre o Estado judeu. Nesta terça, um ataque próximo da unidade Al-Awda matou 3 profissionais de saúde, 2 deles da ONG Médicos sem Fronteiras. A guerra matou até aqui 1.200 nas mãos do Hamas e 14,1 mil, pela retaliação.

O sul de Gaza virou um campo de refugiados ampliado. A ONU estimou que 1,7 milhão dos 2,3 milhões de moradores da faixa fugiram de suas casas —é presumível que a maioria tentou ir para o sul. As 86 pessoas da nova lista que o Itamaraty enviou para Egito e Israel aprovarem a saída, a maioria palestina, estão todas por lá.

Com a trégua, Israel ganha tempo. Com alguns de seus reféns libertados e outros visitados pela Cruz Vermelha, segundo o acordo, reduz um pouco a pressão da opinião pública doméstica sobre Netanyahu, já amplamente visto como responsável pelas falhas que levaram à tragédia do 7 de outubro.

O premiê disse no início do debate do governo sobre a trégua que a guerra recomeça assim que ela acabar. O ponto de interrogação que fica é sobre qual o rumo que ela tomará.

Fonte: Folha de São Paulo

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