Após um impasse que já se arrasta por dias, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, apelou para que seus pares no poder —o mais à direita da história do país— vote a favor de um acordo com o Hamas que permitiria a libertação de ao menos 50 das cerca de 240 pessoas sequestradas pelo grupo terrorista durante a sua brutal incursão de 7 de outubro.
O pedido se dá em um momento em que o acordo parece mais próximo do que nunca, com a convocação, por Netanyahu, de três reuniões seguidas para tratar do assunto na noite desta terça-feira (21): uma com a cúpula de guerra, outra com nomes ligados à segurança nacional, e, por fim, uma com todo o gabinete instituído a partir do início do conflito, que tem 38 membros.
Segundo o jornal Times of Israel, a expectativa é de que o acordo seja aprovado por ampla maioria. Mas dois partidos de ultradireita —Otzma Yehudit e Sionismo Religioso— adiantaram que votarão contra ele. Em comunicados, eles argumentam que o tratado pode minar o esforço de guerra, além de reduzir de maneira significativa as chances de que os cerca de 190 reféns restantes sejam um dia libertados.
Depois de apresentar a proposta, Netanyahu declarou que aprová-la era uma decisão difícil, mas correta. Além disso, afirmou que ela permitiria a Tel Aviv continuar a perseguir seu objetivo final com os enfrentamentos —exterminar o Hamas.
Os detalhes do plano não foram divulgados até a publicação desta reportagem. À agência de notícias Reuters, um oficial dos Estados Unidos, que vem ajudando a costurar o acordo junto ao Qatar, afirmou, porém, que ele envolve a libertação de 50 reféns mantidos em cativeiro em Gaza, mulheres e crianças em sua maioria, a serem soltos em grupos de 12 a 13 pessoas por dia.
Em troca, o grupo terrorista teria requerido a soltura de 150 mulheres e menores detidos em presídios israelenses, além de um cessar-fogo de quatro a cinco dias para permitir que eles retornassem a seus locais de origem, a maioria deles na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, e a entrada de mais combustível em Gaza por meio da fronteira com o Egito.
Uma vez aprovado pelo gabinete, o tratado deve entrar em vigor em 24 horas, de modo a permitir que apelos contra a soltura de prisioneiros palestinos sejam submetidos à Suprema Corte. Por isso, espera-se que só na manhã da quinta-feira (23) haja a libertação do primeiro grupo de prisioneiros.
A negociação se dá em um momento de pressão crescente sobre Bibi, como o premiê é conhecido, tanto no plano doméstico quanto no internacional. O principal agente dessa pressão do exterior é os EUA —o primeiro-ministro agradeceu ao país nesta terça, afirmando que ele ajudou a aumentar o número de reféns e diminuir as concessões ao Hamas no texto final do acordo.
Internamente, os protestos que acusam Netanyahu e seu governo de colocar a situação dos reféns em segundo plano também vêm se intensificando. Nesta terça, dezenas de cidadãos se reuniram ao redor do prédio do Ministério da Defesa em Tel Aviv tocando tambores e entoando: “o tempo está acabando, tragam todos eles de volta!”.
Antes, no fim de semana, familiares de pessoas sequestradas entraram em Jerusalém, sede administrativa do país, após uma marcha de cinco dias partindo da capital, Tel Aviv. Alguns deles chegaram a se reunir com Netanyahu e outros membros do gabinete de guerra na segunda-feira à noite.
Qadura Fares, líder da Comissão para Prisioneiros da Autoridade Nacional Palestina (ANP) — espécie de governo de transição para um inexistente Estado palestino— afirmou não ter visto a lista de palestinos presos por Israel que seriam soltos de acordo com o trato.
Segundo ele, há mais de 7.800 palestinos presos em Israel, incluindo 85 mulheres e 350 menores de idade. Fares diz que a maioria deles não participou de ataques orquestrados por facções e foi detida por jogar pedras em soldados israelenses, por exemplo.
“Esse acordo chamou a atenção para a questão da detenção arbitrária de menores palestinos”, disse o líder. “O mundo precisa saber que Israel detém menores e os usa como alvos sistematicamente.”
Quatro reféns haviam sido libertadas pelo Hamas antes do acordo mais recente, também após mediação do Qatar. Em 20 de outubro, duas mulheres americanas foram soltas. Depois, no dia 23, mais duas mulheres, as primeiras israelenses, foram libertadas.