O movimento unificado de entidades de esquerda em favor da causa palestina tenta se desvincular do apoio ao Hamas dado pelo Partido da Causa Operária (PCO) em atos contrários às ações de Israel na guerra na Faixa da Gaza.
A legenda minoritária, junto de suas cores vermelhas e da bandeira palestina, tem portado camisetas e símbolos do grupo terrorista, chamado pela sigla de “movimento de resistência islâmica”, em manifestações desde o início do conflito, no dia 7 de outubro. Nessa data, integrantes do Hamas invadiram Israel e assassinaram 1.200 pessoas, muitas delas civis, de acordo com Tel Aviv, cuja resposta deixou mais de 12 mil mortos em Gaza, segundo autoridades locais vinculadas ao Hamas.
Nesta sexta-feira (17), o sexto ato da união de entidades pró-Palestina desde o começo da guerra aconteceu pela primeira vez em frente ao consulado de Israel, em São Paulo, pela manhã. Segundo os organizadores, 150 pessoas estiveram presentes. Outras manifestações maiores, que reuniram milhares, de acordo com a organização, ocorreram em locais como a avenida Paulista.
Alguns dos participantes do ato em frente ao consulado levantavam bandeiras e usavam símbolos do Hamas. O PCO montou uma mesa com venda de camisetas e itens em favor da Palestina, livros, como o “Manifesto do Partido Comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels, e materiais do partido. A sigla também saudou a presença das cores do grupo terrorista no ato em suas redes sociais, com fotos e vídeos.
No início do conflito no Oriente Médio, o PCO publicou nas redes sociais que estava “1.000% com o Hamas. Sem poréns e sem conversa fiada”, e chama Israel de “Estado nazista”.
“Os movimentos populares comunicam que tem sido recorrente a tentativa do agrupamento PCO de desviar as pautas do movimento unificado”, afirmam as entidades, em nota. “Portando bandeiras do Hamas, eles têm confundido a opinião pública, mas este grupo não representa o movimento unificado que convoca o ato desta sexta.”
O grupo cobra um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, a entrada de ajuda humanitária no território e o julgamento de crimes de guerra que teriam sido cometidos por Israel pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Além disso, as entidades pedem um embargo militar e sanções econômicas contra Tel Aviv e exigem a revogação de acordos de cooperação do Brasil com o Estado judeu, especialmente na área de segurança. Não há, no entanto, condenação ou qualquer menção ao Hamas.
Compõem o movimento unificado em solidariedade ao povo palestino partidos e organizações como: PC do B, PT, PSTU, PSOL-MES, PSB, MST, UNE, CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), CUT (Central Única dos Trabalhadores), CSP-Conlutas, Frente em Defesa do Povo Palestino, Frente Progressista Árabe, Fórum Palestino Brasileiro e ao menos mais 15 entidades.
A condenação explícita das ações do Hamas tem divido partidos e movimentos de esquerda, historicamente próximos da causa palestina, e se tornou tema incômodo ao governo Lula (PT) nas semanas que se seguiram ao início do conflito atual.
O presidente condenou os atos da facção extremista logo em suas primeiras declarações, mas demorou a citar o Hamas e a chamar o grupo de terrorista em suas falas —resolução do PT do dia 16 de outubro condenou os ataques, também sem nomear o grupo como terrorista.