Em um debate lotado, é possível identificar quais candidatos são vistos como a maior ameaça —eles se tornam alvos de ataques de seus rivais.
Durante o debate das primárias presidenciais republicanas na última quarta-feira (23), essa pessoa não era Ron DeSantis, que já foi considerado a maior ameaça de Donald Trump, mas sim Vivek Ramaswamy, um novato político de 38 anos com poucas chances reais de garantir a indicação.
Observar o colapso da campanha de DeSantis tem sido um espetáculo extraordinariamente edificante.
Não haveria DeSantis sem Trump. O ex-presidente o endossou na campanha para governador da Flórida quando ele estava lutando contra um forte oponente republicano pela indicação do partido. DeSantis se beneficiou do apoio de Trump e saiu vitorioso.
Por isso, sempre houve algo em sua campanha que tinha um ar de Macbeth vindo matar seu rei. O único problema é que DeSantis tem ambição, mas não tem sede de sangue. Ele não tem coragem, o que é irônico, dado que antes de sua candidatura ele escreveu um livro intitulado “A Coragem de Ser Livre”.
Em vez de argumentar aos eleitores que Trump é inadequado, ele está contando com o martírio do ex-presidente para a sua queda. Sua aposta ainda não deu certo.
Além disso, DeSantis tem um problema crônico de personalidade. Ele simplesmente não se conecta com as pessoas. Ele sorri da mesma forma que um doberman mostra os dentes: parece forçado, agressivo e perigoso. Você sente que deveria se afastar. E quando ele não está forçando um sorriso, ele faz uma careta reflexiva. Ele tem uma expressão facial de desconforto.
Ele não é apenas emocionalmente distante, mas completamente indiferente. Ele se mantém na agressão porque o resto de sua gama de emoções atrofiou ou falhou em se desenvolver. Na verdade, durante a preparação para os debates em 2018, um de seus assessores disse a ele que no palco ele precisaria escrever “SIMPÁTICO” em letras maiúsculas no topo de seu bloco de notas.
Na quarta-feira, DeSantis dispensou esse conselho. Ele se entregou à agressão. Mas ninguém se envolveu. Ninguém nem sequer respondeu. Ele foi amplamente ignorado pelos outros candidatos, e a única coisa que corta mais profundamente do que o desprezo é a indiferença.
Em vez disso, Ramaswamy foi o alvo no palco e aproveitou a atenção.
Desde a ascensão de Barack Obama e a reação pouco elegante dos republicanos a ela, o partido tem se interessado por exotismo. Em 2011, Herman Cain cresceu pelo lado republicano por um tempo. Em 2015, Ben Carson esteve à frente de Trump nas pesquisas por um período.
Eles são o amuse-bouche, o aperitivo saboroso antes de a festa ficar séria e todo mundo sentar para a refeição. Agora é a vez de Ramaswamy.
Chris Christie tentou insultar Ramaswamy dizendo que “a última pessoa em um desses debates que ficou no meio do palco e disse: ‘O que um cara magro com um sobrenome estranho está fazendo aqui’, foi Barack Obama, e tenho medo de que estejamos lidando com o mesmo tipo de amador”.
Ramaswamy encarou a comparação e retrucou: “Me dê um abraço assim como você fez com Obama, e você me ajudará a ser eleito assim como você fez com Obama”.
Sejamos claros: Vivek, você não é Barack. Ele tem uma compreensão superficial dos problemas, mas porque fala rápido e com confiança, com dicção polida e um sorriso largo, a incoerência é disfarçada pela performance. Ramaswamy é o tipo de pessoa que é contratada pelo carisma, não pela competência.
Em alguns momentos, parece óbvio que ele está sendo intencionalmente do contra, extravagante e provocador em suas propostas e pronunciamentos para provocar uma reação e atrair mais atenção. Ao fazer isso, ele é a personificação do caça-cliques.
Ele também se posiciona como inseparável de Trump. Não como um concorrente de Trump, mas como um superfã. Ele não quer substituí-lo; ele quer se fundir com ele. Ramaswamy está tão próximo do ex-presidente que é como o filhote na bolsa de canguru de Trump.
Isso o enche de graça não apenas para os eleitores do empresário, mas também para o próprio Trump, porque não há nada que ele aprecie mais do que devoção e lealdade.
Isso deve ter machucado DeSantis. Ele é consumido por um complexo de classe. Como escreveu em seu livro, era um “garoto da classe trabalhadora”, um católico que ia à igreja todos os domingos, que conseguiu chegar à Ivy League, onde acreditava que seus colegas ricos olhavam para os trabalhadores como não sendo “suficientemente sofisticada”. Ele ainda está lutando para provar que pertence, para provar que sua visão de mundo não é apenas válida, mas superior.
E então vem Ramaswamy, mais rico e mais polido do que ele, para mais uma vez roubar seu brilho, para fazê-lo se sentir pequeno e insignificante.
Houve momentos durante o debate em que Ramaswamy discutiu com Mike Pence e Christie enquanto olhava literalmente para além de DeSantis como se ele não estivesse lá.
DeSantis não fracassou na quarta-feira à noite. Ele não cometeu erros reais. Ele permaneceu focado e apresentou seus pontos com firmeza. Mas o debate lhe transmitiu uma mensagem: sua estrela está se apagando enquanto outra surge.
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