Após meses de incerteza política, o debate de investidura de Pedro Sánchez (PSOE) para um mandato de mais quatro anos como primeiro-ministro ocorre nestas quarta (15) e quinta-feira (16) em Madri, no Congresso dos Deputados da Espanha.
A data foi anunciada na segunda (13) pela presidente do Congresso, a deputada Francina Armengol (Partido Socialista das Ilhas Baleares). A despeito de uma tentativa do Vox de impedir a sessão, o cronograma foi mantido.
Nesta terça (14), o partido ultradireitista pediu ao Tribunal Supremo a suspensão da investidura ao entrar com uma reclamação contra Sánchez e o líder do Junts (Juntos Pela Catalunha), Carles Puigdemont. O Vox os acusa de supostos crimes de suborno, encobrimento ou colaboração com terrorismo, usurpação de funções do Poder Judiciário e negociações proibidas a funcionários públicos.
Já o conservador Partido Popular conseguiu alterar uma lei no Senado que atrasará a proposição da lei da anistia, resultado do acordo entre o PSOE e o Junts que entregou a Sánchez os sete votos que lhe faltavam para obter a reeleição na Espanha.
À revelia dessas movimentações, Sánchez poderá ser eleito na quinta-feira (16) ou, se não atingir a maioria absoluta de 176 votos, no sábado (18), caso atinja uma maioria simples, contando abstenções. Se ele não se eleger, novas eleições gerais deverão ser convocadas para 14 de janeiro.
Espera-se, no entanto, que o socialista conquiste 179 dos 350 votos possíveis, resultado de intensas negociações com aliados e adversários.
Sánchez conseguiu a promessa de “sim” de todos os partidos com representação no Congresso, com exceção do PP (137 cadeiras), do Vox (33) e da União do Povo Navarro (um deputado), que deverão somar 171 “não”.
O ritual se inicia na manhã desta quarta com Sánchez apresentando seu programa. Os partidos, então, às vezes em blocos, terão intervenções de 30 minutos cada um para replicar a proposta de governo. O premiê responderá a cada um, e os partidos ainda poderão fazer contrarréplicas.
Na quinta-feira, após a conclusão do bloco de intervenções e réplicas, será realizada a primeira, e provavelmente a última, votação.
Vários matizes da direita espanhola, inconformados, foram às ruas na última semana para protestar contra o PSOE e, principalmente, contra a anistia concedida aos políticos que foram presos e sofrem processos após proclamarem a independência da Catalunha sem respaldo legal em 2017.
Por várias noites seguidas, o Vox convocou militantes de seu braço juvenil, chamado Revuelta, para protestar em frente à sede do PSOE no centro de Madri. Outras organizações ligadas à extrema-direita também compareceram e atiraram objetos na polícia.
Na terça-feira (7), por exemplo, quando 7.000 pessoas se reuniram no local, 29 policiais e 10 manifestantes foram feridos. Já no domingo (12), foi a vez de o PP convocar manifestações em 52 cidades, sendo que, em Madri, o partido chegou a falar no comparecimento de até 1 milhão de pessoas, número que o governo declarou ser de 80 mil.
O caminho para mais quatro anos de Pedro Sánchez no comando da Espanha começou de modo surpreendente em 28 de maio, quando ocorreram eleições regionais para 8.135 prefeituras e para Parlamentos da maioria das províncias. O resultado, francamente favorável à direita, assustou os socialistas.
Político ousado, Sánchez deu um passo que muitos de seus aliados não compreenderam. Antecipou em quatro meses as eleições gerais que aconteceriam no fim deste ano e as marcou para o 23 de junho.
“Embora as votações deste domingo tivessem alcance municipal e regional, o significado da votação transmite uma mensagem que vai mais longe. E é por isso que, como primeiro-ministro, e também como secretário-geral do Partido Socialista, assumo a responsabilidade pelos resultados e creio ser necessário dar uma resposta e submeter o nosso mandato democrático à vontade popular”, disse, já na manhã seguinte àquela eleição.
Em 23 de junho, a direita venceu novamente, desta vez para formar um Congresso de Deputados mais conservador e, teoricamente, eleger um primeiro-ministro para substituir Sánchez. Despontou ali Alberto Nuñez Feijóo, do PP, que, caso eleito, prometia um revogaço das políticas esquerdistas de Sánchez.
Apesar de ter mais votos, Feijóo não conseguiu maioria no Congresso e, em 27 e 29 de setembro, o conservador perdeu a votação após os debates de sua investidura. Abriu, assim, caminho, para uma tentativa de Sánchez. Que agora será realizada.