Conhecido como um dos mais tecnológicos e poderosos Exércitos do mundo, as Forças de Defesa de Israel recorreram a uma lição simples aprendida a duras penas pelos russos nos campos de batalha da Ucrânia em sua operação para tentar destruir o Hamas na Faixa de Gaza.
Trata-se do emprego de toscas gaiolas e grades de proteção contra ataques de drones, colocadas de forma improvisada sobre a torre dos tanques pesados Merkava que opera na sua guerra contra os terroristas que deflagraram o mega-ataque de 7 de outubro.
Elas ainda não são onipresentes, mas se veem aqui e ali. Talvez a degradação mais rápida das forças do Hamas, em comparação com os reforços ocidentais que mantêm Kiev no jogo na guerra, não obrigue uma adaptação mais ampla da frota de 400 Merkava Mk4 e 700 outros modelos mais antigos, muitos em uso no conflito.
Mas parece inevitável que ela virá. Vídeos divulgados pelo Hamas sobre o ataque que mudou a história de Israel mostravam pequenos drones jogando granadas e munição improvisada sobre blindados israelenses estacionados despreocupadamente perto da fronteira de Gaza.
Ao menos quatro Merkava foram perdidos naquele dia, embora seja incerto quantos foram desabilitados por drones.
É irrelevante, dado que aparelhos remotos são uma realidade desde a guerra de 2020 entre Armênia e Azerbaijão, na qual modelos turcos de reconhecimento e ataque deram vantagem decisiva a Baku. Na edição 2023 da feira militar anual promovida pelo Exército em Moscou, a maior fabricante de tanques do mundo, a Uralvagonzavod, apresentou sua linha estrelada pelo T-90 e pelo novo T-14 já com a grade opcional.
Ela serve também contra as chamadas munições ociosas, pequenos drones suicidas como o russo Lancet, que tem trazido dor de cabeça aos tanques Leopard-2 alemães a serviço da Ucrânia.
Como tudo na arte da guerra, inovações levam a inovações, e os russos reverteram a vantagem inicial dos ucranianos não só com as grades e gaiolas sobre torres de tanques e blindados, que não são 100% eficazes, mas também com contramedidas eletrônicas cada vez mais sofisticadas.
São as armas antidrones que ou desabilitam seu sistema de guiagem ou os capturam eletronicamente no ar, desviando do alvo ou mesmo permitindo que seja tomados pelo adversário. Algumas dessas também já foram vistas nas imagens dos campos de Gaza. Contra elas, surgiram drones de papelão rudimentares.
O 7 de outubro revelou uma enorme falha no sistema de inteligência militar israelense, cantado em verso e prosa, mas não só. O posicionamento imediato de obuseiros autopropulsados lado a lado junto à fronteira do Líbano, para atacar postos do Hezbollah aliado do Hamas, chamou a atenção pela fragilidade tática.
“Parece que os artilheiros, representantes de uma nação que até ontem era considerada líder no desenvolvimento de equipamento não tripulado, não estavam conscientes da existência de munições ociosas, quadricópteros e drones FPV (de reconhecimento)”, disse Ruslan Pukhov, diretor do Centro de Análise de Tecnologias e Estratégias, de Moscou.
A guerra também tem trazido outros detalhes que usualmente passam despercebidos. Um deles é a enorme touca camuflada que os soldados israelenses costumam usar sobre seus capacetes.
Ela foi introduzida nos anos 1990, e é conhecida pelo apelido de Mitznefet, hebraico para turbante, termo segundo o site especializado The War Zone surgido na época em que o sacerdote principal do Templo de Jerusalém, destruído pelos romanos no ano 70, usava tal paramento.
Uma de suas principais funções é disfarçar o formato do capacete, dificultando a vida de franco-atiradores rivais. Há outras, secundárias, como servir de proteção ampliada contra o sol inclemente dos desertos em que os israelenses costumam lutar.
O Mitznefet e similares são mais raros fora de Israel, tendo sido vendido para a Ucrânia em quantidades pequenas —para civis, custam cerca de R$ 150 cada. O braço militar do Hamas, as Brigadas Al-Qassam, já desfilaram com o adereço, mas ele não foi visto ainda em combate em Gaza de seu lado.
Na guerra urbana em curso, vídeos mostram que o Hamas tem lutado não só em uniforme, mas com seus membros vestidos com roupas civis, em oposição aos kits táticos envergados no 7 de outubro. O motivo é serem confundidos com civis, o que leva a duas conclusões óbvias: querem se proteger mais e, se mortos ou feridos, não serem identificados como combatentes ao chegar a hospitais.