Levantamento elaborado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol mostra que 42% dos negros entrevistados já sofreram racismo. Os estados de maior incidência são das regiões Sul e Sudeste: pela ordem, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo. A pesquisa também mostra discriminação religiosa. “Os resultados evidenciam os ambientes mais…
Levantamento elaborado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol mostra que 42% dos negros entrevistados já sofreram racismo. Os estados de maior incidência são das regiões Sul e Sudeste: pela ordem, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo. A pesquisa também mostra discriminação religiosa.
“Os resultados evidenciam os ambientes mais nocivos para a prática, como o estádio (53,9% dos casos) e as redes sociais (31,4% dos casos), mas também alertam para a prática em outros espaços de atuação dos atletas, como centros de treinamento e nas sedes dos clubes (casos denunciados por 11,4% dos participantes), mostrando que a prática é enraizada e demanda atuação em diversos níveis para ser efetivamente combatida”, afirma o Observatório. Confira aqui a íntegra do levantamento.
Debate público
O Levantamento sobre a Diversidade no Futebol Brasileiro é resultado de compromisso firmado pelo Ministério Público Federal (MPF) com a Fisia, detentora dos direitos para comercialização dos produtos da marca Nike no Brasil. Dessa forma, entre julho e agosto, foram ouvidos 508 profissionais, entre atletas e integrantes de comissões técnicas das duas principais séries do futebol – masculino e feminino. E também integrantes da comissão de arbitragem.
Segundo a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro (PRDC-RJ), o objetivo é “fomentar o debate público sobre o tema da diversidade, visando contribuir para a consolidação de uma cultura de paz e respeito no âmbito esportivo”. O acordo foi firmado após abertura de inquérito civil devido a notícia sobre suposta prática discriminatória na customização de camisas da seleção brasileira, em 2022.
“O caso consistiu na vedação da utilização de palavras relacionadas a religiões de matrizes afro-brasileiras (Ogum e Exu) na personalização das camisas, sendo permitido, no entanto, o uso de termos ligados ao cristianismo (Jesus e Cristo). Na ocasião, a Fisia informou que a política de marketing é definida pela Nike Inc., que proíbe customizações das camisas de times e seleções esportivas com palavras ligadas a temas religiosos”, lembra o Ministério Público.
Crença não respeitada
Assim, no aspecto religioso, 52,8% dos entrevistados disseram ser cristãos católicos e 30,91%, evangélicos. Há ainda 4,65% de espíritas, 2,75% adeptos da umbanda e 2,33%, do candomblé, além de 4,23% que declararam não ter religião. O levantamento mostra discriminação explícita entre os praticantes de religiões de matriz africana: 97,25% dos adeptos de candomblé e umbanda disseram não ter sua crença respeitada. O oposto da média geral: 89,64% afirmaram que são respeitados.
Apenas 1% dos homens se declaram homo ou bissexuais, bem abaixo da média nacional estimada, em torno de 8,5%. “Para se ter ideia do cerco psicológico contra pessoas não heterossexuais no futebol, ataques oriundos das próprias torcidas aparece como o segundo principal grupo responsável por ofensas homofóbicas (25%), ficando atrás de somente de torcida rival (36%)”, mostra o estudo.
A pesquisa mostra ainda defasagem da participação feminina no esporte. Apenas 8% dos profissionais que atuam no futebol masculino são mulheres. Já no feminino, 45% dos que trabalham são homens. “Às mulheres, no futebol masculino, restam cargos ligados à comunicação e saúde, o que mostra que, enquanto homens conseguem transitar entre competições masculinas e femininas, o mesmo não ocorre com as mulheres na mesma proporção.”
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