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Brasil deixa cúpula do Brics como mais 1 na festa da China – 25/08/2023 – Igor Patrick

Após muita especulação, os membros do Brics enfim aprovaram a expansão do bloco. Aos cinco sócios atuais juntam-se Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Argentina. A lista, modesta diante das 23 nações que declararam interesse formal em se juntar ao grupo, denota certa cautela em abrir o clube rapidamente, como a China queria, mas não deixa de atender aos interesses de Pequim.

Há quem veja pontos positivos. Com os países do Golfo, por exemplo, o Brics ganha influência na política energética global, além de atrair dois dos principais estados mantenedores do chamado “petrodólar”, que garantem a hegemonia da divisa americana e sua importância para a principal commodity mundial.

O argumento em prol da consolidação do grupo pode até colar. Mas o que os cinco países ganham individualmente? No caso da China, muito. Já no do Brasil, quase nada.

De todos os ângulos, a expansão foi um exercício da influência chinesa. Pequim iniciou o debate para a entrada de novos membros, proposta que inicialmente encontrou resistência em Brasília e Nova Déli.

Brasil e Índia não eram tão fãs da ideia por motivos óbvios. O Norte Global, quando não trata o Brics com absoluta indiferença, tende a considerar o grupo um clube anti-Ocidente. É uma narrativa exagerada que talvez reflita a ansiedade de países cujo poder está em declínio, mas que vem se consolidando graças à invasão da Ucrânia pela Rússia e o subsequente silêncio chinês acerca da transgressão. Os países que se candidataram a entrar no Brics também ajudam a reforçar a impressão: Venezuela, Cuba, Irã…

Diferentemente dos colegas, brasileiros e indianos ainda tentam manter uma relação ao menos cordial com órgãos e países ocidentais. Temia-se que a entrada de membros abertamente hostis ao Ocidente transformasse os Brics em um “movimento dos não alinhados” 2.0, causando fricções desnecessárias e conflitantes com seus respectivos interesses nacionais. Mas os chineses estavam ávidos.

Quem esteve envolvido nas tratativas afirma que a proposta inicial envolvia a inclusão de novos membros por meio de votação com maioria simples, não por consenso, como é tradição. Pequim queria aproveitar a oportunidade para reforçar a imagem de líder do mundo em desenvolvimento e de país pragmático interessado em empoderar seus pares e, acima de tudo, usar o Brics como plataforma de promoção de trocas comerciais com moedas locais, reduzindo a força do dólar e o poder de sanções americanas.

A boa notícia é que, no final, a escolha dos novos membros teve de ser decidida em conjunto. A má é que nós, brasileiros, saímos da cúpula na África do Sul com menos relevância e tendo como colegas uma economia falida, notórios violadores dos direitos humanos e países alvos de sanções.

Mesmo a Argentina, a única democracia plena na lista dos novos membros, pode ter sido uma péssima escolha. A dinâmica da política argentina pode fazer com que logo depois de Buenos Aires ser admitida no bloco, o país já tenha interesse em sair. Javier Milei, que lidera a corrida pela Presidência, já deixou claro que não tem interesse em se relacionar com a China. A segunda colocada, Patricia Bullrich, é outra a afirmar que “de forma alguma” deixará que a Argentina se “associe a autoritarismos populistas”.

O prêmio de consolação seria a manifestação pública de apoio chinês à entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, bandeira histórica da diplomacia brasileira. Não aconteceu agora, assim como também não aconteceu quando apoiamos a entrada dos chineses na Organização Mundial do Comércio. De protagonista, o Brasil saiu da África do Sul como mais um convidado da festa organizada por Pequim


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Fonte: Folha de São Paulo

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