O grupo terrorista Hamas anunciou neste domingo (12) que suspendeu as negociações de libertação de reféns após os intensos ataques feitos por Israel na área do Hospital al-Shifa, o principal da Faixa de Gaza. A facção tem em suas mãos 239 pessoas, capturadas no ataque de 7 de outubro que deixou ainda cerca de 1.200 mortos.
A área do Shifa tornou-se alvo de bombardeios cada vez mais intensos nos últimos dias, à medida que as tropas israelenses se aproximam por via terrestre. Tel Aviv afirma que mira membros do Hamas e acusa o grupo de usar o espaço como um centro de comando, colocando em risco a vida de médicos, pacientes e civis ali refugiados —a facção nega.
As operações no Shifa haviam sido suspensas no sábado (11) por falta de combustível. Como resultado, três recém-nascidos morreram dentro de suas incubadoras no hospital, segundo o Ministério da Saúde em Gaza, de um total de 45 internados bebês no local.
Um cirurgião plástico disse que o bombardeio do prédio que abrigava incubadoras os obrigou a colocar bebês prematuros em camas comuns, usando a pouca energia disponível para ligar o sistema de aquecimento. “Sabemos que isso é muito arriscado”, disse Ahmed El Mokhallalati. “Estamos esperando perder mais deles dia após dia.”
Também de dentro do hospital, o porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf al-Qidra, afirmou que o fogo israelense estava “aterrorizando funcionários médicos e civis”.
“Meu filho ficou ferido e não havia um único hospital para onde eu pudesse levá-lo”, disse Ahmed al-Kahlout, que estava fugindo para o sul, seguindo as orientações de Israel, mas temia que nenhum lugar em Gaza fosse seguro.
O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse em entrevista à rede americana NBC News, sem dar detalhes, que Israel ofereceu combustível ao hospital, mas a oferta foi recusada. Acusou ainda o grupo terrorista de querer o combustível para outros fins. “Eles levarão o combustível dos hospitais para seus túneis, para sua máquina de guerra.”
A Organização Mundial da Saúde disse que perdeu contato com o hospital e que estava preocupada com as pessoas presas na instituição. Médico do Hospital Nasser, em Khan Younis, no sul de Gaza, Mohammad Qandil, disse que foi informado por colegas que trabalham no local que ele não está funcionando. “Ninguém pode entrar e ninguém pode sair.”
A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, organização humanitária ligada à Cruz Vermelha, disse que o hospital al-Quds também estava fora de serviço, com a equipe lutando para cuidar dos que já estavam lá e sofrendo com escassez de medicamentos, comida e água.
“O hospital al-Quds foi isolado do mundo nos últimos seis, sete dias. Sem entrada, sem saída”, disse Tommaso Della Longa, porta-voz da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
Pelo menos 80 caminhões de ajuda se deslocaram do Egito para Gaza até a tarde deste domingo (12), segundo fontes relataram à agência Reuters. Mais cedo, a Jordânia disse que havia lançado por paraquedas um segundo lote de suprimentos em um hospital de campanha.
Autoridades palestinas disseram na sexta que 11.078 residentes de Gaza haviam sido mortos em ataques aéreos e de artilharia desde então, cerca de 40% deles crianças.
Agências internacionais de ajuda humanitária afirmam que doenças estão se espalhando entre os evacuados amontoados em escolas e outros abrigos, que sobrevivem com pequenas quantidades de comida e água.
Na Cidade de Gaza, Jamila, 54, que não quis dizer o sobrenome, afirmou que ela e sua família ouvem o barulho dos tanques nas proximidades de casa, além de explosões e trocas de tiros. “Durante o dia, as pessoas tentam procurar itens essenciais, como pão e água, e à noite as pessoas tentam se manter vivas”, disse ela.