Com o alerta ligado, o peronista Sergio Massa reforça as estratégias para angariar eleitores na reta final das eleições da Argentina, que será decidida no próximo dia 19. Ele tem se concentrado em regiões mais populosas do país, em se afastar do kirchnerismo e em usar bem o debate deste domingo (12), segundo membros da campanha.
Depois de surpreender e sair na frente no primeiro turno de outubro, sendo considerado por parte dos analistas como favorito à Presidência naquele momento, o ministro da Economia sentiu os ventos soprarem para o outro lado e viu os números se inclinarem a Javier Milei.
As diferentes pesquisas mostram uma disputa acirrada e variam, ora com vantagem para o peronista, ora para o ultraliberal, mas Milei aparece à frente na maioria delas com leve diferença. Principalmente porque ele atrai a maior parte dos votos de Patricia Bullrich, macrista que representa a direita tradicional e apoiou o ex-adversário após perder no primeiro turno com 23,8% dos votos.
A segunda e última sondagem de segundo turno da AtlasIntel, divulgada nesta sexta (10), por exemplo, mostra um cenário de estabilidade em relação à semana passada, com 52,1% das intenções de voto para Milei e 47,9% para Massa, com margem de erro de um ponto percentual. A empresa foi uma das únicas que captaram a ascensão do ministro desde setembro.
Diante da conjuntura, o peronista vem intensificando os mea-culpa e as tentativas de se desvincular do governo de Alberto Fernández e de Cristina Kirchner, ex-presidente e atual vice, sumidos da campanha há meses. A ligação do candidato com a líder, que acumula alta rejeição, é o elo que une Milei e Bullrich e um dos principais pontos explorados pelo ultraliberal.
“Cristina deixa a função pública, deixa de ser vice-presidente e não terá cargo público. Ela não vai se envolver em nada, assim como não se envolveu este ano no meu trabalho no ministério”, repetiu Massa em entrevista ao canal LN+, do grupo La Nación, na última segunda (6). Ele busca o eleitor de centro frente a um Milei também mais moderado.
Com o mesmo objetivo, na última semana o ministro passou um par de dias em Córdoba, a segunda província mais populosa do país, famosa pelo antikirchnerismo, que preferiu seu rival no primeiro turno. Para se ter ideia, o estado do Centro concentra cerca de 3 milhões de eleitores, e a diferença entre os dois foi de 2 milhões na última votação.
“Massa deve concentrar sua campanha basicamente em três centros eleitorais. Córdoba, que representa um décimo do eleitorado nacional; o Norte, onde há uma leve vantagem para a coalizão peronista que deve ser ampliada; e a província de Buenos Aires, que tem 38% dos eleitores e também deve ter a diferença estirada”, diz Artemio López, diretor da consultora Equis ligado ao kirchnerismo.
O ministro chegou a pedir desculpas aos cordobeses e disse que nos últimos anos a região “lutou pelo seu desenvolvimento e crescimento, muitas vezes sentindo-se isolado, muitas vezes sentindo que do poder central lhe foi dado as costas, muitas vezes sentindo que a relação entre sua contribuição e o que recebia não era equitativa”.
Ali se concentram muitos votos do governador e ex-candidato à Presidência Juan Schiaretti, peronista não kirchnerista que ficou pelo caminho com 6,8% dos votos e decidiu não declarar apoio no segundo turno, para evitar uma crise como a que se instalou na oposição de Macri. “Nós queremos federalismo todos os dias do ano”, rebateu o líder local.
Por fim, para tentar chegar à presidência, Massa também tem se concentrado na preparação para o debate deste domingo, que apesar de não ter sido considerado um fator definidor no primeiro turno, pode ter mais peso num contexto de disputa voto a voto —seu efeito não poderá ser captado pelas pesquisas, vedadas na última semana eleitoral.
O evento desta vez terá um formato mais solto, que se assemelha ao vivido por Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) em 2022, com a possibilidade de os candidatos se movimentarem pelo cenário e se interromperem.
“O debate será fundamental para definir tendências, dada a disparidade de programas de governo absoluta entre os dois”, diz López, para quem a “instabilidade emocional” de Javier Milei pode desencadear episódios “pelo menos bizarros” no enfrentamento proposto pelas regras do programa.
Massa deve focar alguns eixos, segundo o jornal Clarín. Entre eles, trocar programas sociais por programas de emprego; um Estado eficiente e com controle de gastos públicos; uma educação pública de qualidade; e o modelo de segurança que implantou quando foi prefeito de Tigre, cidade colada a Buenos Aires.
Assessorado por uma equipe de cerca de 20 publicitários brasileiros que viajaram à Argentina depois de trabalharem nas campanhas presidenciais de Fernando Haddad e Lula contra Bolsonaro —a primeira derrotada e a segunda, vitoriosa—, ele segue com sua campanha de contraste em relação a Milei, o qual prefere chamar a estratégia de campanha do medo.