Uma noite de protestos violentos em Madri deixou um saldo de ao menos dez manifestantes de ultradireita e 29 policiais feridos, além de sete pessoas detidas. Os anotes, nesta terça-feira (7), eram contrários à anistia de separatistas catalães pela tentativa de independência da Catalunha em 2019.
Há semanas, o governo de Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) tenta costurar esse acordo de anistia com o Junts (Juntos pela Catalunha), de forma a conseguir os votos que faltam para que ele se eleja para um novo mandato de quatro anos como primeiro-ministro da Espanha.
Por volta das 22h (horário local), agentes da polícia de choque entraram em confronto com algumas das cerca de 7.000 pessoas que protestavam em frente à sede do PSOE na capital espanhola. Quando a maior parte dos manifestantes já havia ido embora, um grupo mais radical tentou derrubar cercas, e a polícia interveio.
A maior parte dos feridos foi socorrida no local, e quatro pessoas foram transferidas para hospitais, incluindo um policial, com suspeita de fratura de mão. A polícia deteve cinco homens, uma mulher e apreendeu um adolescente de 17 anos. Antes, parte do grupo havia se dirigido ao Congresso dos Deputados, mas foi convencido pela polícia a retornar.
Estas detenções somam-se a três que foram realizadas na segunda (6), no mesmo local, depois de um ultragrupo —como tem sido chamado pelaa imprensa espanhola— de 200 radicais ter atirado garrafas e cortado as amarras das cercas de segurança da zona próxima à sede do PSOE.
Os manifestantes fazem parte de um novo braço juvenil do partido de ultradireita Vox, liderado por Santiago Abascal. Criado há apenas um mês, o Revuelta foi convocado para os protestos por meio de redes sociais. Outro grupo radical, o coletivo Desokupa, também vem participando dos protestos nesta semana.
Os ânimos no país estão se exaltando conforme se aproxima o 27 de novembro, data limite para que Sánchez tente sua investidura no Congresso. Para se manter no poder, o premiê vai precisar de metade mais um dos votos de 350 deputados. Caso não atinja ao menos 176 votos, novas eleições gerais serão convocadas em janeiro de 2024.
O PSOE informou nesta quarta (8) que, à revelia dos conflitos em Madri, a negociação de anistia com o Junts segue “intensamente” em Bruxelas, na Bélgica —país onde se exilou o líder do Junts, Carles Puigdemont, após a tentativa frustrada de declaração de independência em Barcelona em 2019.
Para adicionar fervura ao tema, o juiz federal Manuel García-Castellón trouxe à baila nesta segunda-feira, após quatro anos, alguns resultados da investigação do Tsunami Democrático, organização que pregava a desobediência civil em 2019, quando houve a tentativa de independência catalã.
O juiz convocou Puigdemont, além da secretária-geral do partido Esquerda Republicana da Catalunha, Marta Rovira, hoje exilada na Suíça, para que compareçam “voluntariamente como réus” em sua corte. Mas não há notícias de que o pedido será atendido.
García-Castellón diz acreditar que os atos do Tsunami Democrático, que feriram ao menos 299 pessoas na época, possam ser classificados de terroristas. O Ministério Público, porém, discorda e trabalha com recurso para tentar derrubar a causa do juiz federal.
A anistia, alvo dos protestos desta semana, é uma das exigências do Junts para entregar os sete votos de seu partido para que Sánchez consiga seu segundo mandato. Trata-se de descriminalizar até 3.000 separatistas catalães presos ou processados pela tentativa de independência frustrada.
Além disso, Puidgemont tenta conseguir autorização do governo para realizar um referendo, no qual perguntaria aos catalães se eles querem ou não se tornar um país independente da Espanha. Isso, porém, não é permitido pela atual Constituição espanhola.