O condado de Maui, no Havaí, processou nesta quinta-feira (24) a empresa de energia elétrica Hawaiian Electric por negligenciar riscos em sua rede de transmissão e não ativar medidas de segurança que teriam evitado, segundo a ação, o incêndio responsável por ao menos 115 mortes na cidade de Lahaina, no início de agosto.
A companhia já vinha sendo alvo de críticas e escrutínio do público e de autoridades desde que vídeos publicados em redes sociais após o incêndio mostraram cabos de energia liberando faíscas e originando chamas na vegetação. Na ocasião, o furacão Dora transitava ao sul do arquipélago e provocava ventos fortes que alimentaram o incêndio e o espalharam rapidamente.
De acordo com a acusação, se a concessionária tivesse dado atenção aos “avisos do serviço meteorológico e cortado a energia de suas linhas de transmissão durante as rajadas de vento previstas, essa destruição poderia ter sido evitada.”
A Hawaiian Electric e suas subsidiárias não se manifestaram sobre o processo até o momento.
O processo também afirma que a empresa tinha o dever de fazer a manutenção e eventuais reparos de seus equipamentos, o que envolve as linhas de transmissão, os postes e mesmo a vegetação no entorno das peças, justamente para evitar o contato entre elas.
No processo, o condado diz que a concessionária tinha conhecimento de que a intensidade dos ventos naquele momento iria derrubar postes e linhas e inflamar a vegetação. “Sabiam que se os materiais elétricos começassem um incêndio, ele iria se espalhar a uma taxa criticamente rápida”, lê-se na ação.
Antes do desastre, legisladores estaduais, grupos de consumidores e autoridades do condado de Maui já haviam manifestado preocupação com sinais de estresse das operações da concessionária há anos. Em 2019, a própria empresa chegou a citar o risco de incêndios e afirmou estudar como serviços públicos de outros estados do país lidavam com ameaças do tipo.
Na terça-feira (22), duas semanas após a passagem do fogo —o mais mortal incêndio florestal da história dos Estados Unidos em cem anos— autoridades do Havaí informaram que ao menos 1.100 pessoas continuavam desaparecidas em Lahaina.
Polo turístico e local que reunia elementos históricos importantes da ilha de Maui, a cidade de cerca de 12 mil habitantes foi reduzida a cinzas em questão de horas, o que obrigou moradores desesperados a pular no oceano para se salvar.
As buscas por desaparecidos continuam, mas a intensidade da destruição dificulta tanto o trabalho de resgate, como o de identificação de restos mortais carbonizados. Investigadores admitem que nem todas as vítimas serão identificadas.
“O número de familiares que vêm fornecer amostras de DNA é muito menor do que o visto em outros desastres”, disse Andrew Martin, que coordena o centro de assistência familiar no Havaí, sem conseguir explicar por que as pessoas parecem menos dispostas a fornecer amostras do material.
Na semana passada, o diretor da Agência de Gestão de Emergências da ilha de Maui, Herman Andaya, renunciou ao cargo após receber críticas pela resposta à tragédia —oficialmente, ele alegou motivos de saúde.
O desastre ocorreu no Havaí depois de a América do Norte sofrer os impactos de vários fenômenos climáticos extremos nos últimos meses, de incêndios recorde no Canadá a uma extensa onda de calor que castigou o sudeste dos Estados Unidos e o México. A Europa e algumas regiões da Ásia também sofreram com ondas de calor, inundações e incêndios alimentados pela crise climática, segundo especialistas.
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.