Há quatro anos, Joe Biden era o candidato com maior probabilidade de ser eleito —ele era o democrata moderado de Scranton, na Pensilvânia, que prometeu conquistar os eleitores brancos da classe trabalhadora que elegeram o republicano Donald Trump.
Hoje, porém, há poucos sinais dessa força eleitoral.
Uma série de pesquisas do New York Times em parceria com o Siena College mostra que Trump está na frente de Biden em cinco dos seis estados-chave mais prováveis a decidir a presidência. O contexto de descontentamento generalizado com a situação do país e crescentes dúvidas sobre a capacidade do atual presidente de desempenhar seu cargo ameaçam desfazer a frente ampla que o elegeu em 2020.
Entre os dias 22 de outubro e 3 de novembro, a equipe do levantamento entrevistou por telefone 3.662 eleitores registrados em Arizona, Georgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Quando todos os estados são combinados, a margem de erro é de aproximadamente 1,8 pontos percentuais, mas esse número pode variar entre 4,4 a 4,8 pontos percentuais para cada região.
No geral, Trump lidera com 48% a 44% nesses seis estados. O republicano larga na frente em Pensilvânia, Michigan, Georgia, Arizona e Nevada —cenário mais do que suficiente para conquistar os 270 delegados necessários para ganhar a presidência. Biden, por sua vez, tem mais intenções de voto apenas em Wisconsin.
Faltando um ano para as eleições, ainda há muito tempo para a corrida mudar. Ao contrário de quatro anos atrás, a pesquisa revela um eleitorado desinteressado, descontente e insatisfeito, preparando o terreno para uma campanha potencialmente volátil. Muitos eleitores apoiam com dificuldades esses dois candidatos impopulares, e alguns devem mudar de posição à medida que a campanha avançar. Outros simplesmente não votarão.
A pesquisa mostra evidências de que não deveria ser assustador para os democratas reconstruírem uma coalizão para derrotar Trump, que continua tão impopular quanto há três anos. Mas, ainda que o republicano continue eminentemente derrotável, a campanha pode ser bastante desafiadora para Biden.
A pesquisa constata que o atual presidente inicia sua campanha como um candidato enfraquecido, sem as qualidades de simpatia pessoal, temperamento e caráter que foram essenciais para suas vitórias apertadas nos seis estados-chave em 2020. Vulnerabilidades antigas em relação a idade, gestão econômica e apelo aos eleitores jovens, negros e latinos se tornaram graves o suficiente para ameaçar suas chances de reeleição.
A opinião pública sobre o presidente despencou ao longo de seu mandato. A deterioração da imagem de Biden é ampla e abrange praticamente todos os grupos demográficos, mas se destaca entre os eleitores jovens, negros e latinos —com os quais Trump obtém níveis de apoio anteriormente inimagináveis.
Biden lidera por pouco apenas no grupo de eleitores não brancos com menos de 45 anos, que o apoiaram por quase 40 pontos percentuais na última eleição, e empata com Trump entre os jovens com 18 a 29 anos —grupo que tem apoiado os democratas por uma ampla margem há duas décadas.
O republicano reduziu pela metade a liderança de Biden entre os eleitores não brancos, não apenas com ganhos impressionantes entre a porção mais jovem, mas também com ganhos modestos entre os eleitores mais velhos. No geral, Trump conquista mais de 20% de apoio entre os eleitores negros, um número que seria inimaginável na era pós-lei dos direitos civis.
Em contraste, Biden manteve todo o seu apoio entre as pessoas brancas e mais velhas, o que o ajuda a se manter relativamente competitivo nos estados-chave do norte nos quais predomina esse perfil de eleitor: Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Trump, por sua vez, constrói uma liderança mais confortável nos estados do sul, mais diversos.
Não há motivo para supor que os resultados finais das eleições de novembro do próximo ano coincidirão com os resultados dessas pesquisas. Mas se isso acontecesse, poderia representar uma mudança épica na política americana e com potencial para repercutir por décadas, já que eleitores jovens e não brancos representam uma parcela crescente do eleitorado.
Muitos padrões familiares considerados na análise política seriam borrados. A polarização racial e geracional desapareceria. Seria o auge do rearranjo de uma década do eleitorado nos moldes do populismo conservador de Trump, o que frustraria as esperanças democratas de reunir uma maioria progressista em torno de uma nova geração de eleitores jovens e não brancos.
Embora tudo isso levante o espectro de uma catástrofe para os democratas, ainda há muito tempo para as preferências do eleitorado gradualmente se realinharem com os padrões demográficos familiares das últimas décadas. A pesquisa sugere que não deveria ser necessariamente difícil para Biden reconstruir sua coalizão vencedora —pelo menos no papel. Para vencer, ele apenas precisa reanimar os eleitores das tradicionais bases democratas, grupos que, segundo a pesquisa, ainda estão bastante abertos aos democratas em uma disputa contra Trump.
Em uma corrida hipotética sem Biden, um democrata genérico lidera Trump por 8 pontos, 48% a 40% —vantagem maior do que a de 3 pontos que um democrata não identificado mantinha em 2019 em relação ao republicano.
Até mesmo a vice-presidente Kamala Harris, que até agora não é uma força política, desempenha um pouco melhor do que Biden. Ela ficaria atrás de Trump por 3 pontos em uma disputa hipotética, em comparação com o déficit de 5 pontos de Biden (Trump parece liderar por 4 pontos no resultado geral de 48% a 44% devido ao arredondamento).
Biden não se saia muito pior do que sua companheira de chapa no geral, mas o número esconde as nuances do apoio —11% dos possíveis eleitores de Harris não apoiam Biden, e dois terços deles são não brancos ou tem menos de 30 anos.
Os eleitores que escolhem Kamala em vez de Biden não são os únicos eleitores que o republicano buscará na corrida pela reeleição, mas eles representam seu desafio.
Esse grupo não apoia Trump intensamente. Apenas 16% dos eleitores que escolhem Kamala em vez de Biden disseram que “definitivamente” apoiariam Trump em vez do atual presidente. A maioria nem mesmo apoiou Trump quando questionados pela primeira vez —mais de 60% disseram inicialmente que votariam em outra pessoa, não sabiam ou disseram que simplesmente não votariam. Eles apoiaram Trump apenas em uma segunda pergunta, quando responderam qual seria seu voto se a eleição fosse realizada hoje.
O apoio relativamente fraco a Trump entre jovens e não brancos levanta a possibilidade de que muitos eleitores que impulsionam sua vantagem talvez não votem no ano que vem. Na verdade, praticamente todas as fraquezas de Biden estão concentradas entre eleitores menos engajados, que não votaram nas últimas eleições de meio de mandato.
Muitos desses eleitores acabarão votando em uma eleição presidencial, mas nem todos. Como resultado, Biden se sai um pouco melhor entre os eleitores prováveis do que entre os eleitores registrados nos seis estados. Se for esse o caso, o déficit de Biden pode ser um pouco menor do que parece.
Mas se a pesquisa indica que pode não ser tão difícil derrotar Trump, também mostra que a corrida presidencial ainda pode ser desafiadora para Biden. No geral, 49% dos eleitores registrados dizem que “não há realmente nenhuma chance” de apoiá-lo.
Mesmo os eleitores que escolhem Kamala em vez de Biden começam a campanha expressando ceticismo profundo. Mais da metade desses eleitores dizem que apoiam Trump contra Biden; quase 43% dizem que “não há realmente nenhuma chance” de apoiar o democrata.
As preocupações com a capacidade de Biden de lidar com a presidência prevalecem sobre as preocupações com Trump, incluindo em temas como aborto e democracia.
O atual presidente tem vantagem sobre o republicano nessas questões, mas os eleitores são muito menos propensos a dizer que o aborto e a democracia são mais importantes do que a economia do que eram nas pesquisas do ano passado feitas pelo New York Times com o Siena College nos mesmos estados. Os eleitores relativamente não ideológicos que escolhem Kamala em vez de Biden são particularmente propensos a dizer que a economia é mais importante para o seu voto.
Historicamente, presidentes em exercício se encontram em uma posição semelhante no início da corrida, mobilizando sua base com a ajuda de uma economia em crescimento e uma campanha polarizadora. É difícil prever se as opiniões sobre a economia vão melhorar, mas a campanha de Biden, sem dúvida, tentará reorientar os eleitores para questões como a preservação da democracia e o direito ao aborto, tal como os democratas fizeram nas eleições de meio de mandato. É possível que uma campanha desse tipo permita a Biden reunir sua coalizão vencedora, especialmente porque sua fraqueza está concentrada entre eleitores menos engajados.
Mas também é possível que as preocupações com a idade de Biden e a economia sejam simplesmente muito grandes. O peso entre a mensagem democrata e as reservas sobre o mensageiro pode decidir a eleição.