O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, refutou a afirmação de seu principal general de que a guerra com a Rússia está num impasse, e que a contraofensiva do país contra os invasores fracassou em atingir seu objetivo estratégico após cinco meses de combates.
“O tempo passa e as pessoas estão cansadas, mas isso não é um impasse”, afirmou Zelenski no sábado, durante uma entrevista com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Kiev, na qual queixou-se da atenção mundial à crise em Israel. Ele concordou que “há dificuldades” e que ainda não logrou nenhum sucesso importante na sua contraofensiva, contudo.
O general Valeri Zalujni, o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, escreveu para a revista britânica The Economist um ensaio de nove páginas detalhando os problemas estruturais e as virtudes de seu país na guerra.
Concluiu que o plano da contraofensiva de chegar até a Crimeia, cortando a ponte terrestre estabelecida pelos russos no sul do país, era otimista demais. Nenhum dos lados teve vitórias decisivas desde então, mas Moscou tem demonstrado iniciativa renovada, que Zalujni atribui à disposição de Vladimir Putin de sacrificar seus soldados.
Na conversa com Von der Leyen, Zelenski voltou a pedir reforço de sistemas antiaéreos e caças para o país. “A Rússia domina os céus”, afirmou.
A fala de Zalujni evidenciou rusgas entre as lideranças militar e civil do país invadido há pouco mais de 20 meses. O assessor presidencial Ihor Jovka criticou diretamente o general. “Se eu fosse militar, provavelmente a última coisa que eu faria seria comentar à imprensa e ao público sobre o que está acontecendo na frente de batalha, ou pode acontecer”, afirmou.
“Porque isso facilita o trabalho do agressor. Se nós podemos ter sucesso assim, talvez seja um plano profundamente estratégico. Mas me parece muito estranho”, ironizou.
O Kremlin, por sua vez, tripudiou da situação. “Não, [a guerra] não chegou a um impasse”, disse o porta-voz Dmitri Peskov, “porque é um absurdo Kiev falar sobre possibilidade de vitória”. “Assim que o regime de Kiev entender isso, algumas perspectivas se abrirão”, disse.
Na sexta (3), Zelenski trocou o chefe das Forças Especiais da Ucrânia sem explicar o motivo. Elas são responsáveis pelas mais audaciosas operações da guerra, como os ataques à base da Frota do Mar Negro da Rússia, na Crimeia anexada.
Já neste domingo, em meio à relutância do Congresso americano de liberar novos fundos para sustentar esforço de guerra ucraniano, o presidente disse em uma entrevista à rede americana NBC que os EUA irão pagar caro se não apoiarem Kiev.
“Se a Rússia matar todos nós, atacará depois países da Otan [aliança militar ocidental], e vocês terão de enviar seus filhos e filhas para lá. Sinto muito, será um preço muito mais alto”, afirmou. O presidente Joe Biden tem tentando passar um novo pacote orçamentário de R$ 500 bilhões, a maior parte para a Ucrânia, mas com ajuda a Israel e outras frentes.
Os republicanos, de olho na corrida eleitoral de 2024, têm barrado a iniciativa na Câmara dos Representantes. As dificuldades ucranianas em campo têm colocado em dúvida a eficácia do apoio ocidental ao país, que já envolveu mais de R$ 500 bilhões até julho, com o envio de tanques e outros armamentos.