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Foco em melhorar a vida das pessoas fez de Danilo de Miranda uma pessoa única – 01/11/2023 – José Manuel Diogo

Na dor, sempre procuramos sínteses —elas nos ajudam a encarar o luto e a seguir em frente. Esta semana, o professor Danilo Santos de Miranda, meu amigo, diretor do Sesc São Paulo, morreu. O mundo ficou muito mais pobre. Seu desaparecimento dói de verdade.

É nesta inesperada e perplexa dor que encontro a primeira síntese. Vem envolvida nas memórias que com ele partilhei, todas felizes, todas contrariando a própria dor; todas feitas de futuro e liberdade.

Melhorar a vida das pessoas é uma tarefa permanente, dizia ele, a única coisa que verdadeiramente interessa. Era esse despojado foco que fazia dele uma pessoa única. Distinguir o que é essencial em meio a tudo o que é apenas acessório.

Admiro, quase com uma pequena inveja, todas e todos que, na maravilhosa equipe que juntou em seu entorno no Sesc São Paulo, tiveram o enorme privilégio de partilhar com ele a vida cotidiana.

Eu, um português que ama o Brasil, e especialmente São Paulo, cidade que chamo de minha, conheci Danilo por conta de uma ideia também feita de liberdade e literatura, há dois anos atrás: o projeto 200 anos, 200 livros, que também contou com a parceria da Folha.

Lembro-me da primeira vez que nos encontramos, no escritório dele, no Belenzinho. Disse-me o que pensava da língua portuguesa, da Europa e do amor que tinha por Portugal e por Lisboa, onde mora a sua filha. Mas, sobretudo, disse-me o que pensava das pessoas que ousavam ter ideias e tinham coragem para fazer coisas diferentes.

Falamos daquela lista de livros e de como ela convocava discussões sobre um Brasil que se começava a descobrir. O Brasil dele, da igualdade e da reparação que hoje ganha definitiva existência. Criamos o projeto Perguntas sobre o Brasil, que dura até hoje.

Convidei-o para visitar Coimbra e ele foi. Em julho passado, na biblioteca joanina da Universidade de Coimbra, falamos de história, e na Casa da Cidadania da Língua, falamos de futuro. No futuro dessa cidadania nova que hoje nos atropela em todas as geografias e que em tempos de guerra precisa de ainda maiores cuidados e atenção.

Com a força da sua experiência, Danilo ensinou-me a ter de novo esperança, quando eu já quase desacreditava que podia ser viável ter uma vida dedicada à cultura. Mas a sua bondade, pragmática e acho que infinita, iluminou o meu caminho.

Você é o nosso “embaixador” em Portugal, dizia, sempre sorrindo, quando nossos caminhos se cruzavam —no festival Mirada, em Santos; nas estreias nos espaços do Sesc; ou nas longas e deliciosas reuniões no Belenzinho. E eu, como uma criança sem jeito, sorria de volta. Era tão bom estar perto dele.

Obrigado, Danilo. Também mudaste a minha vida.


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Fonte: Folha de São Paulo

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