Após meses de ameaças e recuos, o deputado Dean Phillips lança oficialmente nesta sexta-feira (27) sua candidatura à vaga do partido na disputa pela Presidência no próximo ano, desafiando Joe Biden.
A decisão ecoa a preocupação de muitos democratas: a de que o atual presidente, aos 80 anos, não será capaz de vencer Donald Trump em razão da sua idade. Ainda assim, com o mainstream do partido apoiando o incumbente, o anúncio de Phillips está sendo encarado no máximo como uma distração da verdadeira disputa com o empresário republicano.
No discurso previsto para a tarde desta sexta em que lançará oficialmente seu pleito, obtido pelo site Politico, o deputado de 54 anos deve dizer que é um representante da “maioria exausta americana”. Ele também deve afirmar que não está concorrendo contra Biden, mas que lançou a candidatura motivado por duas convicções: a de que ele pode vencer a eleição nacional de 2024, e que é hora de “passar o bastão para uma nova geração de líderes americanos”.
“Eu acho que o presidente Biden fez um trabalho espetacular pelo nosso país, mas isso não é sobre o passado. Essa eleição é sobre o futuro. Eu não vou esperar sentado, eu não vou ficar quieto diante de números que dizem claramente que nós enfrentaremos uma emergência em novembro do ano que vem”, afirmou Phillips em entrevista à CBS veiculada na manhã desta sexta, em que confirmou a intenção de se candidatar.
Os números, de fato, mostram uma rejeição expressiva ao atual presidente. Pesquisa da Gallup divulgada nesta quinta, por exemplo, aponta que sua taxa de aprovação caiu 11 pontos percentuais entre democratas, para 75%, o número mais baixo de sua presidência. Considerando todo o eleitorado, a queda foi de 4 pontos, para 37% –outro recorde negativo.
Há meses, levantamentos têm mostrado uma resistência da própria base do partido a Biden –62%, por exemplo, dizem que outra pessoa deveria ser o candidato democrata, de acordo com pesquisa da CNN. A capacidade mental e física do presidente para exercer um novo mandato é a principal preocupação.
“Estou preocupado que algo possa acontecer entre agora e novembro do próximo ano que transformaria a Convenção Democrata em Chicago em um desastre total. E, para um partido que está agindo como os adultos na sala, graças a Deus, estou preocupado que não estamos agindo da mesma forma em relação à nossa estratégia eleitoral. Então, estou considerando isso [disputar a nomeação]”, disse Phillips ao podcast The Warning, comandado pelo estrategista político Steve Schmidt, há cerca de um mês.
Em seu terceiro mandato, o deputado por Minnesota é um dos membros mais ricos da Câmara, com uma fortuna resultado de uma destilaria centenária, a Phillips Distilling Company, e foi presidente-executivo da Talenti, uma marca de sorvetes.
Um membro da ala moderada do partido, ele deve enfatizar em sua campanha, além da idade de Biden, outros pontos fracos do presidente: as críticas ao fluxo de imigrantes na fronteira com o México, a disparada da inflação, e a percepção de aumento da violência –temas já atacados por Donald Trump.
Schmidt, que foi estrategista dos republicanos George W. Bush e John McCain, está coordenando a campanha de mídia de Phillips. A prioridade do deputado é a primária de New Hampshire –criando um conflito no processo democrata.
O estado historicamente é o primeiro a organizar uma votação para a escolha do candidato do partido, mas o comitê democrata decidiu alterar o calendário e colocar a Carolina do Sul –com grande eleitorado negro, muito diferente de New Hampshire– em primeiro lugar, mudança apoiada por Biden.
O estado, no entanto, não aceitou a alteração, e promete organizar sua primária de todo modo. O comitê do partido, por sua vez, diz que o resultado será desconsiderado.
Assim, a escolha de Phillips de lançar-se em New Hampshire é mais uma provocação a Biden, e ao mainstream democrata.
Publicamente, a Casa Branca não comenta o desafio lançado pelo deputado. No entanto, porta-vozes do presidente têm ressaltado seu alinhamento com Biden, destacando seu histórico de votação de praticamente 100% em apoio à agenda do governo.
Phillips é o único concorrente de Biden nas primárias, após a desistência de Robert Kennedy Jr., que resolveu lançar-se como independente.