Um total de 956 das mais de 2.400 pessoas detidas durante os protestos contra a contestada reeleição do ditador Nicolás Maduro foram soltas antes do Natal na Venezuela, informou nesta segunda-feira (23) o Ministério Público venezuelano, após anunciar 223 novas liberações.
“No decorrer do dia de hoje (segunda), em coordenação com os tribunais penais, foi revisado um novo grupo de casos”, disse em comunicado a Procuradoria, que iniciou no mês passado um processo de revisão dos detidos.
Durante a manhã foram feitas 177 solturas, e mais 46 pela tarde. Entre os beneficiados está Edward Ocariz, defensor e fundador do Comitê de Direitos Humanos de Coche, uma comunidade no oeste de Caracas, disse a ONG Provea.
Familiares e amigos dos detidos vêm protestando e realizando vigílias há semanas para exigir liberações antes do Natal.
Na sexta-feira (20), foram anunciadas 200 liberações, que se somavam a 179 ocorridas na mesma semana e mais de 300 desde novembro.
Entre os quase 1.000 liberados há adolescentes, embora as autoridades não tenham especificado quantos.
A ONG Foro Penal, que defende presos políticos, contava até sexta-feira cerca de 330. Esta mesma organização registrou 164 detenções de adolescentes no contexto dos protestos e, segundo seus registros, a maioria dos liberados tinha medidas cautelares.
As mais de 2.400 pessoas detidas nas horas posteriores à proclamação de Maduro para um terceiro mandato de seis anos foram acusadas de terrorismo, incitação ao ódio e levadas a prisões de segurança máxima.
Muitos foram presos sem mandado de captura, segundo os familiares e ONGs que também denunciam maus-tratos e torturas.
Ao menos três dos detidos —de 36, 43 e 44 anos— morreram sob custódia das autoridades. Familiares também relataram tentativas de suicídio. Os protestos também resultaram em 28 mortos e quase 200 feridos.
As manifestações se desencadearam depois que a oposição liderada por María Corina Machado afirmou que seu candidato, Edmundo González, venceu a eleição e não Maduro. O órgão eleitoral, dominado pelo chavismo, declarou Maduro reeleito, porém até hoje não apresentou as atas eleitorais que comprovariam o triunfo. A lei venezuelana exige a divulgação dos registros de urnas, o que sempre foi feito em todas as votações anteriores.
Diante de várias evidências de fraude, o resultado não foi reconhecido por vários países, como Estados Unidos, União Europeia e várias nações da América Latina. O Brasil não chancelou a reeleição de Maduro, mas tampouco reconheceu González como presidente eleito e mantém a posição de cobrar pela divulgação das atas, o que parece improvável a esta altura do processo. O ditador tomará posse para o terceiro mandato no próximo dia 10 de janeiro.