Um relatório do Comitê de Ética da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos divulgado nesta segunda-feira (23) afirma que o ex-deputado Matt Gaetz violou regras da Casa ao gastar dezenas de milhares de dólares com drogas e prostitutas. Ele nega as acusações.
Gaetz foi designado pelo presidente eleito, Donald Trump, para liderar o Departamento de Justiça dos EUA no final do mês passado. A pasta desempenha funções semelhantes às do Ministério Público Federal e do Ministério da Justiça brasileiros, e sob seu comando estão agências importantes, como o FBI, a polícia federal americana, e o DEA, agência antidrogas.
Ele renunciou à indicação para o gabinete trumpista oito dias depois do anúncio, prevendo uma difícil batalha pela confirmação no Senado. Àquela altura, porém, o deputado pela Flórida reeleito nas eleições de novembro já tinha optado por não assumir sua vaga na Câmara dos Representantes.
A divulgação do relatório ocorreu apesar de Gaetz ter apresentado um recurso de última hora no qual argumentava que o Comitê de Ética não tinha mais jurisdição para tornar o documento público depois que ele renunciou à sua vaga no Congresso.
O documento, que tem 37 páginas, afirma que há evidências de que o deputado “violou as regras da Câmara e outros padrões de conduta que proíbem prostituição, sexo com menores, uso ilícito de drogas, presentes irregulares, favores ou privilégios especiais e obstrução do Congresso”.
Segundo o texto, Gaetz pagou US$ 90 mil (R$ 557 mil) a 12 mulheres por atividades que provavelmente envolviam sexo ou uso de drogas.
O relatório também afirma ter encontrado evidências de que ele financiou o trânsito de prostitutas entre estados.
Uma acusação feita contra ele no passado, de que uma dessas prostitutas tinha menos de 18 anos, não foi comprovada, no entanto. A imputação de que houve relações dele com prostitutas que foram induzidas por força, fraude ou coerção tampouco se sustentou.
No entanto, uma pessoa identificada como “vítima A” disse aos congressistas que teve relações sexuais com Gaetz em uma festa quando era menor, e que recebeu um pagamento em dinheiro de US$ 400 (R$ 2.477, no câmbio de hoje) que entendeu ser por sexo.
A testemunha afirmou que tinha acabado de completar seu penúltimo ano do ensino médio na época, 2017. Ela disse que não informou sua idade a Gaetz e que ele não a questionou sobre isso. Segundo o comitê, assim, não haveria nenhuma evidência de que o ex-deputado tinha ciência de que ela era menor de idade.
Gaetz negou que teve relações sexuais com uma menor, mas não abordou as acusações específicas relacionadas à “vítima A”, de acordo com o relatório.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com o político imediatamente.
A decisão de tornar o relatório público não foi unânime. O presidente do Comitê de Ética, o deputado republicano Michael Guest, disse em uma declaração independente que o painel estava se desviando de “padrões estabelecidos” ao divulgar um relatório sobre um ex-membro da Câmara. Ele ressaltou que não estava questionando as conclusões, porém.
Gaetz foi alvo de uma investigação de três anos do FBI sobre alegações de tráfico sexual que não resultaram em acusações criminais.
Ele desempenhou um papel de liderança em 2023 ao forçar uma votação bem-sucedida pela primeira vez na Câmara para destituir seu presidente, que na época era Kevin McCarthy — apenas nove meses no cargo.