A Rússia e a China vetaram nesta quarta-feira (25) uma resolução proposta pelos americanos sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. O voto contrário de Moscou já era esperado, e ocorre após os EUA terem derrubado na semana passada um texto formulado pelo Brasil.
O placar foi 10 votos a favor (Albânia, França, Equador, Gabão, Ghana, Japão, Malta, Reino Unido e EUA), 3 contrários (Rússia, China e Emirados Árabes Unidos) e 2 abstenções (Brasil e Moçambique).
Foi o terceiro fracasso em uma tentativa de adoção de uma resolução desde 7 de outubro. A primeira proposta, russa, não atingiu o mínimo de votos, enquanto as duas seguintes foram vetadas por Washington e Moscou, respectivamente.
Um quarto texto, também elaborado pelos russos, deve ser votado ainda nesta quarta. A perspectiva é que ele também seja derrotado.
A situação mostra a inação do Conselho de Segurança das Nações Unidas diante da escalada de violência no Oriente Médio. Instância máxima da ONU, o órgão vive um impasse: de um lado, Washington protege os interesses de Tel Aviv, seu maior aliado na região; de outro, um amplo bloco de países, liderado pelos árabes, quer uma resposta mais dura à reação israelense, estabelecendo um cessar-fogo humanitários e corredores para a passagem de suprimentos e retirada de civis.
Embora a situação tenha se agravado após os ataques perpetrados pelo Hamas e a reação israelense em Gaza, a questão Palestina é historicamente o principal alvo de vetos no Conselho de Segurança.
Desde 2016, nenhuma resolução sobre o tema é aprovada pelo grupo.
A principal barreira são os EUA, que blindam Israel. Desde 1970, quando o país usou o poder de veto pela primeira vez, até a semana passada, foram 33 votos contrários em propostas relacionados ao tema de um total de 80, de acordo com dados do think tank Security Council Report e da ONU.
Para comparação, o segundo tema mais vetado pelos EUA, o apartheid na África do Sul, foi alvo de 10 votos contrários, empatado com resoluções relacionadas às tensões entre Israel e Líbano.
O texto de autoria americana votado nesta quarta afirmava o direito de Estados se defenderem de ataques –em alusão a Israel, mas sem nomear o aliado, diante de resistências de demais membros do conselho.
Após pressão de outros países, incluindo o Brasil, os EUA também alteraram o documento para incluir um apelo direto para o estabelecimento de pausas humanitárias, na mesma linha do que constava na resolução brasileira.
No entanto, a resolução de Washington não fazia nenhum apelo para que o ultimato imposto por Israel para a saída de civis palestinos do norte de Gaza seja revogado.
Na reunião do Conselho de Segurança de terça, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que o documento “se baseia em muitos elementos da resolução proposta pelo Brasil”, somados às considerações de outros membros do conselho.
Diante das críticas à reação de Israel, a resolução americana “reafirma que, ao responder a ataques terroristas, os Estados-Membros devem cumprir integralmente todas as suas obrigações nos termos do direito internacional”, embora não cite Tel Aviv explicitamente.
O documento também enfatizava as ameaças a um maior envolvimento do Irã no conflito, citando explicitamente a exigência para que o Hizbullah –apoiado por Teerã, como o Hamas– pare seus ataques.