A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner assumiu nesta quarta-feira (11) a presidência do Partido Justicialista, a principal sigla do peronismo no país, e disse em discurso que a sociedade argentina aceitou o “ajuste violento” promovido pelo presidente Javier Milei motivada pelo medo.
“Quando tenho um vizinho que aparece no jardim da minha casa com uma motosserra, cara de louco e prometendo que vai matar todos os vizinhos menos eu… ainda que me prometa isso, me tranco na minha casa com medo. Ou seja, é preciso entender que há uma aceitação da sociedade de um ajuste violento”, disse a peronista, referindo-se às medidas de Milei que já cortaram 30% dos gastos públicos.
Cristina assume o comando do principal partido de oposição em um momento em que acumula reveses na Justiça —em novembro, um tribunal confirmou a sentença de seis anos de prisão e inabilitação perpétua para concorrer a cargos públicos recebida pela ex-presidente em 2022.
Ela pretende recorrer ao Supremo da Argentina, mas decisões recentes põem em dúvida suas chances. No último dia 5, esse tribunal decidiu julgar Cristina pelo suposto acobertamento de iranianos responsáveis pelo atentado contra uma instituição judaica em Buenos Aires em 1994 que matou 85 pessoas e feriu centenas.
Quando presidente, Cristina assinou um memorando com o Irã, proposto por ela e aprovado pelo Congresso argentino, prevendo que os suspeitos do atentado contra a Amia fossem interrogados fora da Argentina. A acusação de acobertamento foi arquivada em 2021 e reaberta pelo Justiça em 2023.
No discurso desta quarta, Cristina atacou a condução da economia por Milei, dizendo que “mais de 11 mil fábricas fecharam” durante o governo do ultraliberal, que completou um ano na terça (10). “O ajuste fiscal não foi contra a casta”, disse a peronista, mencionando o termo utilizado por Milei para descrever a elite argentina, “e sim contra os aposentados, que representam 50% do orçamento da Argentina”.
“Este governo não tem modelo produtivo, tem apenas modelo de valorização financeira e de regressiva distribuição de renda. Isso fica claro nos discursos repetitivos e desconectados da realidade [dados pelo presidente]. Milei faz parte de um ciclo de exploração da nação argentina”, disse Cristina. Segundo ela, a história mostra que governos desse tipo geralmente são sucedidos “por governos verdadeiramente nacionais e democráticos”.
Em fala marcando um ano de governo, Milei disse na terça que o sacrifício dos argentinos “não será em vão”. “No início do mandato, disse que atravessaríamos um período de dor, que era uma verdadeira prova de fogo. O bom tempo produz homens fracos, mas os tempos difíceis produzem homens fortes.”
“Estamos saindo do deserto, a recessão terminou, o país finalmente começa a crescer, e podemos começar o novo ano com a certeza de que o futuro será cada vez melhor”, afirmou após reduzir a inflação mensal de 25% a 2,7% no período, mas ver a pobreza ser catapultada a quase 53% da população. Os últimos dados da economia ainda mostram o PIB argentino em recessão.