Após mais de duas décadas de ditadura de Bashar al-Assad na Síria, rebeldes tomaram a capital Damasco neste domingo (8).
Os principais responsáveis pelo feito são duas facções que já foram tanto aliadas quanto rivais ao longo da guerra civil no país, iniciada em 2011: HTS (Hayat Tahrir al-Sham, ou Organização para a Libertação do Levante na sigla em árabe), grupo islâmico que no passado foi o braço local da rede terrorista Al Qaeda, e SNA (Exército Nacional Sírio), coalizão de milícias sírias apoiadas pela Turquia.
Ambas têm estado entrincheirados no noroeste no país. Elas lançaram a ofensiva surpresa em 27 de novembro, com combatentes capturando Aleppo, a maior cidade da Síria, e Hama, no centro, outra das mais importantes do país.
Apesar de seu feito impressionante frente as forças do regime, a capacidade de ambas de governar o país é questionável devido às suas tantas divisões internas. A HTS, mais poderosa das duas, enfrenta o desafio adicional de ser considerada terrorista por uma série de países e entidades, incluindo os Estados Unidos.
Elas não são os únicos agentes que agora podem disputar o poder da Síria, no entanto. Veja as frentes da oposição que atuam no território, algumas das quais são rivais entre si.
HTS
A HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe) é o grupo mais poderoso entre os rebeldes, e domina a província de Idlib, no noroeste do país.
Ela surgiu como o braço sírio da Al Qaeda no início da guerra civil, em 2011, mas rompeu os laços com a rede terrorista mais em 2016. É formada por é uma coalizão de cinco milícias principais e seis secundárias, algumas das quais tem diferenças entre si.
Seu líder é Abu Mohammad al-Jolani. Ele, que recentemente vem preferindo usar seu verdadeiro nome, Ahmed al-Sharaa, é descrito por analistas como um extremista que vem adotando posturas mais moderadas para alcançar seus objetivos, por exemplo ao parar de usar o turbante típico dos jihadistas e dar preferência à indumentária militar.
A facção é considerada uma organização terrorista por Estados Unidos, Turquia e outros.
SNA (Exército Nacional Sírio)
É formado por rebeldes apoiados pela Turquia, que começou a enviar tropas para a Síria a partir de 2016 para afastar grupos de curdos (minoria étnica que ocupa parte dos territórios sírio e turco) e o Estado Islâmico (EI) de suas fronteiras.
Sendo um importante apoiador dos rebeldes, Ancara acabou por formar alguns dos grupos no SNA que detêm uma extensão de território ao longo da fronteira sírio-turca.
À medida que o HTS e grupos aliados do noroeste avançavam sobre Assad na última semana passada, o SNA se juntou a eles.
YPG (Unidades de Proteção Popular)
Liderada pelos curdos, assumiu o controle de grandes áreas do nordeste da Síria em 2012, quando as forças do governo se retiraram para combater os rebeldes no oeste.
A Turquia vê o YPG como inseparável do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), grupo separatista curdo que é considerado terrorista pelo governo de Recep Tayyip Erdogan.
SDF (Forças Democráticas Sírias)
Com o avanço do EI na Síria em 2014, o YPG se juntou a outros grupos para conter a rede, com apoio dos EUA e de seus aliados.
O SDF agora controla a maior parte do quarto da Síria que fica a leste do Eufrates, incluindo a antiga capital do EI, Raqqa, e alguns dos maiores campos petrolíferos do país, além de uma porção de território a oeste do rio.
Suas forças têm lutado contra o SNA, apoiado pela Turquia, ao redor da cidade de Manbij.
Estado Islâmico (EI)
Chegou a dominar amplas faixas e cidades da Síria, mas foi derrotado. Embora sem território, segue tentando manter sua ideologia viva e eventualmente reivindica ataques terroristas.
Outros
A revolta da Síria foi profundamente fragmentada, com um mosaico complexo de grupos locais que defendem ideologias islâmicas e nacionalistas. Com o passar dos anos, alguns deles se dividiram ou se fundiram com outros grupos.
A influência de coligações como o Exército Sírio Livre, financiado por Arábia Saudita e Qatar, e a primeira encarnação do HTS, chamada Abhat al-Nusra, foi aumentando ou diminuindo a depender do período do conflito civil.
Outras facções que dominavam o sul foram forçadas a aceitar o regime de Assad após uma sequência de conquistas dele na área em 2018. Eles não entregaram todas as suas armas ou se submeteram completamente ao controle de Damasco, no entanto, e foram alguns dos que se rebelaram na semana passada, tomando o sudoeste da Síria.