Enquanto busca atrair os imprescindíveis votos dos separatistas da Catalunha e do País Basco para alcançar um segundo mandato de governo, o socialista Pedro Sánchez celebrou nesta terça (24) uma aliança oficial com o Sumar, coligação de diversas legendas de esquerda da Espanha.
Apesar de ter apoiado o atual premiê na campanha eleitoral e fazer parte do atual governo, o Sumar tinha algumas demandas para que seus 31 deputados votassem em Sánchez (PSOE) na investidura que ocorrerá nas próximas semanas.
Ainda não há data marcada para essa votação no Congresso. Antes dele, Alberto Feijóo, líder do PP e vencedor das últimas eleições, tentou a investidura, mas não alcançou maioria.
O novo acordo com o Sumar prevê uma série de iniciativas sociais, sendo a mais relevante a redução da jornada de trabalho de 40 para 37,5 horas semanais, ou seja, meia hora a menos por dia. Há também previsão de aumento do salário mínimo, duplicação de residências que recebem bônus na conta de luz e ampliação das licenças maternidade ou paternidade para cinco meses.
O texto do documento, que fala de dezenas de mudanças, foi divulgado na terça em um evento no Museu do Prado. Sánchez e sua segunda vice, ministra do Trabalho e também líder do Sumar, Yolanda Díaz, apresentaram o acordo, mas não responderam a perguntas da imprensa. O governo, aliás, tem se negado recentemente a responder a jornalistas pois entende que a maioria das questões seria sobre os separatistas.
Para conseguir seu segundo mandato de quatro anos, Sánchez necessita do apoio de 176 parlamentares, metade mais um dos 350 deputados do congresso. Com o Sumar e as cadeiras do próprio PSOE, ele chega a 152. Quatro outros partidos que já apoiam o atual governo têm 19 votos, elevando a soma a 171.
É aqui que serão necessários os sete votos do Juntos pela Catalunha (Junts), que sempre foi de oposição a Sánchez. Segundo seu líder, Carles Puigdemont, exilado na Bélgica após uma tentativa frustrada de separação da Catalunha em 2019, o Junts não tem outro objetivo senão a independência da região.
Nos últimos dias, porém, o Partido Nacionalista Basco (PNV), que sempre apoiou o PSOE, também passou a pressionar Sánchez. Seu líder, Andoni Ortuzar, afirmou em entrevista a uma rádio local que não gostaria de tumultuar a investidura do líder socialista, mas “chegou a hora de falar da questão nacional basca”.
“Acreditamos que chegou a hora de chamar as coisas pelos seus nomes. Acreditamos que Euskadi [nome do País Basco na língua basca] é uma nação, tem todos os atributos para se estabelecer e reconhecer como nação, e é hora de começar a falar”, disse.
Ortuzar foi ao cerne da questão: “No final, seremos bascos e catalães que apoiarão Sánchez em mais um mandato em La Moncloa [nome do palácio do governo espanhol]. É lógico que, nesse mandato, as questões daqueles que o trouxeram a La Moncloa estejam no debate político. Sentimo-nos como uma nação e o nosso novo estatuto político tem de reconhecer que somos uma nação”, concluiu Ortuzar.
E há poucos dias, o líder do Junts foi às redes sociais para se posicionar de forma semelhante. “A Catalunha é uma nação, uma velha nação europeia, que viu a sua condição nacional atacada pelos regimes espanhóis desde 1714, fato pelo qual vê em a sua independência política é a única forma de continuar a existir como nação”, escreveu Puigdemont.
Na atual Constituição espanhola, os cidadãos da Catalunha e do País Vasco aparecem como possuidores de “nacionalidades”, mas as regiões não são citadas como nações, fato que ambos gostariam de trazer à mesa agora.
O caso de Puigdemont parece ser mais complicado do que o do País Vasco pois o líder exilado quer que o governo aceite a realização de um plebiscito sobre a independência na Catalunha. Isso, porém, é visto como ilegal pela Constituição e sua mudança exigiria um enorme gasto de capital político.