Sindicatos da Coreia do Sul anunciaram greves nesta quarta-feira (4) para pressionar o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, a renunciar após um atabalhoado decreto de lei marcial na noite de terça (3) —o primeiro no país desde 1980, derrubado horas depois pelo Congresso.
A entidade que reúne os metalúrgicos do país afirmou que haverá uma greve geral a partir da próxima quarta-feira (11) caso o líder não renuncie, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap. Já o sindicato da Hyundai Motor anunciou uma paralisação de quatro horas nestas quinta (5) e sexta-feira (6).
Trata-se de mais um exemplo da crescente pressão interna que Yoon enfrenta após a medida, que durante as horas em que esteve em vigor, suspendeu atividades políticas e baniu liberdades civis nessa nação que é a quarta maior economia da Ásia e um aliado chave dos Estados Unidos na região.
Ao longo do dia, seis partidos de oposição apresentaram um pedido de impeachment contra Yoon, que já enfrentava acusações relacionadas a ações autoritárias de seus oponentes e de dentro de seu próprio partido.
“Não podíamos ignorar a lei marcial ilegal”, disse o parlamentar do Partido Democrático da Coreia do Sul, Kim Yong-min, a jornalistas. “Não podemos mais deixar a democracia colapsar.”
Yoon disse à nação em um discurso televisionado na noite de terça que a lei marcial era necessária para defender o país de forças anti-estado pró-Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional livre, sem citar ameaças específicas.
A estratégia de rotular críticos como “forças totalitárias comunistas” foi adotada pelo presidente sul-coreano nos últimos meses, à medida que suas taxas de aprovação caíam para algo em torno de 20% e após a oposição capturar quase dois terços dos assentos na Assembleia em uma eleição de abril.
Depois do decreto, o Exército invadiu a Assembleia Nacional em Seul, mas recuou após assessores parlamentares usarem extintores de incêndio para defender o prédio. Enquanto manifestantes se confrontavam com a polícia do lado de fora do prédio, os legisladores rejeitaram a decisão.
Na noite de quarta, grupos cívicos e trabalhistas realizaram uma vigília à luz de velas no centro da capital pedindo a renúncia de Yoon e depois marcharam até o gabinete do presidente.
O uso de velas lembra os protestos massivos de 2017, que levaram ao impeachment da ex-presidente Park Geun-hye. Yoon liderava a equipe de investigação dos crimes que levaram ao afastamento da primeira mulher a liderar a Coreia do Sul, por fim presa e condenada em 2018 a 24 anos de prisão. Libertada após um indulto presidencial em 31 de dezembro de 2021, Park tornou-se aliada de seu antigo algoz.
Segundo a Yonhap, diversas cidades do país planejaram manifestações nesta quarta. Em Busan, por exemplo, no sudeste da península, ativistas devem protestar todos os dias até o início da próxima semana.
A tensão fez as vendas de alimentos enlatados, macarrão instantâneo e água engarrafada dispararem durante a noite, disse à agência de notícias Reuters uma grande rede de lojas de conveniência sul-coreana, que pediu anonimato.
Enquanto isso, Yoon vê o seu gabinete ruir. O líder do partido governante de Yoon, o Partido do Poder Popular, pediu a demissão do ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, e de todo o gabinete. O chefe da pasta ofereceu-se para renunciar em seguida.
Yoon havia sido abraçado por líderes no Ocidente no esforço liderado pelos EUA contra a influência da China e da Rússia. Segundo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, porém, Washington não recebeu um aviso prévio da decisão.
“Continuamos esperando que os desacordos políticos sejam resolvidos pacificamente e de acordo com o Estado de Direito”, disse o americano em um comunicado.