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Ozempic não está funcionando? entenda as possíveis explicações

Os ensaios clínicos mostraram que as pessoas que tomam injeções de medicamentos para emagrecer, como Wegovy (semaglutida, que também é o princípio ativo do Ozempic) e Mounjaro (tirzepatida), perdem entre 16% e 21% do peso corporal. Mas os medicamentos não funcionam para todo mundo quando o objetivo é emagrecimento.

Nesses estudos, um grupo de participantes perdeu menos de 5% de seu peso corporal — a perda de peso de 5% ou mais é considerada “clinicamente significativa”. Estes chamados não responsivos representavam de 10% a 15% dos participantes.

Evidências baseadas em relatos, fornecidas por especialistas em obesidade à agência de notícias Associated Press, sugerem que, fora dos limites altamente controlados dos ensaios clínicos, até 20% das pessoas não respondem bem aos medicamentos.

Mas por que isso pode acontecer?

Em primeiro lugar, é importante reconhecer que as causas da obesidade são multifacetadas.

Nossa compreensão da base genética da obesidade cresceu significativamente na última década, revelando que, para muitas pessoas, as variações genéticas têm um efeito significativo sobre seu peso.

Por exemplo, um estudo de 2021 descobriu que 0,3% da população do Reino Unido — o equivalente a mais de 200 mil pessoas — é portadora de uma mutação genética em parte do circuito cerebral que regula o apetite, o que leva a uma média de 17 kg de peso adicional aos 18 anos.

Essa variabilidade genética nas causas subjacentes da obesidade pode ser uma das explicações para o fato de algumas pessoas apresentarem uma resposta atenuada a esses medicamentos.

Também é importante reconhecer como estes novos medicamentos de combate à obesidade funcionam. Qualquer pessoa que tenha tentado perder peso por meio de dieta e exercício físico sabe que essas tentativas geralmente são acompanhadas de uma sensação crescente de fome e cansaço.

Esta é a resposta normal do corpo à perda de peso. O objetivo é proteger o que o cérebro considera seu peso corporal “normal”, que para alguns pode estar na faixa da obesidade.

Os novos medicamentos para emagrecer funcionam desativando esta resposta fisiológica, facilitando a perda de peso por meio de mudanças na alimentação e exercícios.

Nos ensaios clínicos, os participantes recebem apoio para praticar exercícios e acesso a nutricionistas e psicólogos. Esses especialistas oferecem aos participantes suporte individualizado sobre as mudanças de estilo de vida necessárias para maximizar os benefícios desses medicamentos.

Este suporte raramente está disponível para as pessoas fora dos ensaios clínicos, e sua ausência pode limitar a eficácia dos medicamentos se as modificações necessárias no estilo de vida não forem apoiadas por especialistas.

Vários estudos tentaram identificar que fatores podem prever as respostas de perda de peso às injeções para emagrecer. Um fator comum para a perda de peso clinicamente significativa é um peso corporal inicial mais alto.

Muito ‘hype’

Desde que foram lançadas, o “hype” da mídia em torno das novas injeções para emagrecer fez com que a demanda aumentasse entre aqueles para os quais os medicamentos foram desenvolvidos (pessoas com obesidade) e aqueles que não são obesos, mas querem perder alguns quilos.

No Reino Unido, o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Atendimento (Nice, na sigla em inglês) estabelece diretrizes sobre que parâmetros clínicos são necessários para que um medicamento seja receitado.

No caso do Wegovy e Mounjaro, a pessoa deve ser obesa e ter pelo menos um problema de saúde relacionado à obesidade, como apneia do sono ou hipertensão.

Devido à falta de remédios alternativos eficazes para perda de peso e, provavelmente, devido à cobertura da mídia que esses medicamentos receberam, houve relatos de prescrição desses remédios para uso off-label (fora das indicações da bula) para pessoas que não atendem aos critérios do Nice.

Uma consequência provável disso é que pessoas com peso corporal inferior ao estipulado pelas diretrizes estão injetando esses medicamentos para perda de peso e, portanto, estão perdendo menos peso do que os estudos clínicos demonstraram.

Apesar da minoria de pessoas para as quais esses medicamentos não funcionam, sua introdução promete proporcionar benefícios significativos para a saúde de milhões de pessoas que antes tinham dificuldade para perder peso.

*Simon Cork é professor de fisiologia na Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.

Fonte: TNH1

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