A trégua entre Hezbollah e Tel Aviv, anunciada na última terça-feira (26), novamente falhou em seu objetivo de evitar confrontos na fronteira entre Israel e Líbano nesta segunda (2), quando o grupo armado reivindicou o primeiro ataque contra uma posição militar do Estado judeu desde o início do cessar-fogo.
Segundo a facção, a ofensiva atingiu fazendas de Shebaa, na região de Golã —um território reivindicado por Síria, Líbano e Israel que Tel Aviv ocupou durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. A ofensiva envolveu dois mísseis e não causou vítimas, de acordo com o Exército israelense, e levou o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu a prometer uma retaliação.
O ataque foi seguido por acusações mútuas, mesmo roteiro de todas as violações do cessar-fogo até agora. O Hezbollah afirma que a ação é uma resposta aos ataques de Israel, que, por sua vez, também acusa o grupo de desrespeitar o acordo.
Nos últimos dias, o Estado judeu realizou diversos bombardeios em regiões do Líbano para onde a população deslocada está retornando. Desde outubro do ano passado, quando Tel Aviv e Hezbollah passaram a trocar ataques, centenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas —grande parte entre setembro e novembro deste ano, quando as ofensivas se intensificaram.
Nesta segunda, Israel já havia atacado três regiões no leste e no sul do Líbano, segundo autoridades do país.
O primeiro, contra um posto do Exército libanês em Hermel, região do Vale de Bekaa, no leste, deixou um soldado ferido, afirmou o Exército libanês. O segundo matou uma pessoa no vilarejo de Marjayoun, no sul, de acordo com o Ministério da Saúde. O terceiro, em Nabatieh, a 12 quilômetros da fronteira, matou um membro da segurança estatal.
Segundo a Agência Nacional de Notícias do Líbano, as forças israelenses ainda dispararam duas granadas de artilharia em direção à cidade libanesa de Beit Lif, enquanto tiros de metralhadora visaram Yaroun.
Nenhum ferido foi relatado nesses dois incidentes, acrescentou a agência, mas um ataque separado de Israel teria deixado feridos na cidade de Talousa.
O Exército israelense não respondeu imediatamente a perguntas da agência de notícias Reuters sobre os incidentes em Marjayoun e Nabatieh, mas reconheceu que um soldado libanês foi ferido em um de seus ataques.
Mais cedo, o presidente do Parlamento libanês e aliado do Hezbollah, Nabih Berri, havia acusado Israel de cometer pelo menos 54 violações do acordo até agora. Em um comunicado, o político pediu ao comitê encarregado de supervisionar a trégua, integrado por Estados Unidos e França, para obrigar Israel “a pôr fim às suas violações e a se retirar” do território libanês.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, negou as acusações. “Israel está comprometido com a implementação bem-sucedida do cessar-fogo, mas não aceitaremos um retorno à situação de 6 de outubro de 2023”, disse ele em um comunicado.
Israel costuma argumentar que a trégua foi desrespeitada quando combatentes retornaram ao sul do país, uma vez que o acordo estabelecia um período de 60 dias no qual o Exército e as forças de segurança do Líbano retomariam o controle dessa região parcialmente controlada pelo Hezbollah.
Netanyahu usou termos duros para se referir ao ataque do Hezbollah, qualificado por ele como uma “grave violação”. “Israel vai responder com contundência”, afirmou o premiê em um comunicado. “Estamos decididos a manter o cessar-fogo e responder a qualquer violação por parte do Hezbollah, seja leve ou grave.”
Apesar das violações, o Pentágono afirmou nesta segunda que a trégua ainda estava em vigor. “De modo geral, nossa avaliação é que, apesar de alguns dos incidentes que estamos observando, o cessar-fogo está se mantendo”, disse a jornalistas o porta-voz do Departamento de Defesa americano, o major-general da Força Aérea Patrick Ryder.