Os dois grandes partidos de centro-direita da Irlanda, o Fine Gael e o Fianna Fail, apareciam à frente na apuração dos votos das eleições legislativas que ocorreram na sexta-feira (29), mas devem precisar de pelo menos um parceiro menor para obter a maioria no Parlamento.
O Fine Gael e Fianna Fail estavam com 20,5% e 21,9% dos votos, respectivamente, enquanto o Sinn Féin, sigla de esquerda, aparecia com 19,1%, segundo contagem da emissora de televisão irlandesa Virgin Media New.
Com os centro-direitistas descartando um acordo com o Sinn Féin, a principal questão das duas legendas à frente é quão próximos dos 88 assentos necessários para a maioria eles poderiam chegar, e se precisariam de um ou dois partidos de coalizão para ultrapassar essa margem. Ao todo, a Dail, a Câmara Baixa do Parlamento irlandês, conta com 174 deputados.
“Claramente há um caminho para o governo”, disse Micheal Martin, líder do Fianna Fail e vice-primeiro-ministro, à emissora estatal RTE quando questionado sobre um acordo com o Fine Gael e outro partido. “Mas muito dependerá de quantos assentos os respectivos partidos conseguirem.”
O primeiro-ministro Simon Harris, do Fine Gael, também disse que vê um “caminho para um governo”, com um possível papel de liderança de seu partido. “É provável, acredito, que será possível trabalhar para formar um governo estável e centrista”, disse à rádio Newstalk.
O Fianna Fail pode conseguir até 48 assentos, e o Fine Gael, 39, deixando-os muito próximos dos 88 assentos, disse o ex-professor de ciência política do Trinity College Dublin, Michael Gallagher, à RTE, citando as contagens de votos.
As opções mais prováveis para uma parceria seriam os partidos Trabalhista, de centro-esquerda, e o Social-Democrata, que podem conquistar oito assentos cada, segundo Gallagher. Já os Verdes, partido com o qual o Fine Gael e o Fianna Fail formaram coalizão após as eleições de 2020, nas quais o Sinn Féin foi o mais votado, correm o risco de perder todos os seus 12 assentos, segundo o líder Roderic O’Gorman.
A necessidade de buscar mais siglas para alcançar a maioria pode, no entanto, levantar questões sobre a estabilidade do próximo governo, resultando em negociações prolongadas ou em uma coalizão instável antes da posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja promessa de reduzir o imposto corporativo e impor tarifas representa uma ameaça à economia da Irlanda.
O pleito foi convocado pelo primeiro-ministro da Irlanda depois da aprovação de um orçamento de € 10,5 bilhões (R$ 66 bilhões) que começou a colocar dinheiro nos bolsos dos eleitores durante a campanha, algo possibilitado por bilhões de euros de receitas fiscais de multinacionais estrangeiras instaladas no país.
Uma série de erros, no entanto, impediu o Fine Gael de conquistar a liderança —uma delas foi um vídeo viral de Harris se afastando de Charlotte Fallon, uma cuidadora de pessoas com deficiência que acusava o governo de ignorar a área assistencial, na cidade de Kanturk.
Antes do pleito, uma pesquisa de boca de urna apontava o Sinn Féin com 21,1% dos votos, praticamente empatado com o Fine Gael, de Simon Harris, que aparecia com 21%, enquanto o Fianna Fail tinha 19,5%.
O Sinn Féin, por outro lado, perdeu parte dos apoios que tinha devido à insatisfação com políticas de imigração consideradas liberais.