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Notre-Dame: veja antes e depois de catedral em Paris – 30/11/2024 – Mundo

As novas imagens da catedral de Notre-Dame de Paris foram transmitidas ao vivo pela TV na sexta-feira (29), durante visita do presidente francês Emmanuel Macron, mostrando ao público pela primeira vez a área interna do edifício desde que grande parte dela foi destruída ou danificada em um grande incêndio, em 2019.

Da torre aos vitrais, ela foi completamente transformada. Não foi apenas uma reforma após o incêndio, mas uma revisão completa, incluindo a remoção de décadas de resíduos e fuligem acumulados desde a última restauração.

A catedral gótica não ficou pronta para receber fiéis e visitantes durante os Jogos Olímpicos deste ano na capital francesa, como teria desejado Macron, mas reabrirá ao público no dia 7 de dezembro.

A seguir, conheça algumas das principais características do trabalho de reparo e como ele foi alcançado.

O retorno da torre

O colapso da torre foi o clímax do incêndio de 2019. Muitas pessoas pensaram que ela era medieval, mas, na verdade, a original foi retirada na década de 1790 porque era considerada perigosa.

A substituta da original, que queimou há cinco anos, foi colocada décadas depois como parte de uma reconstrução neogótica conduzida pelo arquiteto Eugène Viollet-Le-Duc.

Desta vez, os carpinteiros usaram uma mistura entre o tradicional e o computadorizado para projetar e construir a enorme base de madeira.

Ela foi içada para sua posição pelo maior guindaste da Europa, então uma estrutura de andaime foi montada, permitindo que os trabalhadores encaixassem a estrutura.

Como o resto do telhado, a torre é revestida com chumbo. No topo, um novo galo dourado foi instalado para substituir o original que caiu no fogo. Ele foi recuperado, mas estava muito danificado para voltar.

Dentro do novo galo estão relíquias sagradas, incluindo um espinho da Coroa de Espinhos da catedral e um pergaminho com os nomes de 2.000 pessoas que trabalharam na reforma.

Calcária luminoso

A característica mais marcante da catedral reformada é a luminosidade das pedras. Isso porque todos os blocos de calcário foram limpos ou, em algumas partes, substituídos.

A pedra de substituição foi obtida em pedreiras no norte da França. Especialistas conseguiram detectar pequenas características na pedra original —como certos fósseis— que os ajudaram a determinar a origem geográfica.

A grande maioria da alvenaria estava intacta, mas coberta não apenas por antigas camadas de poeira e sujeira do passado, mas também fuligem e pó de chumbo do fogo. Para limpá-la, foram usados aspiradores de alta potência e, em seguida, um spray que descascou a alvenaria para remover a sujeira.

No geral, cerca de 40.000 metros quadrados de pedra foram limpos.

Para reconstruir o teto abobadado abaixo de onde a torre estava, os pedreiros tiveram que reaprender os princípios da arquitetura gótica —usando uma estrutura de madeira para colocar as pedras no lugar e coroando tudo com a pedra angular.


Teto de madeira

No incêndio, o telhado de madeira queimou todos os 100 metros dele. Nenhuma das madeiras de 800 anos sobreviveu. Mas a decisão foi tomada rapidamente para substituí-las o mais fielmente possível —com carvalho das florestas da França.

Por feliz coincidência, um arquiteto chamado Remi Fromont havia conduzido um estudo aprofundado da estrutura da madeira como parte de sua tese universitária. Isso serviu de modelo para carpinteiros.

Cerca de 1.200 carvalhos tiveram que ser encontrados. Eles deveriam ser retos, livres de nós, e com 13 metros de comprimento.

Grande parte da madeira foi serrada à mão e depois lapidada com a ajuda de machados, assim como as vigas eram no século 13.

Ao todo, há 35 fermes (estruturas triangulares que suportam o peso) ao longo do edifício.

Gárgulas escaneadas digitalmente

Muitas das esculturas externas —incluindo as famosas (mas não medievais) gárgulas e quimeras— foram danificadas por mangueiras de alta pressão usadas para combater o fogo. Muitas já estavam em más condições por causa da poluição.

Uma oficina foi montada em frente à catedral para consertar e, quando necessário, substituir essas estátuas. Cinco das gárgulas (produtos da imaginação de Viollet-le-Duc) foram escaneadas por computador e, em seguida, refeitas em calcário.

Dentro da catedral, as esculturas mais famosas —como A Virgem do Pilar e O Voto de Luís 13— saíram ilesas. Mas todas foram limpas e receberam pequenos reparos.

As muitas pinturas da catedral também retornaram à vida. Elas incluem os “Mays” —cenas enormes da vida de Cristo, que eram um presente anual para a catedral no século 17 dos ourives de Paris.

O retorno da cor

Uma das mudanças mais notáveis na catedral é o retorno da cor ao coro e a muitas das capelas laterais.


Aqui, novamente, o incêndio ofereceu uma oportunidade de redescobrir as glórias que jaziam sob décadas de sujeira e fuligem.

Azuis, vermelhos e dourados ressurgiram, combinando-se com a cremosidade do calcário rejuvenescido para criar uma leveza que deve estar muito mais próxima da experiência original.

Isso também vale para os vitrais. Eles estavam intactos, mas sujos. Eles foram desmontados, removidos, limpos e devolvidos. As grandes rosáceas foram deixadas em paz.

Mais uma vez, muito do que o visitante vê hoje não é realmente medieval, mas o produto da imaginação medieval de Viollet-le-Duc.

8 mil tubos do grande órgão foram limpos

O grande órgão, construído no século 18, não foi afetado pelo calor ou pela água na noite do incêndio. O que causou isso foi o acúmulo de uma poeira amarela —monóxido de chumbo— em seus canos.

Toda a estrutura — 12 metros de altura, seis teclados, 7.952 canos, 19 caixas de vento— foi desmontada e levada para oficinas fora de Paris.

Forros de couro de ovelha foram substituídos e novos controles eletrônicos foram adicionados. Após a reinstalação, o instrumento foi reajustado —uma tarefa que leva vários meses, pois cada cano é minuciosamente alterado.

No dia 7 de dezembro, as primeiras palavras do arcebispo de Paris ao entrar na catedral recuperada serão: “Desperte, ó órgão, que o louvor a Deus seja ouvido!”.

Os oito sinos da torre norte também foram removidos em 2023 —uma operação enorme devido ao seu tamanho. Eles foram limpos e tratados e, em seguida, devolvidos algumas semanas atrás. O maior dos sinos é chamado Emmanuel.

Os visitantes também notarão uma mudança no layout litúrgico da catedral, cujo altar, púlpito e assentos foram todos destruídos. Um altar de bronze simples foi criado, com novos cálices para os sacramentos.

Há 1.500 novas cadeiras de madeira para a congregação e um novo relicário atrás do coro para segurar a Coroa de Espinhos.

Novas vestimentas também foram criadas para o clero pelo designer Jean-Charles de Castelbajac.

A revelação de estrutura do século 13 enterrada

O trabalho de restauração em Notre-Dame foi uma bênção para os arqueólogos, que puderam acessar áreas subterrâneas que datam de centenas de anos antes da construção da catedral.


Entre os muitos conjuntos de ossos que eles encontraram estavam aqueles que se acredita pertencer ao poeta renascentista Joachim du Bellay.

Outra grande descoberta foram os restos cuidadosamente enterrados do crivo medieval, que originalmente separava a parte sagrada da igreja da congregação.

Essa divisória de pedra de 11 metros, construída no século 13, tinha esculturas ricas e coloridas retratando a vida de Cristo. Foi desmontada no século 18 após uma mudança nas regras da igreja.

Mas o clero certamente esperava que os restos fossem redescobertos porque as partes parecem ter sido colocadas com muito cuidado sob o solo. Espera-se que elas possam ser reunidas e colocadas em exposição.

O que vem depois?

Apesar do sucesso da reforma, o trabalho não está completo.

Ainda há andaimes ao redor de grande parte da extremidade leste e, nos próximos anos, as paredes externas da abside e da sacristia precisarão de tratamento.

Também há planos para redesenhar a esplanada e criar um museu no vizinho hospital Hôtel-Dieu.


Esta reportagem foi originalmente publicada aqui.

Fonte: Folha de São Paulo

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