Na segunda-feira (21), um tribunal condenou a 20 anos de prisão o indivíduo que, ao expor mensagens de Sergio Moro, pavimentou o caminho para Lula retornar à Presidência, afastando Bolsonaro. Vivemos tempos que, por vezes, parecem difíceis de decifrar.
Há quase uma década, quando publiquei o livro “As Grandes Agências Secretas”, o cerne da extensa pesquisa era elucidar a anatomia da inteligência de informações —desvelar como as nações protegiam seus interesses mantendo segredos entre si.
Naquela época, o mundo da espionagem tinha um quê de romance, com espiões frequentemente descritos como “carismáticos” ou “charmosos”, quase como estrelas de cinema de Hollywood. Apesar de cientes de que essa não era a realidade completa, o mundo parecia mais simples.
Atualmente, os espiões tradicionais foram substituídos por hackers, frequentemente reduzidos à etiqueta de “nerds”, que contrastam fortemente com o glamour da “licença para matar” dos espiões de outrora.
Há dez anos, estávamos apenas na terceira geração da internet, com velocidades de transmissão e capacidades de processamento ainda incipientes. A revolução tecnológica que se seguiu não apenas extinguiu a imagem romântica da espionagem. Esses novos “espiões”, sem a aura de romantismo, contribuíram para minar um pilar democrático: a liberdade de expressão.
Acreditava-se que mais informação resultaria em maior liberdade. No entanto, essa democratização da voz pública acabou por apresentar desafios inesperados à própria democracia, por vezes maiores do que as ameaças das tradicionais ditaduras.
Alguns argumentam que vivemos uma nova “idade das trevas”, em que desinformação e manipulação se vestem de liberdade, corroendo nossa ética de maneiras quase imperceptíveis, comparando o espaço virtual a outro mito da caverna no qual as sombras e a luz trocaram de lugar.
Anteriormente, a cidadania operava em territórios claros. Fronteiras e idiomas ajudavam a definir limites. Agora, a tecnologia, embora proporcione infinitas possibilidades de comunicação, também ameaça nossas liberdades.
Defender essa liberdade é imperativo, e essa tarefa recai sobre os ombros daqueles que mais entendem sua essência: os jornalistas. Solicitar sua vigilância nesse mundo volátil e incerto é vital para discernir verdade de falsidade.
Nesta era sem fronteiras e em constante mudança, os espiões tradicionais parecem deslocados, sendo superados por hackers sem a mesma nobreza de propósito. Também por isso, mais do que nunca, precisamos do melhor jornalismo de sempre.
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