“Eu estava na cozinha, fazendo duas refeições para clientes do meu restaurante, quando abri o primeiro vídeo do acidente e vi a minha irmã agonizando”. O relato forte é da chefe de cozinha Janaína Pacheco, que perdeu três familiares no acidente com ônibus escolar, na Serra da Barriga, em União dos Palmares, nesse último domingo (24). A tragédia deixou 18 pessoas mortas e 30 feridos.
Janaína, de 43 anos, é proprietária de um restaurante no bairro de Jacarecica, em Maceió. Ela perdeu duas irmãs e uma prima no trágico acidente. As vítimas são: Tamires Ferreira, de 35 anos, Helloise Ferreira, de 21 anos, e Maitê Francine Romão, de apenas 5 anos.
Em entrevista exclusiva ao TNH1, Janaína conta que logo após receber informações sobre a tragédia, ela se deslocou para União dos Palmares, onde procurava notícias sobre Helloise, uma das irmãs, que é estudante de farmacologia. Porém, ao chegar na cidade, a chef e os familiares não estavam conseguindo contato com Tamirez, sua segunda irmã. Mais tarde, ela veio a descobrir que as duas irmãs haviam perdido a vida no acidente.
“Eu estava trabalhando, com dois pratos no fogão, quando o meu marido me disse que havia acontecido um acidente na Serra da Barriga. Eu descobri que a minha irmã foi uma das vítimas do acidente em um grupo de notícias, de uma rádio local, no Whatsapp. Quando abri o grupo, vi um vídeo, onde a minha irmã aparece agonizando e pedindo por socorro. Eu estava com o restaurante cheio de clientes e, rapidamente, pedi para o meu marido fechar o restaurante. Nos deslocamos para União, onde, ao chegar no local, não conseguimos contato com Tamires, a minha outra irmã”.
Janaína relata que descobriu que havia perdido o segundo familiar no acidente ao entrar em contato com o Instituto Médico Legal (IML). Ela esteve no local do acidente horas depois da tragédia, para buscar informações sobre Heloise, mas o corpo não estava lá.
“Eu fui no local do acidente procurar a minha irmã. Perguntei aos socorristas se havia mais alguma pessoa para ser resgatada, porém eles me disseram que todos já haviam sido retirados do local. Foi aí que eles me pediram para procurar o IML e, neste instante, descobri que a minha outra irmã havia morrido também”.
Familiares em choque com o acidente
Janaína conta que a notícia da segunda perda foi ainda mais chocante. O pai dela, que é um senhor de idade, teria passado mal após receber a notícia das mortes das filhas.
“Foi uma notícia perturbadora. Ficamos sem saber o que fazer. O meu pai apagou após saber da notícia, ficamos em choque. Ele e a esposa dele são duas pessoas de idade”.
Já na manhã de segunda-feira, a chef de cozinha descobriu que havia perdido um terceiro familiar: sua prima, a pequena Maitê, de apenas 5 anos.
“Eu fui ao IML para reconhecer os corpos. Eu tive que buscar três corpos. Ela tinha apenas 5 anos, era uma menina cheia de Luz e de vida. Era muito linda, um anjo nas nossas vidas. A mãe dela sobreviveu ao acidente e já recebeu alta”.
Vítimas faziam primeira visita ao evento “Pôr do sol”
Sobre a ida dos familiares para a Serra da Barriga, Janaína revelou que foi a primeira vez que as vítimas haviam ido ao evento “Pôr do Sol”.
“Era a segunda vez desse evento na cidade, que é feito e divulgado pela prefeitura. Elas nunca tinham ido até lá. Thamirez mora em Maceió, e estava visitando a mãe em União. Ela era formada em Letras no IFAL. Já a Heloise é estudante de Farmácia, e estava no terceiro período da faculdade. Elas foram para um passeio e morreram”.
Não foi “tragédia”
Ao TNH1, Janaína ainda revelou que contratou um advogado para acompanhar as investigações. Para a chef de cozinha, o acidente não foi uma simples tragédia e houve negligência de diferentes órgãos.
“Houve uma série de falhas e negligências que provocaram esse acidente. Não houve tragédia. Ninguém quer assumir a culpa, mas houve falhas desde a fiscalização do ônibus, da quantidade de pessoas que estavam no veículo e no local do acidente. Houve consequências por causa dessas falhas, eu estava com três corpos na minha casa. Muitos querem se esquivar da responsabilidade, mas devem ser responsabilizados. Eram vidas humanas. Usaram um ônibus velho para subir naquele local, que é difícil de subir até de carro de passeio”.
Janaína ainda disse que já foram registrados acidentes com veículos menores no local.
“Já houve outros acidentes com veículos menores nessa subida da Serra da Barriga. Não há fiscalização no trajeto. É corriqueiro a gente ver pessoas em motocicletas e sem capacetes subindo a serra ou andando pela cidade. Tem que ter mais cuidado com a vida humana. Veja a quantidade de mortes que poderiam ter sido evitadas. Quantas mortes vão acontecer por negligência? Está tudo errado, e esse caso não pode ser esquecido ou deixado de lado”.
As marcas do acidente vão continuar
Para a família de Janaína Pacheco, o acidente deixou traumas irreversíveis. A dor de conviver com a perda tem refletido na saúde do pai e da esposa dele.
“Eu perdi a minha mãe em um acidente de trânsito. O meu é idoso, se casou, e agora está vivendo essa perda. Depois do que aconteceu, ele e a esposa estão vivendo à base de remédios. Ele está sendo acompanhado por mim e por outros familiares, e precisa ser estimulado para fazer as coisas”, finalizou.