O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que autoridades haitianas que demitiram o primeiro-ministro Garry Conille, nomeado para o cargo havia cerca de seis meses em uma tentativa de estabilizar o país, eram “completamente idiotas”, de acordo com um vídeo que circula nas redes sociais.
O vídeo foi gravado durante a visita de Macron ao Rio de Janeiro para a cúpula dos líderes do G20. Ao lado do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que acompanhou o francês, Macron respondeu a um haitiano que acusou ele e a França de “serem responsáveis pela situação no Haiti“.
“Francamente, foram os haitianos que mataram o Haiti ao permitir o tráfico de drogas”, respondeu Macron. “O primeiro-ministro era ótimo, eu o defendi, mas ele foi demitido”, acrescentou, referindo-se à demissão Conille pelo conselho presidencial de transição do Haiti.
“É terrível. É terrível. […] Eles são completamente idiotas, nunca deveriam tê-lo tirado, o primeiro-ministro era maravilhoso”, continua Macron antes que o vídeo seja cortado.
O Ministério das Relações Exteriores do Haiti anunciou, nesta quinta-feira (21), que convocou o embaixador francês no país após as declarações classificadas por Porto Príncipe como inaceitáveis de Macron.
O responsável pela diplomacia haitiana, Jean-Victor Harvel Jean-Baptiste, transmitiu ao embaixador francês, Antoine Michon, a indignação do governo de transição do Haiti diante do que considera “um gesto hostil e inadequado que deve ser corrigido”, segundo comunicado do ministério.
Conille tentou impedir sua destituição do cargo de premiê, alegando que o conselho presidencial não tinha poder para fazê-lo e que somente o Parlamento, um órgão legislativo que o país não possui, poderia fazê-lo. Ele foi substituído no dia 11 de novembro pelo empresário Alix Didier Fils Aimé.
Em um discurso em Valparaíso, no Chile, para onde viajou após a visita ao Rio, nesta quinta, o presidente francês falou sobre a crise humanitária que assola o Haiti.
“A França continuará prestando seu apoio ao povo haitiano e a todas as iniciativas voltadas para restabelecer a segurança”, disse Macron, dizendo que também apoiará medidas para recriar as condições que conduzam a uma situação política estável no país carinho.
A mudança de primeiro-ministro abre um novo período de incertezas no Haiti, que não tem um líder eleito desde o assassinato de Jovenel Moïse, em 2021, e tem sofrido com décadas de violência de gangues, pobreza e instabilidade política.
Mergulhado em uma crise política, de segurança, socioeconômica e humanitária, alimentada pela violência de gangues que controlam 80% da capital Porto Príncipe, o país caribenho vive hoje situação caótica e complexa.