Em quase todas as reuniões que o presidente eleito Donald Trump realiza em Mar-a-Lago, na Flórida, ao seu lado está alguém que não foi eleito para nada e que, há apenas alguns meses, não tinha nenhum relacionamento significativo com ele.
A pessoa mais rica do mundo ascendeu a uma posição de influência extraordinária e não oficial no processo de transição de Trump, desempenhando um papel que o torna indiscutivelmente o cidadão privado mais poderoso dos Estados Unidos.
Ele participou de quase todas as entrevistas de emprego com a equipe, criou laços com a família Trump, e está tentando colocar seus amigos do Vale do Silício em posições de destaque no próximo governo.
Trump anunciou na terça-feira (12) que Musk ajudaria a liderar o que ele chamou de Departamento de Eficiência Governamental, um novo órgão para “desmantelar a burocracia do governo”. Mas a verdadeira influência de Musk no esforço de transição de Trump vai muito além desse cargo.
Ele assumiu uma aura quase mítica no círculo interno de Trump. Em Mar-a-Lago, em uma noite recente, ele entrou na sala de jantar cerca de 30 minutos depois do presidente eleito e foi aplaudido de pé da mesma forma, de acordo com duas pessoas que testemunharam a cena
Musk, muitas vezes com seu filho X, de 4 anos, no colo, passou a maior parte da última semana em Mar-a-Lago, participando não apenas de entrevistas, mas de quase todas as reuniões e de muitas refeições realizadas por Trump. Ele voltou brevemente para Austin, no Texas, onde tem uma residência de US$ 35 milhões, antes de retornar na sexta-feira, onde comeu na sala de jantar e no pátio de Mar-a-Lago, passeou pela loja de presentes e passou algum tempo no campo de golfe —tudo ao lado do presidente eleito.
“Estou feliz por ser o primeiro amigo!”, respondeu ele a um seguidor neste fim de semana.
Este artigo é baseado em cerca de uma dúzia de entrevistas com doadores republicanos, políticos e amigos de Musk, muitos dos quais insistiram no anonimato para falar sobre conversas particulares.
Publicamente, apenas na primeira semana da transição, Musk endossou o senador Rick Scott, da Flórida, para ser o próximo líder da maioria no Senado; pediu aos senadores republicanos que aceitassem as nomeações de recesso para Trump; sugeriu que todos os funcionários do governo enviassem um “email semanal de realizações”; pediu que o Departamento de Educação fosse fechado; solicitou recomendações para novas funções administrativas que ele poderia levar a Trump; questionou se o Canadá estava morrendo; e postou muitos memes com o tema Trump.
Nos bastidores, o comportamento de Musk tem sido muito mais prático do que até mesmo alguns de seus aliados esperavam. Seu papel, aos olhos de alguns assessores de Trump, supera até mesmo o de Howard Lutnick e Linda E. McMahon, os dois líderes formalmente nomeados da transição de Trump.
Ele participou de telefonemas com líderes estrangeiros, incluindo o presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, e o presidente Volodimir Zelenski, da Ucrânia, e planeja se reunir pessoalmente nesta semana com o presidente Javier Milei, da Argentina, quando Milei visitar Mar-a-Lago. Musk também participou de pelo menos uma reunião de segurança nacional com Trump ao lado de Stephen Miller, um dos principais assessores, e Donald Trump Jr., de acordo com uma pessoa informada sobre o encontro.
Na quarta-feira, Musk deve acompanhar Trump em uma reunião com os republicanos da Câmara no Capitólio, de acordo com uma pessoa próxima ao presidente eleito.
Musk geralmente não apresenta novos nomes para funções específicas, de acordo com pessoas familiarizadas com o processo, normalmente avaliando apenas pessoas que a equipe de transição de Trump já está considerando.
Ele expressou seu apoio à decisão de Trump de não nomear Mike Pompeo ou Nikki Haley para um cargo sênior de segurança nacional, embora tenha expressado, sem sucesso, sua preocupação em dar à deputada Elise Stefanik, de Nova York, um cargo que a tiraria do Congresso. (A ela foi oferecido o cargo de embaixadora dos EUA nas Nações Unidas).
Musk também tem um bom relacionamento com Brendan Carr, o titular da Comissão Federal de Comunicações, que é visto como um dos favoritos para ser o próximo presidente do órgão. O bilionário recentemente expressou seu apoio a Carr em conversas particulares em Mar-a-Lago.
Karoline Leavitt, porta-voz de Trump, disse ao The New York Times que Musk e Trump eram “grandes amigos e líderes brilhantes que trabalham juntos para tornar os Estados Unidos grandes novamente”.
Em um nível pessoal, Trump parece estar encantado com Musk, adotando-o quase como um membro da família. Uma foto publicada nas mídias sociais por Tiffany Trump, a filha mais nova do republicano, mostrava toda a família, incluindo os netos, em Mar-a-Lago com a mensagem “Pai, estamos muito orgulhosos de você!”
Evidentemente, Musk estava bem no meio, segurando seu filho X.
“Elon, entre na foto com seu filho”, disse Trump a ele, de acordo com um vídeo do momento publicado nas redes. “Temos que colocar Elon com seu filho —seu filho lindo e perfeito”.
No domingo, o neto mais velho de Trump, Kai, foi um pouco mais direto em uma foto do campo de golfe: “Elon está alcançando o status de tio”.
Musk disse que está recrutando uma “equipe A” do setor privado para ajudar a reformular o governo e que garantirá “que revolucionários maniacamente dedicados ao pequeno governo se juntem a esta administração”. Não está claro como esses outros executivos de tecnologia e o próprio Musk, cuja empresa de foguetes SpaceX tem contratos federais, evitarão conflitos de interesse ao trabalharem com o governo.
Segundo o Times, Musk recomendou dois colegas executivos da SpaceX, Terrence J. O’Shaughnessy e Tim Hughes, para cargos na administração. Ele também tem indicado outros amigos e associados para cargos —ou pelo menos abriu o caminho para que eles tenham alguma influência.
Joe Lonsdale, um investidor em tecnologia próximo a Musk, não está planejando desempenhar um papel formal na transição de Trump, de acordo com uma pessoa informada sobre o assunto, e ele disse publicamente que não quer se juntar à administração “em tempo integral”, mas preferiria desempenhar um papel de consultor em tempo parcial.
Outro amigo de Musk, Ken Howery, foi embaixador na Suécia durante o primeiro governo Trump e disse a outras pessoas que está interessado em novo cargo diplomático. Outra pessoa que poderia ter alguma influência é Marc Andreessen, um importante investidor em tecnologia que, assim como Musk e Howery, passou a noite da eleição em Mar-a-Lago.
Musk também incentivou Palmer Luckey, cofundador da startup de tecnologia militar Anduril, a ajudar o governo de alguma forma, dizendo na plataforma social X que era “muito importante” o envolvimento de “empresas empreendedoras como a sua”. Luckey disse em uma entrevista na televisão que havia conversado com a equipe de transição de Trump sobre como poderia ajudar.
O amigo de Musk que atualmente parece ter a influência mais direta é David Sacks, um ex-colega que remonta aos seus anos no PayPal.
Sacks, que organizou uma festa de arrecadação de fundos para Trump em San Francisco em junho, desenvolveu uma linha direta de comunicação por telefone com o presidente eleito. Ele tirou uma foto com Musk e Trump na noite da eleição e passou a maior parte da noite perto do republicano, além de ter pressionado publicamente para que Robert F. Kennedy Jr. recebesse um cargo na administração.
Sacks, um capitalista de risco, disse a amigos desde o dia da eleição que, como ele lidera um fundo ativo, não seria prático para ele desempenhar um papel mais formal na administração. Mas ele, assim como Musk, ajudou a fortalecer a ideia de neoconservadores ganharem cargos no governo.