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Equador: Votação vai decidir sobre petróleo na Amazônia – 19/08/2023 – Mundo

Os equatorianos vão às urnas neste domingo (20) para escolher um novo presidente, mas também para ganhar voz nas políticas ambientais de seu país, em meio a um pleito marcado por violência política.

Além de votar em um dos oito candidatos que concorrem à Presidência, os eleitores decidirão o futuro de uma polêmica operação de perfuração de petróleo na floresta amazônica.

É um plebiscito sobre o destino do “Bloco 43”, um grupo de campos de exploração de petróleo localizados no Parque Nacional Yasuni, uma das áreas ambientais mais ricas do mundo.

O Yasuni cobre mais de 1 milhão de hectares e abriga pelo menos 2.000 espécies de árvores e arbustos, 204 de mamíferos, 610 de pássaros, 121 de répteis, 150 de anfíbios e 250 de peixes. É também o lar de várias populações indígenas, incluindo pelo menos duas das últimas tribos “isoladas” do mundo —aqueles que voluntariamente recusaram a interação com o mundo exterior.

A perfuração ocorre no “Bloco 43” desde 2016. Isso ocorreu após a tentativa fracassada do hoje ex-presidente Rafael Correa de garantir um pacote de compensação global para manter o petróleo no solo.

Segundo estimativas do governo, o “Bloco 43” fornece 12% dos 466 mil barris de petróleo produzidos por dia pelo Equador. Um em cada quatro equatorianos vive na pobreza, segundo dados do Banco Mundial.

O governo do atual presidente, Guillermo Lasso, que desencadeou uma eleição antecipada em maio em uma tentativa de evitar processos de impeachment, diz que o fechamento das operações custará ao país US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões) por ano em receitas perdidas.

Mas organizações ambientais e de direitos indígenas dizem ser um preço pequeno. “Os equatorianos terão a chance de ajudar a proteger nosso ambiente e as comunidades de Yasuni”, diz à BBC Pedro Berneo, um dos líderes do Yasunidos, grupo ambiental que fez campanha a dez anos pelo plebiscito.

“Esperamos que nosso exemplo inspire outros países a fazerem o mesmo.”

Para a líder indígena Alicia Cahuiya, da tribo Waorani, um dos povos indígenas que vivem em Yasuni, a reserva natural desempenha um papel crucial no combate à crise climática, ajudando a capturar o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. “O Yasuni tem sido como uma mãe para o mundo. Precisamos levantar nossas vozes para que nossa mãe se recupere, não se machuque, não seja espancada”, disse ela.

Os cientistas também alertaram que a destruição da Amazônia, que se estende por oito países sul-americanos, inclusive o Brasil, está comprometendo sua capacidade de atuar como um “sumidouro de carbono”, absorvendo mais carbono do que liberando. Sondagens de diferentes institutos de pesquisa realizadas em junho e julho mostraram que a maioria dos equatorianos votaria pelo fim da exploração de petróleo —mas elas também mostraram que muitos eleitores ainda estão indecisos.

Mas nem todos os candidatos à sucessão de Lasso têm defendido abertamente o “sim”.

Luisa González, favorita na corrida presidencial, evitou tocar na polêmica durante a maior parte de sua campanha, mas quebrou o silêncio no início de agosto com uma declaração que deixou o campo anti-petróleo preocupado. “Por que você não pede aos países que mais poluem que depositem US$ 1,2 bilhão em um fundo para nós?”, publicou ela em uma rede social, antes de sugerir que aqueles que propuseram o plebiscito deveriam oferecer alternativas para gerar renda para o país.

Advogada que já trabalhou na Petroecuador, a estatal de petróleo do país, González, 45, também atuou no governo do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) como ministra da Administração Pública.

Pesquisas de opinião indicam que ela não construiu uma vantagem grande o suficiente para evitar um segundo turno em outubro. Seu rival mais próximo, o empresário Jan Topic, prometeu “manter o petróleo no subsolo” em Yasuni. A Amazon Frontlines, um grupo de defesa que apoia as comunidades indígenas, diz que o plebiscito é um momento histórico para as pessoas que vivem em um país produtor de petróleo.

“O modelo de capitalismo de combustível fóssil expirou, e o povo equatoriano tem uma chance única de traçar outro caminho e dar um grande passo na luta para enfrentar a mudança climática.” No entanto, outros dois blocos da Petroecuador na área não seriam afetados pela votação.

A polêmica também atraiu a atenção de celebridades, como o ator de Hollywood Leonardo DiCaprio, bem como a ativista ambiental Greta Thunberg. Mas Gabriela Patricia García García, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, destaca que as preocupações com a segurança estarão em primeiro lugar nas mentes dos eleitores após o assassinato de um dos candidatos presidenciais.

“É importante lembrar que o petróleo ainda é a principal fonte de renda do país”, assinala. “O resultado da votação é juridicamente vinculativo, então as atividades de extração de petróleo terão que parar.”

Este texto foi publicado originalmente aqui.

Fonte: Folha de São Paulo

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