O Kremlin negou, nesta segunda-feira (11), que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tenha falado com o líder da Rússia, Vladimir Putin, nos últimos dias, como relataram ao menos dois veículos de notícias.
“Isso é completamente falso. É pura ficção, é apenas informação falsa”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “Este é o exemplo mais óbvio da qualidade da informação que está sendo publicada agora, às vezes até em publicações bastante respeitáveis.”
Questionado sobre as expectativas para que esse contato ocorra, Peskov afirmou que “ainda não há planos concretos”.
O The Washington Post foi o primeiro a afirmar que a ligação havia ocorrido, citando pessoas com conhecimento do assunto não identificadas. O jornal americano sustentou que Trump teria dito a Putin para não escalar a Guerra da Ucrânia, mencionando a “significativa presença militar de Washington na Europa“.
Em seguida, a agência de notícias Reuters também relatou a ligação, com base em um relato anônimo.
Anteriormente, na quinta-feira (7), o líder russo já havia parabenizado Trump e o elogiado por mostrar coragem quando um atirador tentou assassiná-lo em um comício, em julho. Putin afirmou ainda que seu país estava pronto para o diálogo com o presidente eleito republicano.
Também nesta segunda, um porta-voz do governo alemão afirmou que o premiê Olaf Scholz teve um diálogo “muito amigável e construtivo” com Trump por 25 minutos. Ambos teriam combinado de manter contato, mas não teriam discutido nenhum assunto em profundidade.
A relação entre Putin e Trump é alvo de atenção. Há anos o republicano é acusado por críticos de apoiar o presidente da Rússia em troca de uma interferência nas eleições de 2016, que deram vitória ao republicano, mesmo após uma apuração de três anos feita pelo Departamento de Justiça dos EUA ter descartado a hipótese.
A hipótese é alimentada por declarações de Trump sobre a Rússia, pouco usuais para um ex-presidente americano. Rivais desde os tempos da Guerra Fria, os dois países estão no pior momento histórico de suas relações desde que a União Soviética se esfacelou, em 1991.
No início de 2022, por exemplo, pouco antes de a Rússia invadir a Ucrânia e iniciar o atual conflito no Leste Europeu, Trump chamou Putin de genial. “Você tem que admitir, isso é bem inteligente”, afirmou ele a uma rádio sobre a iminente invasão russa. “Putin declara [parte da Ucrânia] independente. Isso é maravilhoso.”
Além disso, o ex-presidente é um crítico dos gastos destinados à Ucrânia pelos EUA, um dos principais aliados de Kiev na guerra. Ao longo da campanha, o republicano prometeu acabar com o conflito em 24 horas, algo que implicaria muitas concessões a Moscou, de acordo com críticos.
Sua vitória acontece em um momento delicado para a Ucrânia. A guerra, que já dura dois anos e meio, está entrando no que alguns estrategistas dizem ser sua fase final e mais perigosa, à medida que as forças de Moscou avançam em seu ritmo mais rápido.
A Rússia sinaliza há semanas aos EUA e a seus aliados que consideraria uma grande escalada um eventual ataque profundo em território russo com mísseis fornecidos pelo Ocidente. Isso simbolizaria “o envolvimento direto dos países da Otan [aliança militar ocidental], dos EUA e dos países europeus” na guerra, afirmou Putin em setembro.
Nesta segunda, Peskov foi questionado sobre relatos de que o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e o presidente da França, Emmanuel Macron, queriam convencer o presidente dos EUA, Joe Biden, a permitir que a Ucrânia disparasse mísseis Storm Shadow na Rússia.
“Nada pode ser descartado”, disse Peskov. “Nós continuaremos a operação militar especial [como Moscou chama o conflito] até alcançarmos todos os nossos objetivos.”
O chanceler francês, Jean-Noel Barrot, tentou diminuir a tensão nesta segunda. “Diante das especulações sobre como poderiam ser as posições e iniciativas da nova gestão americana, eu penso que nós não devemos pré-julgar e temos que dar tempo [à administração]”, afirmou ele no Fórum da Paz de Paris. “A Ucrânia, e, além disso, a comunidade internacional, teria muito a perder se a Rússia impusesse a lei do mais forte.”