Uma postagem no X (antigo Twitter) no dia seguinte se referiu a um “escândalo monumental que abalou o regime”, enquanto “vídeos pornográficos inundavam as redes sociais”.
Mas acredita-se que eles tenham aparecido originalmente alguns dias antes no Telegram, em um dos canais da plataforma conhecidos por publicar imagens pornográficas.
Eles foram então baixados para os telefones das pessoas e compartilhados entre grupos do WhatsApp na Guiné Equatorial, onde causaram uma tormenta.
Engonga foi rapidamente identificado junto com algumas das mulheres nos vídeos, incluindo parentes do presidente e esposas de ministros e altos oficiais militares.
O governo não conseguiu ignorar o que estava acontecendo e, em 30 de outubro, o vice-presidente Teodoro Obiang Mangue deu às empresas de telecomunicações 24 horas para encontrar maneiras de impedir a disseminação dos vídeos.
“Não podemos continuar a assistir famílias se desintegrarem sem tomar nenhuma atitude”, ele escreveu no X.
“Enquanto isso, a origem dessas publicações está sendo investigada para encontrar o autor ou autores e fazê-los responder por suas ações.”
Como o equipamento de informática estava nas mãos das forças de segurança, a suspeita recaiu sobre alguém de lá, que, talvez, tenha tentado destruir a reputação de Engonga antes de um julgamento.
A polícia pediu que as mulheres se apresentem para abrir um novo processo contra Engonga pelo compartilhamento não consensual de imagens íntimas. Uma delas já anunciou que está processando ele.
O que não está claro é por que Engonga fez as gravações.
Mas ativistas apresentaram o que poderiam ser outros motivos por trás do vazamento explosivo.
Além de ser parente do presidente, Engonga é filho de Baltasar Engonga Edjo’o, chefe da Comunidade Econômica e Monetária da África Central (Cemac), e muito influente no país.
“O que estamos vendo é o fim de uma era, o fim do atual presidente, e há uma [questão] de sucessão e esta é a luta interna que estamos vendo”, disse o ativista equato-guineense Nsang Christia Esimi Cruz, atualmente morando em Londres.
Falando ao podcast BBC Focus on Africa, ele alegou que o vice-presidente Obiang estava tentando eliminar politicamente “qualquer um que pudesse desafiar sua sucessão”.
Disputa pelo poder
O vice-presidente, junto com sua mãe, são suspeitos de estar afastando qualquer um que ameace seu caminho para a presidência, incluindo Gabriel Obiang Lima (outro filho do presidente Obiang de uma esposa diferente), que foi ministro do petróleo por dez anos e depois passou para um papel secundário no governo.
Acredita-se que aqueles na elite saibam coisas uns sobre os outros que prefeririam que não fossem tornadas públicas, e vídeos foram usados no passado para humilhar e desacreditar oponentes políticos.
Há também acusações frequentes de conspiração de golpe, o que alimenta ainda mais a paranoia.
Mas Cruz também alega que as autoridades querem usar o escândalo como uma desculpa para reprimir as redes sociais, que é como muitas informações sobre o que realmente está acontecendo no país vazam.
Em julho, as autoridades suspenderam temporariamente a internet após protestos na ilha de Annobón.
Para ele, o fato de um alto funcionário estar fazendo sexo fora do casamento não é surpreendente, pois faz parte do estilo de vida decadente da elite do país.
O vice-presidente, que foi condenado por corrupção na França e teve bens luxuosos apreendidos em vários países, quer ser visto como o homem que reprime a corrupção e os malfeitos em casa.
No ano passado, por exemplo, ele ordenou a prisão de seu meio-irmão por alegações de que ele vendeu um avião de propriedade da companhia aérea estatal.
Mas neste caso, apesar dos esforços do vice-presidente para impedir a disseminação dos vídeos, eles continuam a ser vistos.
Esta semana, ele tentou parecer mais resoluto pedindo a instalação de câmeras de segurança em escritórios do governo “para combater atos indecentes e ilícitos”, informou a agência de notícias oficial.
Dizendo que o escândalo havia “prejudicado a imagem do país”, ele ordenou que qualquer funcionário encontrado envolvido em atos sexuais no trabalho fosse suspenso, pois isso seria uma “violação flagrante do código de conduta”.
Ele não estava errado ao dizer que a história atraiu muito interesse externo.
Pelos dados do Google, pesquisas com o nome do país dispararam desde o início desta semana.
Na segunda-feira (4/11), no X, “Guiné Equatorial” foi um dos principais termos de tendência no Quênia, Nigéria e África do Sul – superando às vezes o interesse na eleição dos EUA.
Isso deixou alguns ativistas que tentavam contar ao mundo o que realmente está acontecendo no país frustrados.
“A Guiné Equatorial tem problemas muito maiores do que esse escândalo sexual”, disse Cruz, que trabalha para uma organização de direitos humanos chamada GE Nuestra.
“Este escândalo sexual para nós é apenas um sintoma da doença, não é a doença em si. Apenas mostra o quão corrupto o sistema é.”