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Será que os EUA um dia terão uma presidente mulher? – 10/11/2024 – Mundo

Na árdua escalada em direção ao “teto de vidro mais alto e mais difícil”, as candidatas presidenciais persistiram e resistiram. Elas prometeram que eram inabaláveis, que não seriam submissas. Acima de tudo, acreditavam que a nação estava pronta para elas. E, uma por uma, a história mostrou que elas estavam erradas.

Os Estados Unidos foram liderados por homens em seus 248 anos de história, e isso continuará por pelo menos mais quatro. Na quarta-feira (6), a vice-presidente Kamala Harris se tornou o exemplo mais recente da barreira de gênero na Presidência americana, e a segunda a ser derrotada por Donald Trump.

Por todo o país, em mensagens de texto, durante seus deslocamentos, nos escritórios, com amigos e familiares, mulheres processavam a dor de mais uma derrota. Mães consolavam filhas. Outras tentavam descobrir como explicar o que significava, para seus entes queridos e para si mesmas, que Kamala tenha sido derrotada por um homem como Trump —que se vangloriava de retirar os direitos das mulheres, de agarrá-las pela genitália e, por fim, que foi condenado por abuso sexual na Justiça.

“Estou aterrorizada, para ser honesta”, afirma Nicole Saylor, uma eleitora independente em Hendersonville, Carolina do Norte, que votou nos democratas nas últimas eleições. “E estou aterrorizada por viver em um país onde 51% das pessoas votaram em alguém que é preconceituoso e misógino. Estou aterrorizada que metade do país ache que está tudo bem.”

A derrota de Kamala levou muitas mulheres a experimentarem uma onda de tristeza e dor. Mas, desta vez, há outra emoção em jogo.

Quando Hillary Clinton perdeu para Trump em 2016, a raiva e o choque eram tão palpáveis que desencadearam um movimento de protesto com chapéus cor-de-rosa. Agora, diante da realidade de que Trump foi reconduzido ao cargo com ainda mais poder do que no mandato anterior, mulheres em todo o país pareciam resignadas.

“É apenas um vazio na minha cabeça. Não consigo olhar para o futuro”, diz Abby Clark, 42, que trabalha com direito ambiental em Detroit. “Não sei como me planejar. Não consigo imaginar o mundo em que estaremos e como ele será de fato. Só sei que será difícil.”

No discurso em que admitiu sua derrota, na quarta-feira (6), na Universidade Howard, Kamala não falou sobre sua derrota em termos de gênero ou raça. Não houve menção a um “teto de vidro”. Em vez disso, ela falou diretamente aos jovens eleitores que se reuniram para vê-la.

“Nunca parem de tentar tornar o mundo um lugar melhor. Vocês têm poder”, disse a democrata. “E nunca ouçam quando alguém disser que algo é impossível porque nunca foi feito antes.”

Durante sua campanha de 15 semanas, Kamala, uma mulher negra e com ascendência asiática (sua mãe é indiana), tentou afastar as perguntas sobre a importância histórica de sua candidatura —uma estratégia que a libertou para desafiar Trump em questões de política e de caráter.

Quando chegou o dia das eleições, seu discurso final não mencionou nem seu gênero, nem o nome de seu oponente, falando em vez disso sobre como abraçar um futuro de mais união.

A senadora Elizabeth Warren, que concorreu nas primárias do Partido Democrata para a Presidência em 2020, enquadrou a derrota de Kamala como dolorida, mas disse que ela ainda assim representava um progresso na lenta marcha em direção a uma mulher na Casa Branca.

“É extremamente decepcionante não cruzar a linha de chegada em 2024”, disse Warren, que disputou a indicação democrata com a senadora Amy Klobuchar, de Minnesota, e com Kamala há quatro anos. “Mas avançamos muito em apenas uma década, e não vamos desistir.”

Trump, por sua vez, jogou para a plateia masculina agressivamente, e em uma série de ocasiões usou termos misóginos e insultou a inteligência de Kamala, além de dizer que ela não tinha a resistência necessária para liderar o país.

Em um comício na Carolina do Norte nos últimos dias da campanha, ele riu de um comentário de um participante do comício que insinuava que Kamala tinha se prostituído. “Este lugar é incrível”, ele disse.

Kamala não respondeu a nada disso.

Algumas mulheres que apoiaram Trump argumentaram que a derrota de Kamala pouco teve a ver com gênero.

“Acho que os EUA estão prontos para a presidente mulher certa. Kamala não era a certa”, afirma Fanchon Blythe, apoiadora de Trump e dona de um salão de beleza em Lincoln, Nebraska. Ela disse que a ex-deputada democrata Tulsi Gabbard, que se tornou republicana e endossou Trump, seria uma boa candidata.

Christian Ramirez, 34, que trabalha na Universidade Estadual do Arizona e mora na capital do estado, Phoenix, disse que foi democrata a vida toda até as eleições de 2020, quando “mudou de lado” e votou em Trump. Ela votou nele novamente em 2024, dizendo que o partido de Joe Biden a perdeu em várias questões.

“Eles estavam tentando fazer parecer que Trump é contra as mulheres e Kamala é a favor delas”, diz. “Mas não acho que seja isso que importa. Tem a ver com muito mais políticas do que apenas o aborto.”

Ao final, desse modo —mais de 105 anos após a aprovação da 19ª Emenda, que proíbe os estados de negar o direito de voto às mulheres, e 59 anos após a aprovação de uma lei que garante que as mulheres, inclusive negras, possam exercer esse direito—, os americanos novamente decidiram não eleger uma mulher para a Casa Branca.

Nesta quarta-feira (6), ao analisarem os resultados de uma eleição que mostrou uma inclinação em direção a Trump entre eleitores de quase todos os grupos demográficos, democratas questionavam o quanto o gênero de Kamala influenciou sua derrota.

“Acho que tudo importou”, diz Jane Kleeb, presidente do Partido Democrata do estado de Nebraska. “Raça, gênero, cidade, campo etc. Temos seguido a mesma estratégia há 20 anos. Não está funcionando.”

Os EUA estão atrás de várias outras nações —Reino Unido, Alemanha, Israel, Índia, Canadá e, este ano, México— que escolheram mulheres como líderes. Ainda assim, eles estão longe de estar sozinhos. Os homens ainda dominam o mundo numericamente. Só um terço dos países que integram a ONU, por exemplo, já tiveram uma mulher como chefe de governo. Além disso, apenas 13 dos 193 países membros do organismo multilateral são liderados por mulheres hoje, de acordo com o Pew Research Center.

Oito anos atrás, Clinton, ex-primeira-dama, senadora e secretária de Estado, venceu o voto popular, mas perdeu o Colégio Eleitoral para Trump. No discurso em que admitiu sua derrota, Clinton disse que esperava que uma mulher surgisse e quebrasse o teto de vidro “mais cedo do que esperamos”.

A espera continua. E desta vez, o caminho à frente parece mais incerto.

Fonte: Folha de São Paulo

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