A Guerra da Ucrânia teve nesta madrugada de domingo (10) o maior duelo de drones desde que Vladimir Putin invadiu o vizinho, em 2022. Os russos lançaram 145 aviões-robôs contra o rival, que por sua vez enviou 70 modelos.
O foco da ação foi Moscou, que recebeu o maior ataque aéreo da guerra. Foram 34 drones contra a capital russa, 14 a mais do que o recorde anterior, em setembro. Três de seus quatro aeroportos foram fechados por três horas, com 36 voos desviados, e uma pessoa ficou ferida por destroços num subúrbio da cidade.
Desde que Kiev passou a ter meios para atacar Moscou, com um simbólico drone explodindo sobre o Kremlin no começo do ano passado, os russos aumentaram o grau de proteção da cidade.
Nenhum artefato inimigo chegou perto de seu centro desde 2023, e neste domingo o Ministério da Defesa disse ter derrubado os modelos fora dos limites da cidade. A única morte até aqui registrada, em 10 de setembro, foi em uma localidade na zona metropolitana, área com 21 milhões de habitantes.
A rotina da capital seguiu a mesma, com as ruas relativamente cheias em um dia frio, com sol encoberto e 5 graus Celsius. Já shoppings, como os elegantes GUM e Evropeiski, estavam lotados, segundo relato de moradores.
Outros 36 drones foram abatidos em outras regiões no oeste russo. Em Briansk, perto da Ucrânia, foram ao menos 14 aparelhos. Não há relatos ainda sobre danos ou vítimas, embora alguns incêndios tenham ocorrido pela queda de destroços. O maior ataque apenas do lado ucraniano com drones havia envolvido 158 aparelhos, em setembro.
Na mão inversa, a noite parece ter sido mais difícil na Ucrânia, a julgar pelas imagens dos canais locais de Telegram que trazem notícias sobre a guerra. Em Odessa (sul), ao menos duas pessoas ficaram feridas quando um drone atingiu um prédio residencial.
Ao todo, as forças de Kiev disseram ter derrubado 62 dos 145 drones lançados. O recorde anterior era de 109 aparelhos, lançados no maior ataque conjunto com mísseis contra a Ucrânia na guerra, em setembro passado.
Agora, a Rússia mudou sua tática, economizando mísseis para aquilo que analistas preveem ser uma ofensiva de inverno brutal. Drones são muito mais baratos e podem ser usados em grande quantidade, degradando defesas aéreas e infraestrutura em solo.
O objetivo, especulam esses analistas, é deixar o caminho mais aberto para um golpe fatal no sistema energético da Ucrânia, país que já perdeu 2/3 de sua capacidade de produção de eletricidade, justamente na estação fria, que depende de aquecimento.
O foco da agitada noite em Moscou, ainda que irrelevante do ponto de vista militar, busca ganho simbólico em um momento dificílimo para o presidente Volodimir Zelenski.
Suas defesas na região de Donetsk estão sob risco de colapso em alguns setores, arriscando a perda da região anexada ilegalmente por Putin em 2022 em que Kiev mais retém controle.
Apesar do apoio emprestado aos ucranianos pelo Ocidente, Zelenski repetidamente tem dito que ele não se apresentou em forma de ações concretas. O ucraniano quer mais defesa aérea, armas de longo alcance e autorização para empregá-las contra a Rússia. Os caças F-16 que recebeu, além de poucos, não fizeram diferença ainda.
Os EUA, quem de fato manda no ritmo de ajuda militar à Ucrânia, são contra por considerar tal ação uma provocação que pode levar a um confronto direto com Putin, dono do maior arsenal nuclear do mundo.
Para piorar a vida de Zelenski, Donald Trump foi eleito presidente e, apesar de toda imprevisibilidade acerca de seus desígnios, tudo indica que ele quer uma paz na qual Kiev ceda territórios. Ambos os líderes tiveram uma conversa por telefone na semana passada, da qual pouco emergiu além da estranha presença de Elon Musk na linha.
O empresário já tentou patrocinar planos de paz para a região, e tem um ativo precioso: posicionou sua rede de satélites Starlink sobre a Ucrânia, permitindo que os militares do país seguissem com comunicação e internet durante a guerra, apesar das ações russas para bloqueá-las. Se decidir puxar o plugue desta parede, Kiev estará em apuros.