Dana White, 55, é um homem branco, careca e de grandes proporções: tem 1,80 m e músculos salientes, que tensionam as suas camisetas modelo slim fit de cor neutra. Presidente do UFC, o maior esporte de combate da atualidade, ele criou uma instituição alicerçada na pancadaria, avaliada em US$ 12 bilhões, pouco mais de R$ 68 bilhões. White parece ser tudo o que boa parte dos homens gostaria de ser —e o que os pais desses homens gostariam que seus filhos fossem. Homem de sucesso, o empresário é influente e se tornou garoto-propaganda do republicano Donald Trump, recém-eleito presidente dos Estados Unidos.
Para retornar à Casa Branca e cumprir um segundo mandato, Trump convocou um exército da macharia, já aliciado pelo seu discurso belicoso, com promessas de aumentar o efetivo das Forças Armadas, e avesso à imigração. São empresários, influenciadores, políticos e apresentadores de podcasts, que atuam como “clowns” no picadeiro da política espetacular dos nossos dias.
White, por exemplo, serviu a Trump como mestre de cerimônias, na convenção republicana. Nas eleições de 2016 e 2020, o republicano fora apresentado por Melania, sua mulher, e Ivanka, sua filha, numa quebra de protocolo. Neste ano, Trump preferiu que um aliado cumprisse o papel. Durante toda a vida, White não deu palavra sobre política. Até que o empresário encontrou o ex-apresentador do reality “O Aprendiz”, que é fã de esportes de combate e se notabilizou por ser um tipo mal-encarado. “Não conseguiram parar Trump. Ele é o homem mais resiliente e trabalhador que já conheci em minha vida. Isso é karma, ele merece isso”, disse White, durante a festa da vitória.
Nas redes, o lutador de luta livre Hulk Hogan celebrou a vitória republicana e pediu união nacional. Hogan, que diz ter um bíceps de 24 polegadas, foi uma das celebridades festejadas pelos trumpistas, durante a campanha. Na convenção, resolveu exibir-se: arrancou sua regata, de onde pendia um crucifixo metálico, e com o rosto ruborizado, atiçou a plateia. Em uma reportagem, a revista britânica The Wire mostrou que, na reta final da campanha, Trump passou longas horas em podcasts apresentados por conservadores. Esse canal serviu ao presidente eleito para humanizar a sua figura e chegar a um eleitorado jovem e apolítico.
Há duas semanas, o comediante Joe Rogan, conhecido por ser o maior podcaster do mundo, conversou por mais de três horas com Trump, de quem é apoiador. Segundo o Spotify, Joe Rogan Experience soma 5,5 bilhões de visualizações. No Youtube, ele acumula 18,3 milhões de inscritos. Ao saber dos resultados das eleições, Rogan escreveu um palavrão no X, compartilhado 33 mil vezes na internet. Há dois anos, o comediante espalhou notícias falsas sobre a pandemia e foi cancelado por parte do público.
Alguns críticos afirmaram que Trump se convidara a ser entrevistado por Rogan, o que o republicano disse ser mentira. “Não há nenhuma tensão. Sempre gostei dele [do comediante], mas eu não o conhecia. Só o cumprimento quando entro numa arena e o vejo junto com Dana White”, contou Trump. Nessa entrevista, o republicano atacou Kamala Harris, afirmando que a vice-presidente não sabe concatenar duas frases.
A lista de influenciadores trumpistas é longa: Theo Von, Adin Ross, Andrew Schulz, nomes desconhecidos da maioria dos brasileiros, mas que são populares entre o público conservador americano. O jornal The New York times publicou, na semana passada, uma reportagem sobre o apoio masculino ao republicano. Em geral, esses jovens não seguem uma ideologia. Acreditam, porém, que Trump fala tudo o que sempre pensaram, mas que não puderam falar em público.
Decerto, os números das eleições mostram que o Partido Republicano conseguiu um número maior de votos, em segmentos mais democratas: negros, latinos e jovens. A estratégia trumpista, de todo modo, já foi assimilada por políticos brasileiros. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tornou-se áulico de podcasts, assim como o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB), amigo do influenciador fitness
Renato Cariani. Por aqui, Trump teve um apoio peso-pesado. Campeão do UFC em 2011, Junior Cigano postou, em suas redes sociais, uma foto com o republicano, os dois mostrando os punhos cerrados para as lentes.
Na “machosfera”, nenhum trumpista fez tanto estardalhaço na campanha como o bilionário Elon Musk, o controlador do X e da Tesla. Musk criou a instituição America PAC, por onde injetou ao menos US$ 118 milhões (pouco mais de R$ 670 milhões) na campanha republicana. Agora, o homem mais rico do mundo é cotado para assumir um cargo no governo Trump, na chamada Comissão de Eficiência Governamental. Nos dias anteriores à eleição, Musk chegou a doar US$ 1 milhão a pessoas aleatórias, para que fossem às urnas. Terminada a apuração, o empresário usou o seu X para comemorar. “O futuro vai ser fantástico.”