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O que vai acontecer com o DNA de milhões de pessoas armazenado pela 23andMe

De acordo com o professor Dimitris Andriosopoulos, fundador da Unidade de Negócios Responsáveis ​​da Universidade Strathclyde, na Escócia, o problema da 23andMe pode ser explicado de duas formas.

Em primeiro lugar, a empresa não tinha um modelo de negócio contínuo — depois que você pagava pelo relatório de DNA, havia muito pouco motivo para retornar.

Em segundo lugar, os planos de usar uma versão anônima do banco de dados de DNA coletado para a pesquisa de medicamentos demoraram muito tempo para serem rentáveis, porque o processo de desenvolvimento de medicamentos leva muitos anos.

Isso o leva a uma conclusão contundente: “Se eu tivesse uma bola de cristal, diria que talvez durem um pouco mais”, disse ele à BBC.

“Mas, do jeito que está, na minha opinião, é altamente improvável que a 23andMe sobreviva.”

Os problemas da 23andMe se refletem na turbulência em sua liderança.

O conselho de administração renunciou recentemente, e apenas a CEO e cofundadora Anne Wojcicki — irmã da falecida CEO do YouTube, Susan Wojcicki, e ex-mulher do cofundador do Google, Sergey Brin — permanece na companhia da equipe original.

Circularam rumores de que a empresa, em breve, vai fechar ou vai ser vendida — alegações que a companhia rejeita.

“A cofundadora e CEO da 23andMe, Anne Wojcicki, compartilhou publicamente que pretende fechar o capital da empresa, e não está aberta a considerar propostas de aquisição por parte de terceiros”, afirmou a empresa em comunicado.

Mas isso não impediu a especulação, e a companhia concorrente Ancestry pediu aos órgãos reguladores da concorrência dos EUA que intervenham se a 23andMe acabar à venda.

O que acontece com o DNA?

A ascensão e queda de empresas não é novidade — especialmente na área de tecnologia. Mas a 23andMe é diferente.

“É preocupante devido à confidencialidade dos dados”, explica Carissa Véliz, autora do livro Privacidade é poder.

E isso não se aplica apenas aos indivíduos que utilizaram os serviços da empresa.

“Se você forneceu seus dados à 23andMe, você também forneceu os dados genéticos de seus pais, seus irmãos, seus filhos e até mesmo parentes distantes que não deram seu consentimento”, diz ela à BBC.

David Stillwell, professor de ciências sociais computacionais da Judge Business School da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, concorda que há muita coisa em jogo.

“Os dados de DNA são diferentes. Se os dados da sua conta bancária são hackeados, vai ser prejudicial, mas você pode abrir uma nova conta bancária”, ele explica.

“Se o seu irmão (não idêntico) usou (o serviço da empresa), ele compartilha 50% do seu DNA, então os dados dele ainda podem ser usados ​​para fazer previsões de saúde sobre você.”

A empresa está convencida de que esse tipo de preocupação não tem fundamento.

“(Para) qualquer empresa que lide com informações do consumidor, incluindo o tipo de dados que coletamos, existem proteções de dados aplicáveis ​​estabelecidas na lei que devem ser seguidas como parte de qualquer mudança futura de propriedade”, afirmou a companhia em seu comunicado.

“Os termos de uso e a declaração de privacidade da 23andMe vão permanecer em vigor, a menos e até que os clientes conheçam e aceitem os novos termos e declarações.”

Há também proteções legais que se aplicam no Reino Unido, segundo a versão do Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) do país, quer a empresa quebre ou mude de mãos.

Mesmo assim, todas as empresas podem ser hackeadas — como foi o caso da 23andMe há 12 meses.

E Carissa Véliz continua preocupada. Ela afirma que, em última análise, é necessária uma abordagem muito robusta se quisermos manter a salvo nossas informações mais pessoais.

“Os termos e condições dessas empresas são normalmente incrivelmente inclusivos; quando você fornece seus dados pessoais a elas, você permite que elas façam praticamente o que quiserem com eles”, ela observa.

“Até que a gente proíba o comércio de dados pessoais, não estaremos suficientemente protegidos.”

Fonte: TNH1

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