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Análise: Trump reforça direita linha-dura latino-americana – 06/11/2024 – Mundo

Um dos aspectos mais marcantes da nova vitória de Donald Trump é a mudança no padrão de voto de eleitores hispânicos (imigrantes recentes ou de ascendência de países latino-americanos de língua espanhola). Antes, essa população era majoritariamente fiel aos democratas —a exceção eram, basicamente, membros da comunidade cubano-americana da Flórida, opositores do castrismo.

Os dados dos Estados fronteiriços com o México (onde mais de 5 eleitores em cada 6 são hispânicos e onde Trump pretende construir o famoso muro) nesta eleição mostram que o voto hispânico está mudando de direção e que os democratas falharam na comunicação com esse segmento.

Comentaristas sugerem que esse eleitorado se mostrou mais preocupado com a questão econômica do que com pautas identitárias defendidas pelos democratas. A cientista política peruana-americana Marie Arana disse à revista Americas Quarterly: “O interesse básico dos latinos que migram para o norte é o trabalho, a prosperidade para dar um futuro a seus filhos. A primeira coisa que pedem é um emprego”.

Segundo o site de checagem Factchequeado, há hoje nos EUA mais de 4 milhões de latinos com condições de votar. De acordo com a revista The Economist, em 2016, a diferença pró-Hillary Clinton sobre Trump entre os latinos foi de 38%. Na eleição seguinte, Biden teve um desempenho inferior, a margem caiu para 33%. Agora, a vantagem de Kamala Harris pode ficar ao redor de um dígito, 7% ou 8%.

O retorno de Trump à Casa Branca dará fôlego a líderes de direita e extrema-direita que já estão no poder na região, como o argentino Javier Milei, o salvadorenho Nayib Bukele —ambos publicaram parabéns entusiasmados a Trump na rede X— e o equatoriano Daniel Noboa, que busca uma reeleição em fevereiro próximo, além de outros aliados que pretendem voltar ou chegar ao comando de seus países.

No primeiro caso está, obviamente, Jair Bolsonaro. No segundo, o chileno José Antonio Kast, que quase venceu as últimas eleições presidenciais em seu país e reivindica aspectos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Hoje líder do partido com maior influência no Congresso, Kast é um dos favoritos para a eleição chilena do ano que vem.

Entre as promessas de campanha de Trump está um projeto de deportação em massa. Se levado a cabo como pretende —apesar das inúmeras complicações logísticas e legais—, a América Central viverá tempos de turbulência. Foi nos anos 1990, quando Bill Clinton tentou algo semelhante, que floresceram na região as “maras”, facções criminosas ligadas à extorsão e ao narcotráfico que até hoje aterrorizam a região.

Repatriar imigrantes ou seus descendentes para uma região onde as economias são frágeis e há muita instabilidade política —exceto na Costa Rica e no Panamá— pode significar a criação de mais grupos criminosos, o que, por sua vez, popularizaria ainda mais políticos de linha-dura.

A “paz total” de Gustavo Petro pode se tornar ainda mais difícil. O presidente colombiano prefere o diálogo ao enfrentamento direto e bélico com grupos criminosos e dissidentes das guerrilhas e dos grupos paramilitares. A dificuldade e a demora em alcançar esses pactos, no entanto, têm elevado o tom das críticas da direita colombiana, que também ganhará fôlego com a vitória de Trump. A direita colombiana vem realizando manifestações contra Petro e saiu vitoriosa nas eleições regionais.

Na Argentina, haverá eleições legislativas no próximo ano. Por ora, Javier Milei enfrenta imensas dificuldades para aprovar leis no Congresso, onde seu partido, o La Libertad Avanza, é minoritário. O pleito, portanto, é de vital importância para sua governabilidade.

Se o argentino ainda não levou adiante planos mais ousados propagandeados em sua campanha, como a dolarização, o fim do Banco Central ou a revogação da lei do aborto, é porque ainda lhe faltam maiorias no parlamento. Trump pode ser um fator de influência para que o La Libertad Avanza cresça e tire ainda mais espaço de peronistas e radicais (da União Cívica Radical).

Uma questão importante na nova gestão de Trump será a Venezuela. Se em seu primeiro governo o republicano apoiou a presidência paralela de Juan Guaidó e chegou a dialogar com mandatários da região sobre uma possível invasão para derrubar o chavismo, fontes venezuelanas e do empresariado petrolífero internacional sinalizam para um cenário diferente, com mais diálogo desta vez, em razão da guerra na Ucrânia e da necessidade dos EUA de petróleo do país caribenho.

Fonte: Folha de São Paulo

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