De um lado, uma mulher negra, de 60 anos e origem asiática. Do outro, um homem branco, de 78 anos e ascendência europeia. As características dos dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos refletem-se também no gênero, cor da pele e idade de seus eleitores.
No geral, mulheres, negros, latinos, mais jovens, mais escolarizados e ateus tendem a preferir a democrata Kamala Harris. Já os homens, brancos, mais velhos, menos escolarizados e cristãos gravitam em torno do republicano Donald Trump.
As generalizações, porém, não dão conta das nuances nem da fluidez desses grupos que podem definir essas eleições acirradas. Ignoram, por exemplo, uma migração recente de homens negros e latinos ao ex-presidente, bem como uma esperança da atual vice-presidente em atrair mulheres mais velhas e brancas dos subúrbios ricos.
Temas como armas, aborto e imigração também atingem esses grupos de formas distintas. Abaixo, entenda como a demografia da população americana pode influenciar nas eleições desta terça (5).
Divididos quase igualmente na população, mulheres votam mais no Partido Democrata, e homens, no Partido Republicano desde a década de 1990. É provável que isso se repita nestas eleições, mas pesquisas variam sobre se essa diferença deve se acentuar ou diminuir em relação a 2020.
Do lado de Kamala, alguns analistas apostam que mulheres mais velhas e moradoras dos subúrbios ricos, um eleitorado considerado subestimado, possam ajudá-la. Uma pesquisa Reuters/Ipsos, por exemplo, indicou que ela avançou sobre a fatia de brancas que votaram em Trump em 2016 e 2020.
Já a campanha de Trump fez esforços para atrair homens jovens, de 18 a 29 anos, usando influenciadores e podcasters que sustentam atributos típicos da masculinidade. É um grupo tido como pouco confiável, menos propenso a ir às urnas, mas que os republicanos acreditam que pode decidir a eleição deste ano.
No geral, o público jovem tende a votar em Kamala e nos democratas, segundo diferentes pesquisas, com uma inclinação maior entre as mulheres jovens. Os americanos de 18 anos (idade mínima para votar) a 29 anos representam 22% do eleitorado, segundo estimativa do Pew Research Center.
Por outro lado, quase metade dos eleitores tem 50 anos de idade ou mais, grupo mais inclinado aos republicanos. Nas eleições passadas, essa foi a única faixa etária que deu mais votos a Trump do que a Biden —exceto no recorte por cor, no qual pessoas brancas de todas as idades preferiram o ex-presidente.
A maioria dos eleitores é branca, único segmento por cor a dar vitória ao republicano nas últimas eleições. Todos os outros grupos étnicos pendem mais ao lado democrata, incluindo os hispânicos ou latinos —que nestas eleições terão proporção maior que a dos negros pela primeira vez—, e os asiáticos, os que mais crescem.
Trump, porém, tem acenado ao eleitorado conservador não branco com um apelo masculino que tenta ecoar independentemente da raça. Apesar de ter tido uma minoria dos votos latinos (38%) e negros (apenas 8%) em 2020, diferentes levantamentos mostram que ele teve avanços entre homens nesses setores.
Há duas hipóteses centrais para isso: primeiro, expectativas por mudanças na polícia e na Justiça após o assassinato de George Floyd que não foram correspondidas. Depois, uma preocupação com a situação da economia e empregos em geral (embora as vagas estejam crescendo) e consequentemente com o aumento da imigração.
Pode parecer contraintuitivo, mas há uma diferenciação entre o eleitor latino que cresceu no país e os que acabam de chegar, por isso a campanha de Trump deu ênfase aos “latino-americanos”, em oposição a apenas “latinos”. Visto que esse é o grupo com maior taxa de abstenção, há um enorme potencial a ser explorado.
Os democratas reagiram também dando ênfase a propostas econômicas e usando a presença do ex-presidente Barack Obama, que avaliou que alguns homens negros “simplesmente não estão aceitando a ideia de ter uma mulher como presidente” —o que acendeu um alerta na campanha na reta final.
Kamala tem apostado nas posições pró-aborto e antiarmas, às quais o eleitorado negro é mais alinhado.
A religião é outro tema relevante nas eleições americanas: 66% da população se identifica como cristã —sendo 40% protestantes (evangélicos ou não) e 22%, católicos. Outros 27% dizem não ter religião e 6% fazem parte de outras religiões, como os judeus, segundo o Censo da Religião Americana.
Trump ganha entre os protestantes e católicos, principalmente os brancos (que somam 41%). Em todos os outros segmentos, Kamala conta com o apoio majoritário, com destaque para os protestantes negros (86%), os ateus (85%) e os católicos hispânicos (65%), mostra o Pew Research Center.
Historicamente, os católicos são os que estiveram à frente do movimento contrário ao aborto. Em 2024, porém, esse eleitorado em geral está dividido entre os candidatos, e o assunto aparece apenas como oitava preocupação em pesquisa realizada pelo National Catholic Reporter em sete estados-chave. Seis em cada dez deles são a favor da legalização do procedimento, segundo outro levantamento.