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Um futuro descolonizado começa em João Pessoa – 30/10/2024 – José Manuel Diogo

No horizonte simbólico onde o mar se encontra com as terras da América, há um ponto singular, o mais oriental de nosso continente, João Pessoa, capital da Paraíba.

É daqui, onde a Terra começa, que damos continuidade a uma jornada de conhecimento destinada a reescrever a história e a reparar os erros do passado.

Daqui a exatamente um mês, de 28 a 30 de novembro, João Pessoa será palco do Festival Literário Internacional da Paraíba, um evento único em sua essência, onde o velho desconhecido se une ao novo conhecimento simbolizado nesta nova fronteira.

Esse festival não será apenas mais um encontro de autores. Será um manifesto. Partimos de Luís Vaz de Camões, a figura central da cultura portuguesa, que celebra 500 anos, para propor “10 ideias para um futuro descolonizado”.

Olharemos para o passado com a consciência de que o impacto do colonialismo e da escravidão deixaram marcas profundas, marcas que não podem ser apagadas apenas com palavras.

Sou um homem branco, que carrega a consciência de que meus antepassados participaram e beneficiaram-se de um sistema desumano. Um sistema que escravizou milhões de pessoas, destruindo culturas e espalhando dor.

Sinto-me obrigado a reparar. E essa reparação precisa começar por nós, brancos. Precisamos não apenas reconhecer as injustiças históricas, mas nos unir em uma causa comum que resgate dignidade e promova a igualdade entre os povos.

João Pessoa, cidade onde a Terra começa, é o lugar ideal para esse encontro. Geograficamente, está mais próxima da Europa do que qualquer outro ponto do Brasil, mas é também profundamente conectada com a África e com o resto da América Latina.

O FliParaíba reunirá vozes de África, Brasil e Portugal para discutir e traçar um caminho para o futuro. Esse futuro que só será possível se encararmos nossas culpas e nossos erros de frente, buscando soluções coletivas.

É por isso que esse festival tem um caráter especial. Ao reunirmos escritores e pensadores de três continentes, queremos construir pontes que conectem o Sul ao Norte, o Velho ao Novo. Queremos dialogar sobre descolonização não apenas como um conceito histórico, mas como uma prática viva, cotidiana. Porque a descolonização não é um fim, é um processo. E ele só será efetivo se, juntos, aceitarmos que a igualdade não pode ser apenas uma ideia, mas uma realidade vivida por todos.

A literatura é a luz escolhida para essa jornada, porque só ela permite imaginar o que ainda não existe. Nada como ela nos dá a liberdade de sonhar com um mundo diferente, de construir narrativas que sejam inclusivas, justas, e que celebrem a diversidade.

E é justamente por isso que João Pessoa se torna o símbolo-lugar perfeito para esse festival. Aqui, onde o novo conhecimento começa, vamos propor, discutir e trabalhar um futuro que respeite todas as vozes.

Esse lugar literário, que me orgulho de ter criado, não será apenas uma celebração da palavra, mas uma verdadeira convocatória. Um chamado para que, juntos, possamos construir um novo capítulo da história. Onde as vozes sempre silenciadas possam ser ouvidas e todos possam caminhar em direção a um futuro verdadeiramente compartilhado.


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Fonte: Folha de São Paulo

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