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O governo chinês decidiu “cancelar” as celebrações de Halloween neste ano. Embora nenhuma regulação oficial tenha sido emitida, várias metrópoles do país mobilizaram policiais para patrulhar as ruas e deter quem estivesse fantasiado.
A polícia também teria entrado em contato com estabelecimentos comerciais, como bares e salões de festa, e ameaçado cassar licenças de operação em caso de desrespeito à regra, segundo relatos.
As redes sociais foram inundadas por vídeos e fotos de jovens fantasiados sendo detidos em Xangai, por exemplo.
Entenda: embora os relatos nas redes atribuam a razão para o cancelamento à tentativa de evitar “influência estrangeira”, é mais provável que a decisão tenha sido tomada devido ao caráter político que a data adquiriu no ano passado.
O ano de 2023 foi o primeiro desde o fim da pandemia em que jovens chineses puderam se aglomerar para celebrar o Halloween e a data ficou marcada por fantasias e paródias políticas.
Muitos se vestiram de dàbái (大白, “brancão”/”grande branco”, em português), como ficaram conhecidas as autoridades sanitárias que faziam os testes de Covid.
Houve gente mais ousada fazendo referência a câmeras de vigilância, a posts censurados no Weibo (espécie de Twitter local) e até ao Ursinho Pooh, personagem banido na China pela suposta semelhança com o líder Xi Jinping.
Por que importa: Halloween não é uma data tradicional chinesa e provavelmente só alcança alguns poucos jovens em centros urbanos, motivo pelo qual tais fantasias têm um impacto muito limitado.
Também é exagero esperar que aqueles com fantasias de cunho ideológico estejam ativamente protestando contra o governo —a maioria, como denotado pelos posts em redes sociais, têm um caráter mais irônico do que político.
Mas como a lista de temas sensíveis na China de Xi só faz crescer, é bastante provável que 2023 fique na memória como o último ano em que os chineses foram autorizados a celebrarem a data.
Pare para ver
Detalhe do painel “Estranhos Fantasmas”, do pintor chinês Pu Ru (ou Pu Xinyu), um manchu que viveu durante a dinastia Qing. Este excelente documentário explica o estilo dele, não apenas em pinturas como também em caligrafia tradicional (em chinês, com legendas em inglês).
O que também importa
★ Hackers chineses invadiram os celulares do ex-presidente Donald Trump e do senador J.D. Vance, informou a rede de televisão americana ABC News. Segundo o veículo, a campanha republicana foi alertada esta semana sobre o possível comprometimento dos dispositivos, embora não esteja claro qual nível de acesso foi obtido. O FBI e a Agência de Segurança Cibernética disseram estar investigando o caso, supostamente ligado a uma invasão mais ampla de redes de telecomunicação comercial que também teria impacto na campanha de Kamala Harris.
★ O Brasil não vai se juntar à Nova Rota da Seda, revelou o assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim, em entrevista ao jornal O Globo. De acordo com ele, Brasília agora negocia “sinergias” entre o grande projeto de infraestrutura chinês e obras pontuais elencadas pelo Planalto como prioritárias. A declaração frustra planos da China, que pretendia anunciar a adesão brasileira à iniciativa como a apoteose de uma visita de Estado de Xi Jinping a Brasília em novembro. Na semana passada, a representante dos EUA para o comércio, Katherine Tai, recomendou que o Brasil analisasse a adesão sob “lentes objetivas”, comentário classificado como “desrespeitoso” pela embaixada chinesa em Brasília.
★ A Empresa de Fabricação de Semicondutores de Taiwan (TSMC) suspendeu envios para a empresa chinesa Sophgo após descobrir que um de seus chips foi encontrado em um processador de IA da Huawei. Afiliada à empresa de mineração de criptomoedas Bitmain, a Sophgo havia encomendado chips da TSMC similares aos encontrados no chip Ascend 910B anunciado pela gigante chinesa. A descoberta foi feita pela empresa de pesquisa TechInsights ao desmontar o processador. A Sophgo negou qualquer relação comercial com a Huawei e afirmou estar em conformidade com todas as leis. A TSMC, que não fornece chips para a Huawei desde 2020 devido a sanções dos EUA, notificou autoridades taiwanesas e americanas e disse que vai abrir uma investigação sobre o caso.
Fique de olho
A exemplo do Brasil, o governo do México estaria considerando aumentar as tarifas a produtos chineses exportados por plataformas de e-commerce como Temu, Shein e AliExpress.
Segundo o jornal El Universal, os sites estariam evadindo tarifas alfandegárias e contornando impostos locais, além de desrespeitarem normas obrigatórias à indústria nacional.
Além disso, de acordo com o jornal, a competição com produtos chineses mais baratos teria causado a extinção de ao menos 20 mil empregos na indústria têxtil nacional.
Por que importa: a relação comercial entre México e China sempre foi contenciosa. Além de importar mais do que exporta à China, o governo mexicano enxerga o país asiático como competidor direto pelo mercado americano. Mas desvincular-se totalmente da China também é complicado, já que os mexicanos ainda dependem de componentes chineses para compor seus parques industriais.
A medida considerada pela presidente Claudia Sheinbaum seria uma resposta às demandas de indústrias locais, mas dificilmente deve solucionar os problemas mais estruturais na relação. Contudo, pode ajudar a reduzir o déficit fiscal mexicano, que deve fechar em 5,9% do PIB neste ano, a maior taxa em mais de 30 anos.
Para ir a fundo
A UERJ e a UFRJ realizam na primeira semana de dezembro o 8º Simpósio Eletrônico Internacional de Estudos Orientais, que vai discutir história e cultura asiáticas. O evento vai garantir certificados de 40 horas acadêmicas. Você pode conferir mais detalhes da agenda aqui (gratuito, em português).
O Grupo de Estudos sobre a China da Universidade de Brasília realiza na próxima segunda uma palestra abordando as cidades inteligentes e o modelo de urbanização chinês. O evento é virtual e gratuito. Mais informações aqui (gratuito, em português).
