“Sou autista do nível um e hoje vou dar meu depoimento de como foi o Colégio Policial Militar na minha vida”, começa o catarinense Arthur Gabriel, de 13 anos, em discurso divulgado na manhã desta quarta-feira (23) nas redes sociais de Luciano Hang. As falas foram gravadas no último sábado (19) durante visita do empresário ao Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires Antes, em Blumenau (SC).
Com desenvoltura ao segurar o microfone, o garoto relata que estudou até 2022 em uma escola de ensino tradicional que, na visão dele, não tinha muita disciplina e nem respeito com pessoas na sua condição, com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Eu estava muito inseguro, tinha problemas para me relacionar e ter amigos”, afirmou Arthur, ao contar que também enfrentava dificuldades acadêmicas e estava com notas baixas em quatro disciplinas.
Seus pais, então, decidiram matriculá-lo na escola militar em 2023 após o garoto ser sorteado para uma vaga e, em quase dois anos, o menino afirma que tudo mudou. “Conquistei autoconfiança, e o que é isso?”, questiona. “Ninguém pode definir meu destino. Só eu posso”, responde, ao adiantar que será policial e professor de matemática.
Após o discurso, o garoto foi aplaudido pelo empresário Luciano Hang, que abraçou o estudante e publicou o depoimento dele em suas redes sociais. “Você tem uma capacidade incrível”, escreveu Hang, na legenda do vídeo. “Está aí a prova de que educação de qualidade, com ótimos professores, organização, cuidado e disciplina fazem toda a diferença”, continuou.
À Gazeta do Povo, o Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires Antes informou que Arthur foi matriculado na instituição por decisão dos pais e precisava usar fones de ouvido inicialmente por não se adaptar a locais com muito barulho. No entanto, como o ambiente do colégio é mais tranquilo em relação ao que o garoto estava acostumado, o aluno acabou deixando de lado os fones e melhorando sua capacidade de socialização.
Arthur passou muita dificuldade na escola anterior, relata a mãe
A mãe do garoto, Naiara Regina da Costa Pereira, ficou emocionada com o discurso do filho e pontua que ele não se apresentaria dessa forma, se não fosse a metodologia do colégio militar. “O Arthur era bem tímido ao se expressar e passou muitas dificuldades na escola anterior porque falava gaguejando e era motivo de chacota”, recorda.
No entanto, a catarinense garante que o respeito e incentivo ao aprimoramento de dificuldades existente na escola militar fez diferença para seu filho. “Eles dão a todos o direito de se expressar e ser ouvido, então, mesmo que o Arthur gagueje devido à sua limitação, ele é incentivado a continuar e concluir sua linha de pensamento”, relata a mãe, que viu o filho, inclusive, melhorar seu aprendizado.
“Eles ganha medalhas quando tiram notas altas no bimestre, e o Arthur já ganhou esse reconhecimento”, comemora. Afinal, “tudo que eles fazem têm uma consequência, boa ou ruim, e isso os incentiva a ser cada dia melhor”.
STF promoveu audiência sobre escolas cívico-militares nesta terça-feira (22)
A história do estudante Arthur Gabriel foi divulgada em meio ao debate a respeito do futuro das escolas cívico-militares no Brasil, já que partidos como PT e PSOL abriram processos no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar leis que instituíram e regulamentaram a implantação desse modelo educacional no país.
A situação se deu depois de, no ano passado, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretar o fim do programa federal implantado por Bolsonaro em 2019 para converter escolas comuns em cívico-militares. Como reação, 19 governadores anunciaram que manteriam o modelo com base em leis estaduais, já que os resultados mostram sucesso dessa modalidade de ensino.
Na última terça-feira (22), inclusive, uma audiência foi promovida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para ouvir diferentes visões a respeito das escolas cívico-militares. O evento foi marcado por um duelo de dados apontando o sucesso educacional dessas escolas contra narrativas ideológicas tentando depreciá-las.
Argumentos contrários à proposta apontam que o programa militariza o ambiente escolar, desrespeitando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e reduzindo o diálogo.
Já representantes que atuam diretamente na administração das escolas garantem que o modelo foi implementado com objetivo de melhorar a segurança e a convivência nessas instituições de ensino, sem alterar o conteúdo pedagógico. Além disso, apontam que o impacto orçamentário do programa é mínimo e que os resultados obtidos já são muito positivos, como aumento da frequência escolar e redução da evasão.