O dinheiro é a raiz de todos os males, e é por isso que o ideal é que esteja profundamente incrustado na política. Isso garante que a democracia funcione como deveria: só para os ricos!
Nos Estados Unidos, os problemas que envolvem dinheiro e política estão se tornando mais bizarros e desavergonhados. Políticos pagam por apoio, usam doações políticas para pagar honorários de advogados pessoais, e fundos roubados de clientes de criptomoedas são canalizados para campanhas.
Parece que as democracias estão sofrendo do que o ícone do rap americano e traficante de drogas condenado Biggie cantava: “Mo money, mo problems” (mais dinheiro, mais problemas), embora a proporção matemática entre “problemas” e “crack” ainda não esteja clara.
Felizmente, o Brasil não teve nenhum desvio de verbas de campanha. (Nota: a Petrobras pode ou não ter comprado um apartamento no Guarujá para mim em troca de eu escrever isto.)
Os candidatos republicanos ricos Doug Burgum e Vivek Ramaswamy gastaram cada um mais de US$ 100 milhões de seu próprio dinheiro em suas atuais disputas presidenciais primárias. Por óbvio, doando, porque eles se identificam com os candidatos… pessoalmente. “Compartilho meus valores!”
Ramaswamy já disse que pagaria uma comissão de 10% aos que trouxerem doações para sua campanha, e Burgum ofereceu cartões-presente de US$ 20 às primeiras 50 mil pessoas que doarem US$ 1 para sua candidatura! Obviamente, Burgum não é um professor de matemática. Por que fazer isso?
Para alcançar as 40 mil doações únicas exigidas e assim poder participar dos debates das primárias. Gastar mais de US$ 100 milhões para ser presidente, cujo salário anual é de US$ 400 mil, porém, é matemática suspeita para empresários tão inteligentes…
Mas não quando você examina as contas bancárias de políticos que, por meio de evidentes negociações com insiders e talvez alguns meios mais nefastos, inexplicavelmente transformam esses salários em saldos que chegam a US$ 100 milhões. Existe até um serviço chamado “baleias incomuns”, que permite comparar negócios com ações de congressistas que constantemente parecem fazer investimentos no momento perfeito, muitas vezes enquanto participam de comissões que influenciam o mercado.
Na semana passada, promotores dos EUA acusaram Sam Bankman-Fried, o difamado tubarão das criptomoedas da FTX, de canalizar US$ 100 milhões de fundos roubados de clientes para campanhas e causas de legisladores, no que estão essencialmente descrevendo como suborno. Ele vende moeda teórica com desenhos de quadrinhos e depois a rouba para dar dinheiro de verdade aos que fazem as leis que regulam sua capacidade de vender mais dinheiro de quadrinhos. A esta altura, se você não acha que Biggie sacou alguma coisa, talvez você tenha comprado crack dele. E agora eu poderia usar um pouco.
Tentar comprar sua entrada no cargo e depois alavancar esse poder não é novidade. Trump gastou US$ 66 milhões em sua primeira campanha, em 2016, e segundo a Forbes as empresas dele ganharam US$ 2,4 bilhões durante sua Presidência. Você não precisa ser Burgum para fazer essa matemática. E agora Trump teria gasto US$ 40 milhões de seus atuais fundos de campanha em seus inúmeros honorários advocatícios. Talvez ele argumente que suas muitas acusações foram participações de campanha?
Todos esses casos reforçam minha opinião de que a influência do dinheiro na política só pode perverter a democracia. Apesar disso, acredito que “democracia” é o termo latino para “manipular gente pobre”. Qual o benefício de um sistema que transforma dinheiro em votos para nossos ideais democráticos comuns?
Quer os próprios políticos paguem, quer encontrem outros para financiá-los, ficando endividados entre eles, se o mundo não tirar o dinheiro da política a corrupção é o único resultado possível. De forma simples: se tivermos “mo money”, teremos “mo problems”. Só estou dizendo que há um problema com a democracia quando ela está incorrendo exatamente no mesmo dilema que… um traficante de crack.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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