O governo de Luis Arce na Bolívia interpretou como uma ameaça à “continuidade da ordem democrática” o ultimato dado pelo ex-presidente Evo Morales na segunda-feira (23), no qual cobrou de Arce que ele trocasse seu gabinete em 24 horas, caso quisesse “continuar governando”.
Evo liderou uma marcha de sete dias que terminou com a chegada do grupo a La Paz, onde o socialista fez um discurso enfático contra o governo que apoiou no passado —Arce foi seu ministro da Economia e padrinho político antes de atual disputa entre os dois.
No percurso de cerca de 190 quilômetros que partiu da cidade de Caracollo, diversos confrontos violentos ocorreram entre manifestantes, alguns a favor de Evo e outros de Arce, armados com paus, pedras e materiais explosivos. Ao menos 36 pessoas ficaram feridas durante os sete dias de mobilização.
“Se Lucho [como Arce é conhecido] quer continuar governando, primeiro, em 24 horas, que troque ministros narcotraficantes, ministros corruptos, ministros drogados, que troque ministros racistas”, afirmou o líder indígena diante de milhares de apoiadores, sem mencionar nenhum integrante do governo em particular.
Em um comunicado dirigido à comunidade internacional, o Ministério das Relações Exteriores do país alertou que Evo, com seu ultimato, “ameaçou interromper a continuidade da ordem democrática”.
Além disso, a pasta rejeitou “qualquer tipo de extorsão contra a vontade do povo expressa nas urnas”.
Ao final do protesto, Evo retornou à região cocaleira do Chapare, seu reduto político, enquanto grupos de seguidores convocaram novas marchas em La Paz.
Evo e Arce estão envolvidos em uma disputa pelo controle do governo e pela indicação presidencial para as eleições de 2025, uma rusga que rachou o MAS (Movimento ao Socialismo) em correntes pró-Evo e pró-Arce.
Inabilitado judicialmente para ser candidato novamente, o líder indígena acusa Arce de se aliar a juízes e ao Poder Eleitoral para impedi-lo de concorrer novamente ao posto.
Evo governou a Bolívia de 2006 a 2019. Ele renunciou em 2019 após perder o apoio das Forças Armadas e enfrentar crescente pressão popular e internacional. Jeanine Áñez assumiu como presidente interina e, posteriormente, já durante o governo Arce, foi condenada a dez anos de prisão por conspirar contra Evo.