O governo de Vladimir Putin disse neste sábado (14) que, apesar da negativa dos Estados Unidos na véspera, a decisão dos aliados ocidentais de autorizar a Ucrânia a alvejar a Rússia com armas de longo alcance já foi tomada.
“A decisão já foi tomada, a carta branca e as indulgências serão dadas a Kiev, então estamos prontos para tudo. E nós vamos reagir de uma forma que não será bonita”, disse o vice-chanceler Serguei Riabkov, o principal negociado nuclear do país.
Ele não disse de onde tirou a informação sobre a permissão, mantendo assim em alta temperatura o caldeirão de ameaças que Putin tem feito ao Ocidente desde que Volodimir Zelenski passou a pedir diariamente autorização para os ataques.
Após uma visita dos chefes das diplomacias americana e britânica a Kiev no começo da semana, o assunto voltou à baila. Na sexta (13), a Casa Branca negou que iria mudar sua política, que visa impedir uma escalada que possa levar à Terceira Guerra Mundial.
O anúncio ocorreu antes de o presidente Joe Biden discutir o tema com o premiê britânico, Keir Starmer. Não houve nenhum comunicado formal, mas os relatos disponíveis indicam que há uma divisão clara entre aliados.
Na Europa, o alemão Olaf Scholz tomou partido de Biden, dizendo ser contra tal tipo de permissão. Mas a pressão é grande, e é possível que uma solução na qual armas britânicas e francesas acabem sendo autorizadas com o beneplácito dos EUA.
Isso pode ocorrer até a reunião da Assembleia-Geral da ONU, daqui a duas semanas, segundo a mídia americana. Enquanto isso, na Rússia o clima remete aos momentos de maior agressividade retórica da Guerra Fria.
Segundo um observador político próximo do Kremlin disse à reportagem, a resposta desagradável a que Riabkov se referiu não seria necessariamente nuclear. Dobrar a aposta na escalada dos ataques convencionais à Ucrânia, que já está em curso, é uma opção.
Armar o Irã ou a Coreia do Norte com algum tipo de equipamento que ameaça forças americanas, outra. E há a proverbial bomba atômica, não necessariamente para uso em combate, mas na forma de um teste, por exemplo.
Nos meios de comunicação estatais, comentaristas pedem o bombardeio de capitais europeias. O mais inflamado dos falcões do governo Putin, o ex-presidente Dmitri Medvedev, escreveu no Telegram que a invasão ucraniana da região ussa de Kursk deu argumento para Moscou usar armas nucleares.
Segundo eles, isso não é feito por opção do Kremlin, e que com armas convencionais Kiev poderia ser obliterada. “E seria assim. Um ponto gigante, cinza, derretido em vez da mãe das cidades russas”, escreveu com a usual hipérbole.
Já Andrii Iermak, o influente e belicoso chefe de gabinete de Zelenski, disse na mesma rede que “as ameaças barulhentas do regime de Putin são apenas testemunho de seu medo de que o terror acabe”. Ele voltou a pedir “decisões fortes” do Ocidente.
Se os EUA liberarem os aliados para darem o OK a Kiev, provavelmente serão empregados mísseis de cruzeiro Storm Shadow, que têm um irmão gêmeo no francês Scalp-EG. Ambos já foram enviados em pequeno número, pois não há grande arsenal deles na Europa, e estão adaptados para serem lançados dos bombardeiros Su-24 soviéticos da Ucrânia.
Foram disparados algumas vezes, notadamente contra forças da Frota do Mar Negro da Rússia, baseada na Crimeia anexada em 2014. Há dúvidas se farão alguma diferença na realidade, dado que os principais ativos da Força Aérea russa já foram retirados de bases no alcance das armas, por exemplo.
De todo modo, centros logísticos de apoio à invasão do vizinho podem ser alvejados, com grande efeito psicológico.
Enquanto isso, a rotina do conflito repetiu as últimas semanas: a Rússia anunciou ter conquistado mais uma cidadezinha na região de Donetsk (leste), que ficou enfraquecida pela decisão de Kiev de invadir Kursk, e Moscou lançou um grande ataque com 76 drones —72 dos quais os ucranianos disseram ter derrubado.