O Peru começou a se despedir nesta quinta (12) de Alberto Fujimori, o ex-ditador que moldou as últimas três décadas da política local sob a sombra de violações dos direitos humanos. Em cerimônia com honras de Estado, os restos mortais do líder são velados na sede do Ministério da Cultura, na região de Lima.
Fujimori, que esteve à frente do país sul-americano de 1990 a 2000, morreu na quarta (11), aos 86 anos, depois de passar por um tratamento contra um câncer de língua. Figura controversa, ele tinha tantos apoiadores quanto detratores. Teve papel central no enfrentamento da guerrilha de extrema esquerda Sendero Luminoso e também foi condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade.
O período de luto decretado pelo governo vai até sábado (14), quando ocorrerá o enterro. Em frente à casa onde ele morreu, em Lima, a polícia montou um cordão de isolamento. Dezenas de simpatizantes entoaram cânticos de apoio enquanto esperavam que o caixão fosse levado até o carro fúnebre.
“Ele é o melhor presidente que o Peru já teve”, dizia um cartaz erguido pela enfermeira Isabel Pérez, 56, com fotos e outras frases elogiando o ex-ditador. “Peço a vocês que sempre espalhem a palavra de que Alberto Fujimori lutou contra o terrorismo e que nunca foi perdoado”, disse ela à agência AFP.
Nenhuma manifestação contra Fujimori havia sido convocada até a tarde desta quinta. Alguns peruanos que passaram em frente à casa do líder, porém, não hesitaram em disparar críticas. “Ele era um autoritário”, afirmou Elizabeth Martinez, 61.
Na guerra brutal contra o Sendero Luminoso, estima-se que mais de 70 mil peruanos tenham morrido, incluindo inocentes. Fujimori foi preso em 2015 e começou a ser julgado no Peru dois anos depois.
Depois de 15 meses, ele foi condenado por comandar esquadrões da morte que fizeram sequestros, tortura e mortes, além de ser apontado também como cabeça de um esquema de corrupção. Foi então transferido para a penitenciária de Barbadillo, onde ficou até dezembro de 2017, quando recebeu indulto do então presidente Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK.
O indulto foi revogado em 2019, levando Fujimori de volta à prisão de Barbadilllo. Em dezembro de 2023, o Tribunal Constitucional do Peru o liberou para cumprir o resto da pena na casa de sua filha, Keiko.
“Sinto um sentimento de dor porque um ex-ditador condenado por graves violações de direitos humanos e corrupção, que de alguma forma estava desfrutando de um perdão indevido ou negociado politicamente, morreu [sem pagar por todos os crimes]”, disse à AFP Gisela Ortiz. PPK concedeu o indulto depois de ter negociado a continuação no cargo com políticos fujimoristas.
PPK, por sua vez, disse que Fujimori entrou para a história “com um saldo muito positivo”. “Suas realizações foram, antes de tudo, domar o terrorismo, acabar com a hiperinflação e colocar a economia nos trilhos de um sistema viável. Os problemas foram o golpe de abril de 1992”, disse ele.
Naquele ano, com o Congresso voltado contra Fujimori, o político deu o chamado autogolpe, fechando o Parlamento com apoio militar e com tanques nas ruas, declarando o país em estado de emergência e estabelecendo toques de recolher em bairros de alta criminalidade. Ele chamou uma nova Constituinte, composta basicamente por legisladores fujimoristas, que redigiram a Carta de 1993.
A atual presidente do Peru, Dina Boluarte, que assumiu o poder depois de Pedro Castillo também tentar um autogolpe, em 2022, compareceu ao velório desta quinta e manifestou apoio a Keiko e Kenji Fujimori, dois dos filhos do ex-ditador. Segundo o jornal peruano El Comercio, eles conversaram por vários minutos. Várias outras autoridades e políticos também foram ao local.