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Populismo atual ameaça democracia e indica fim da política – 12/09/2024 – José Manuel Diogo

Até há pouco tempo, o populismo era uma força que emergia de dentro do sistema político. Le Pen, Meloni, Milei, Orbán, Chávez, Erdogan, Bolsonaro são os populistas do passado e estão hoje em vias de extinção.

Esses líderes que usavam a retórica populista para canalizar demandas da sociedade, manipulando medos e expectativas, se esforçavam para dar a impressão de que jogavam dentro das regras democráticas mesmo quando ameaçavam as instituições. Havia um caminho, mesmo que tortuoso, para dentro do sistema.

A atuação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mas sobretudo de alguns senadores como Márcio Bittar, Eduardo Girão e Carlos Viana (que se licenciou do cargo para concorrer à prefeitura de Belo Horizonte) são exemplos desse redirecionamento do discurso para um debate mais qualificado.

Mas o que acontece quando o populismo nasce de fora do sistema político? Quando ele se organiza no terreno amorfo das redes sociais, em um ambiente desmaterializado, volátil e totalmente apartado das regras democráticas tradicionais? Esse populismo digital raiz, que cresce sem filtro, sem responsabilidade e sem compromisso com a verdade, é uma ameaça mais devastadora do que seus antecessores políticos. Ele não só coloca em risco o funcionamento das instituições, mas também ataca a própria base da democracia: o diálogo racional e o entendimento profundo das questões que nos afetam.

As redes sociais incentivam o discurso raso, atávico e inflamado, alimentando-se de algoritmos que privilegiam a polarização. A nuance e a complexidade desaparecem por completo, e políticos e eleitores ficam perdidos. Os primeiros porque já não conseguem prever ou controlar o curso do debate público, que se move a uma velocidade impossível de acompanhar; os segundos porque são bombardeados por desinformação e teorias conspiratórias que minam a confiança e a credibilidade. O espaço para o pensamento crítico e para a análise ponderada encolhe, e o terreno fértil para o autoritarismo expande.

O efeito disso é um ciclo perigoso: o eleitor médio, em vez de buscar entender os desafios estruturais da sociedade —como a desigualdade, o colapso do sistema de saúde ou o aquecimento global—, se vê atraído por respostas fáceis e soluções mágicas, muitas vezes embebidas de ódio e ressentimento. O político, por sua vez, adapta sua mensagem para sobreviver nesse novo ambiente, abraçando o sensacionalismo e abandonando qualquer compromisso com políticas de longo prazo ou com a verdade factual. A democracia, que depende da participação informada e do debate sério, definha.

A urgência e o desafio não são apenas combater o populismo, mas sobretudo combater o novo formato que ele assumiu no espaço digital. Mais do que nunca, precisamos ajudar as pessoas a ouvir com mais paciência, a estudar com mais cuidado e a entender as coisas com profundidade. Só assim a democracia pode se defender de sua própria extinção.


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Fonte: Folha de São Paulo

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