Condoleezza Rice, do Partido Republicano, tinha 51 anos quando o presidente George W. Bush a nomeou secretária de Estado. Cientista política e diplomata, ela acaba de publicar na revista Foreign Affairs um longo ensaio sobre os perigos do isolacionismo dos Estados Unidos.
Os americanos ficaram deliberadamente isolados em períodos delicados de sua história, como no início da Segunda Guerra Mundial até que o Japão os atacasse em 1941 em Pearl Harbor. Depois do conflito mundial veio a Guerra Fria, que Washington venceu ao apressar em 1989 o fim da União Soviética.
Mas a nova Guerra Fria, argumenta Rice, tem na mira a China de Xi Jinping. Os chineses demonstram uma avidez ilimitada por territórios: têm ambições no Japão, nas Filipinas, no Vietnã e sobretudo em Taiwan, onde, não fosse pela certeza de uma resposta militar americana, já teriam aplicado à “província rebelde” a mesma receita anexionista de Hong Kong.
Washington não apoia uma ruptura em Taiwan. Em 2003, o então presidente Bush censurou o referendo proposto pelo presidente taiwanês que tinha cheiro de declaração de independência.
Rice nota uma diferença curiosa entre a ex-União Soviética e a atual China. O Kremlin exigia que países alinhados do Leste Europeu adotassem um papel-carbono de Moscou. A repressão à Hungria e à Tchecoslováquia ocorreu por isso. Mas os chineses respeitam heterodoxias socialistas. O que complica o monitoramento americano.
Outro fator é a correlação de forças com os chineses, diz Condoleezza Rice. A China tem hoje a maior marinha militar do planeta. São mais de 370 embarcações de superfície e submarinos. Ademais, seu arsenal nuclear sofre de um crescimento descontrolado caso o comparemos ao arsenal russo, que se adaptou a um equilíbrio ao número de bombas armazenado pelos americanos.
E teremos três grandes arsenais: o russo, o do Pentágono e o chinês, sem a negociação de uma rede de proteção que existia na Guerra Fria e quando o jogo era apenas bilateral.
Ao lado do plano militar, Xi Jinping lançou publicamente um desafio. Visava a engenheiros e à comunidade científica chinesa e não necessariamente aos Estados Unidos. Mas afirmou que em campos tão diversos quanto a inteligência artificial e a computação quântica Pequim ultrapassaria os americanos por volta de 2035.
Pode até ser, o que deixou os Estados Unidos de manguinhas de fora. O problema não consiste, no entanto, em repisar diferenças, mas em insistir num jogo que valorize as proximidades. É justamente o caminho que contorna o isolacionismo e permite alguma forma de convivência estratégica.
O comércio surge mais uma vez como o bom caminho. Rice cita um dado eloquente. A partir de 2001, quando a China ingressou na OMC (Organização Mundial do Comércio), a relação comercial sino-americana foi multiplicada por cinco e atinge hoje a cifra de US$ 120 bilhões ao ano. O aumento justifica o otimismo de uma dirigente americana partidária do livre comércio e da economia de mercado. Uma escala que supõe o abandono do isolacionismo, no qual os países pouco comercializam entre si.
Exemplo de isolacionismo é dado pela Rússia, assinala Rice. A qual anexou a Crimeia em 2014 e invadiu a Ucrânia em 2022. Quis virar império e se isolou.